Sob efeito anestésico, ou seja, com um sossega leão na veia, passa-se horas e horas em "off". Durante esse período, na grande maioria dos casos, o indivíduo experimenta um estado de "inesistência" não muito diferente do que experimentaria caso estivesse morto. Não encaro a morte com pesar. Com ela, tudo se vai - percepção, emoção, razão... Tudo. Se por um lado perderemos as coisas boas, ou seja, tudo aquilo que nos agrada, por outro lado, também perderemos as coisas ruim, como as dívidas, as dores, as frustrações e tudo aquilo que nos desagrada. A ideia de continuidade é que nos deveria provocar pavor. Isso porque além da insuportável sensação de impotência a que seríamos submetidos com a morte, já que não nos seria mais possível continuarmos com nossos projetos, teríamos a infelicidade de testemunharmos o sofrimento daqueles que deixamos e que nos amavam. Eu não gostaria nenhum pouquinho de continuar existindo após minha morte. Não mesmo, definitivamente! Imagine uma noite maravilhosa e restauradora de sono. Agora imagine aqueles instantes que precede o despertar. Você não gostaria de dormir mais um pouquinho? Por que? Porque dormir é a terceira coisa mais maravilhosa que existe, perdendo somente para o comer e para o copular. Com a morte se experimentará eternamente a terceira coiza mais maravilhosa da existencialidade. No entanto, não poderemos mais experimentarmos a segunda nem a primeira. Por outro lado, também não mais sentiremos fome nem a necessidade de transarmos. Cá pra nós, até mesmo "Deus" se cansou! Por que teríamos de durarmos pra sempre? Não. Um ateu não tem porque sofrer com a morte de um ente querido. Gostaria de saber o por quê de todo aquele chororô nos velórios e nos enterros. São ateus os que choram? Não. São os teistas que choram. Isso porque, lá no fundo, bem no fundo, eles acreditam mas não acreditam muito.