Eu não vejo problema algum em se tirar um ditador apenas quando for financeiramente viável/promissor. Qual outro país por acaso seria um herói do mundo, depondo ditadores sem esperar nada em troca? Em vez disso, França e cia apoiavam o ditador por ser conveniente.
E daí se a França apoiava, ela é perfeitamente condenável por isso, como o foi no genocídio de Ruanda, na guerra Franco-Argelina, na descolonização da Indochina, e em muitas outras coisas. Mas ela não invadiu o Iraque, nem matou o Saddam, e é isso que está em questão.
A questão está sendo mais "falemos mal dos EUA por invadir o Iraque e indiretamente causar a morte de Saddam", já que não foram os EUA que mataram Saddam, mas o Iraque, e ninguém está colocando razões pelas quais deveria se manter o ditador lá aumentando seu poder e fazendo o que bem entendesse com o povo, nem discutindo legislação do Iraque de modo geral, apenas no caso específico do Saddam como se fosse uma estrela e merecesse regalias da lei Iraquiana atual, talvez por ter sido um monstro famoso.
Há sempre pesos e medidas diferentes quando são os EUA em cena. Por que há toda essa cobrança de um altruísmo puro e desinteressado, distribuído igualmente à todos os países com algum problema, e não há nem um décimo do "anti-francesismo" por apoiar em troca de petróleo, um ditador que matou e lesou centenas ou talvez milhares em seu próprio país, com armas químicas, incendiou poços de petróleo e etc?
Pedir altruísmo é ridículo mesmo, isso só acontece quando a própria sociedade pressiona por atitudes desse tipo, e os EUA estão muito, mas muito longe disso. Mas os EUA apoiaram também vários ditadores no passado e no presente, ignorando direitos humanos ou qualquer outra coisa que o valha. A questão não é se o Saddam era um monstro que deveria ser deposto, mas sim se ele foi realmente deposto por causa disso. Se assim for, o que duvido por causa duma simples análise histórica e geopolítica, a invasão teria alguma legitimidade ética.
A guerra contra o Iraque
foi ilegal - a ONU assim considerou, e não justificada pela razão estrita que a justificaria, a presença de depósitos de armas químicas que Saddam já utilizou no passado.
Pode-se argumentar que as armas atualmente não se encontravam lá, e logo que Saddam é inocente dessa acusação, mas essa a meu ver é como uma daquelas apelações de advogados dos piores tipos de seres, vendo picuinhas na lei para poderem inocentá-los e libertá-los.
Saddam não tinha as armas que acharam que tinha ou acusaram de ter, okay.
Menos mal. Sendo assim, deveriam em vez de ter deixado se formar um novo governo iraquiano, devolver o poder a Saddam, e pedido desculpas, e saído de fininho? É para rir, não?
Não sei, acho que consideraram como o melhor a fazer por qualquer razão, e os planos provavelmente foram os melhores que puderam fazer, ou simplesmente ruins porque americanos são pessoas e podem fazer cagadas.
Mais um motivo para perceber que a invasào foi decidida às pressas, sem preparo. Mas que evento que ocorreu em 2003 de tal magnitude que exigiu tal invasão com tamanha urgência do Iraque? Não seria a ausência dum evento no Afeganistão?
Pois é, e a polícia brasileira não deveria ir atrás de um outro grande criminoso até ter prendido, julgado e condenado algum outro que tivessem começado a perseguir antes; se algo dá errado, e mudam a prioridade, é populismo. O correto, é deixar outros grandes líderes criminosos aumentarem seu poder, enquanto se cuida especificamente de um que se decidiu atacar primeiro, de todos os detalhes, até o fim. Só depois ir atrás de outros. Senão vira bagunça, não é algo que o detetive Monk faria.
Eu não consigo imaginar um cenário realista em que não houvesse algo que pudessem achar para reclamar dos EUA como resultado de qualquer coisa que tivessem feito, de qualquer forma. Não fazendo nada, talvez fossem condenados por omissão, ou só por serem ricos mesmo, até terem multinacionais é crime agora.
Mas também não sei o que de melhor poderia ser feito, e acho que não havia ninguém mais fazendo qualquer coisa também, não só nos casos do Afeganistão e Iraque, como em muitos outros dos quais se cobra algo dos EUA.
Não é porque as pessoas muitas vezes cobram sem motivo dos EUA que eles estão certos nesta vez. Não sou um anti-americano qualquer acéfalo, só cheguei a conclusão lógica que a invasão do Iraque foi realizada às pressas, com motivos puramente políticos e econômicos, desrespeitando inúmeros tratados e políticas estabelecidas desde a Segunda Guerra Mundial para evitar conflitos arbitrários. Jogou-se a ética no lixo.
Eu não estou dizendo que os EUA estão 100% certos.
Mas o que seria certo? Deixar Saddam lá, aumentando o poder e fazendo o que bem entender para começar? Uma acusação diferente? Fazer embargos contra os países que apoiavam o ditador por razões comerciais, até que decidissem aceitar uma invasão "legal"? (enquanto ele fica por lá, numa boa, fazendo o que quer, claro)
Acho que no primeiro caso, ainda reclamariam dos EUA serem a polícia do mundo, blablabla. No segundo, também reclamariam da ética (embargos também tem que ser legais, não?), e provavelmente seria praticamente inócuo, imagino.
O simplesmente legal, seria correto, o ético a se fazer, apenas por ser legal, considerando a cinrcunstância em que se deu a ilegalidade da ação?
Claro, claro… bastava a guerra contra o Iraque ser declarada ilegal, os EUA acatarem, o Saddam continuava lá enriquecendo e fazendo o que bem entendesse com a população, claro, com desaprovação da ONU, que no entanto não aceita intervenção militar ao mesmo tempo em que países integrantes negociam petróleo com o ditador. Aí sim estaria tudo certo, porque é o que a ONU define como sendo legal.
Sim, é a ONU, se os EUA querem invadir, que façam pressão diplomática, que inspecione usando-se dos inspetores da ONU, que use sua rede de inteligência e comunique seus achados. A lei existe para ser cumprida, e os países que se dizem guardiães da lei devem dar o exemplo no mínimo antes de exigir qualquer coisa.
É então meio como a polícia pedier para revistar em busca de armas de dado porte, uma favela dominada por criminosos, mandando tropas de enfermeiros ou coisa do tipo para tal, ao mesmo tempo em que não aceita o desarmamento das armas que tiver agora, (nem deixarem de cometer outros crimes, ou se entregarem para julgamento, claro, nem está em questão). E tem que se ser paciente com as gangues, se contentar com sutis melhoras de colaboração por parte dos líderes, nada disso de dar prazos finais para se entregarem nem nada.
É mais ou menos como um cara que mata o vizinho na forca, pois achava que ele ia matar alguém da sua família, mas no final não acha nenhuma arma na casa do vizinho. Ah, e não chamou a polícia porque a polícia não ia fazer nada mesmo, ele era um cara mau que matou pessoas no passado e devia morrer. E lógico, quem monta o julgamento do vizinho sou eu, já que invadi a casa dele.
Eu acho que é mais como o Saddam, cujas barbáries são bastante conhecidas, ser deposto e entregado à justiça do próprio país.
Se for para fazer alguma analogia, acho que seria, burocraticamente falando, algo irregular, meio como invadir a casa de um traficante à procura de drogas ou armas, não achar um dos dois, mas como ele sabidamente é traficante de qualquer forma, prendê-lo da mesma forma. Advogados, claro, protestariam, teriam amparo legal para defender o traficante, não questiono. Assim como Marcola pode se casar na cadeia e ter encontros sigilosos, Champinha seria libertado esse ano ou antes, não fosse ele poder ser considerado pinel, etc. Tudo legal, logo perfeitamente correto e ético. A diferença é que nesses casos a lei favorece os criminosos de forma mais autônoma, e não tem apoio direto por parte dos "juízes" (não que me lembre), como no caso do Iraque e suas relações internacionais.