Olá, sou português (desculpem-me as pequenas diferenças na escrita) e é a primeira vez que envio um "post" no fórum.
Este foi o único assunto que li no fórum (para além das regras) e acho que houve uma grande quebra no tópico quando o "Ego" introduziu um novo tema, que até me interessa muito, que chamo "Mundo Orwelliano". Recomendo que o "Ego" leia alguns livros de
George Orwell, nomeadamente
"1984" (outro livro que li do mesmo autor tem o título "Triunfo dos porcos" em Portugal, no Brasil é "Revolução dos Bichos"). Quase no final desse livro ("1984") há uma cena que pode apresentar um problema na teoria da relatividade absoluta (o que por si mesmo é um paradoxo) de "Ego", nomeadamente moral.
Vamos comparar algumas ideias escritas pelo "Ego" e com aquilo que Orwell escreveu.
Citação de Ego:Se alguém acredita que pode voar, significa que ele está mentindo? Na minha opinião depende. Se na cabeça dele é verdade, como posso falar que é mentira? Só pelo fato que ele não sair do chão fisicamente?
No livro "1984" há um diálogo entre um torturador de um regime totalitarista e torturado:
Dominamos a matéria porque somos os senhores do espírito. A realidade está dentro da cabeça. Aprenderás aos poucos, Winston. Não há nada que não possamos fazer. Invisibilidade, levitação... tudo. Eu poderia flutuar no ar, como uma bola de sabão, se quisesse.
Esta é uma proposição num longo argumento
para justificar um regime totalitário. Há muitos resultados com essa concepção da "verdade está no espírito" que são mostrados no livro; por exemplo uma fotografia que servia de prova sobre a existência de uns "hereges" nunca existiu. Daí "quem domina o passado domina o futuro; quem domina o presente domina o passado".
Citação de Ego:Acredito que a verdade é muito relativa. E é completamente sincero se contradizer.
Eu acredito que nunca poderemos saber se conhecemos a verdade do real, e há muitos motivos para isso: existem várias deficiências que podem atingir o nosso corpo, limitando o nosso discernimento, obtenção normal de informação (pelos nosso sensores) e processamento dessa informação (pelo nosso processador: o encéfalo). Não digo que não possamos alcançar uma verdade real: o que quero dizer é que
nunca poderemos ter a certeza de alcançá-la.
Penso que essa possa ser uma base para se ser céptico, mas seria insuportável transferir cepticismo absoluto na prática A síntese da teoria exposta é apenas para servir de
modelo conceptual, ou dito de outra forma, para filosofar. No entanto há um mundo que é criado pelas nossas experiência, e assim posso desenvolver um conceito de verdade, relacionando as nossas teorias com os
resultados obtidos. Agora procurei pelo termo verdade no "Vocabulário de Filosofia" de Armand Cuvillier, e há uma citação de Hamelin que talvez se aproxime daquilo que tenho em mente:
A verdade, como quer que seja definida, implica o acordo do sujeito com o objecto.
Aliás, a
ciência usa um método que permitiu alcançar vários progressos, isso porque não banalizou o conceito de verdade, mas pelo contrário, impôs limites. Se alguém diz que a verdade é relativa, devemos perguntar-nos "
relativa a quê?". Até mesmo na ciência há uma verdade relativa, mas não na concepção dada por "Ego" (que não deve ainda ter pensado na pergunta anterior), porque ela é
dependente da realidade (que podemos pensar ser uma verdade absoluta). De qualquer modo existem
experiências que são comuns à maioria das pessoas, o que sugere haver uma verdade real.
A filosofia é muito útil para criarmos
modelos abstractos, mesmo por motivos práticos (vejam, por exemplo a matemática), mas não devemos cair no ridículo de pensarmos que isso é realidade, que basta pensar uma coisa qualquer e essa passa ser uma verdade. Com essa posição defendida pelo "Ego" estamos a defender os actos de um regime totalitarista, que deseja separar as pessoas da realidade. O que "Ego" está a fazer é o que Orwell chama de
duplipensar:
Duplipensar quer dizer a capacidade de conservar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias e aceitá-las ambas.
Citando "Ego":Claro que eu uso a lógica. Mas não vivo de lógica, nem preciso atestar a minha vida em lógicas. Não tenho necessidade de me provar ciêntificamente.
Mas, é obvio, que se eu quiser que 2+2=7, pode acontecer. Assim, como se eu quiser dizer "o sol é quadrdo" ele passa a ser quadrado. Quem é você pra me dizer que isso é hipocrisia? Como se a verdade fosse algo de verdade.
E eu tenho fé que tudo sempre pode melhorar. Sempre
.
Acho que se você acredita, é verdade. Tanto faz o que a balança diz. Se você tem fé, aquilo vai ser 1kg. Acredito realmente que as coisas mudam quando você acredita. Agora se você ficar pensando "oooh devia ter medido na balança" daí nunca vai ser 1 kg.
Sete é apenas uma palavra. Posso dar o sentido e o crédito que acreditar ao sete. Errado ou não, comparado a quem?
Se alguém acredita que pode voar, significa que ele está mentindo? Na minha opinião depende. Se na cabeça dele é verdade, como posso falar que é mentira? Só pelo fato que ele não sair do chão fisicamente?
Quando você vê uma imagem na sua imaginação, você vê com os olhos ou com a mente? Seu cérebro se comporta como se estivesse vendo uma imagem real ou uma mentira?
No livro há várias frases que vão de encontro com as frases de "Ego". Coloco mais um exemplo relacionado com o que disse anteriormente:
Na filosofia , na religião, na ética ou na política dois e dois podem ser cinco, mas quando se desenha um camião ou um avião somam quatro.
Pergunto: para quê dois e dois poderem ser cinco, se não existe qualquer
êxito ao tentarmos aplicar essa ideia? Mas queria esclarecer uma coisa, que "Ego" demonstra não conhecer. Mudando o nome de quatro para "sete": só estás a atribuir um
nome a um
conceito. Mesmo que o fizesses, as regras da aritmética seriam as mesmas e só ias mudar os nomes dos conceitos. O problema é que haveria problemas de comunicação. Um informático como eu consegue perceber essa questão.
Aplicando as ideias da relatividade absoluta, ou da verdade nas mentes, não haveria tecnologia (como os computadores e Internet). Eu preciso de conhecer os padrões de Web para poder fazer uma página Web. Preciso de saber português para falar com portugueses e brasileiros. Preciso de saber as regras de uma linguagem informática para fazer um programa informático. Eu não posso fazer decidir fazer isso com uma verdade decidida por mim.
Se eu acreditar que posso voar, então eu posso saír da janela (estou no 4º andar) voando? É uma pergunta que ponho para todos aqueles que acreditam que a verdade real está na mente de cada um. É que se há justicações que limitam a verdade real, que pelos vistos está na mente de cada um, deve haver um erro.
Como tento ser o mais logicamente possível nos meus argumentos e acredito que deve haver um método para aceitação de argumentos, talvez todo o meu discurso seja inútil para muita gente. Mas por outro lado, fico confuso como alguém pode
discutir argumentos sem usar um mínimo de lógica: senão, qual o método? Se não há método, devo declarar-me louco: ou talvez não, porque pelos visto tudo é possível e dois mais dois podem ser sete. Talvez esteja num mundo de Lewis Carroll.
Por respeito a esta comunidade, acho que se alguém não quiser seguir as suas regras não devia escrever "posts", do mesmo modo que eu, como homem, em geral não devo escrever num fórum de lésbicas. E não devo escrever em fóruns sobre princípios científicos, ou outros temas, que não entendo, só para marcar presença.
Os
fóruns de discussão servem para colocar pontos de vistas ou informar e haver crítica sobre eles, em geral por meio de debate, algo parecido como os fóruns da Grécia antiga. Isto tem utilidade. Se escrever por nenhum motivo, estou a ser inútil. Se escrever sem esperar mudança, não há sentido em discutir e não promovo debate: portanto, estaria a ser inútil. Cometer essas acções é um desrespeito pelos outros e por si mesmo.
Tentemos ser úteis.
Por fim, sugiro que mantenhamos o tema proposto pelo Erivolton, e a questão sobre Gilgamesh parece muito pertinente. E lamento que Erivolton se tenha afastado do debate. Acho que ele teve medo de encontrar algo de perigoso à sua fé.
Cumprimentos a todos.