*ressussitando*Um delegado da Polícia Civil é executado com um tiro na nuca em plena luz do dia, numa área considerada nobre da cidade, diante de câmeras de segurança. Não é a Chicago dos anos 20. É o Rio de Janeiro. A polícia investiga a hipótese de a execução do delegado Alcides Iantorno, ocorrida na manhã deste domingo, ter sido praticada por pistoleiros a mando de milícias (grupos armados formados por policiais ex-policiais civis e militares) que já dominam 115 favelas do Rio e estão infiltradas em pelo menos oito batalhões da PM. Depois do tráfico, é o novo exército paralelo, só que incrustado dentro da própria polícia e, por isso mesmo, muito difícil de se combater porque conta com o corporativismo e até mesmo a cumplicidade de agentes do Estado.
Este blog tem alertado sobre o risco que representa a ação das milícias para o estado democrático de direito. A Secretaria de Segurança já havia aberto uma investigação que apontou cerca de cem policiais envolvidos com as milícias, mas a punição deles é mais lenta do que corrida de jabuti. O próprio secretário Beltrame diz que é complicado investigar as milícias (veja entrevista a Reuters de fevereiro do ano passado).
É a primeira vez nos últimos 30 anos que um delegado de polícia é executado dessa maneira, sem chance de defesa, no Rio de Janeiro. O delegado João Kepler Fontenele me disse agora há pouco que não lembra de nenhum caso semelhante e ele tem uma memória afiada dos últimos 49 anos na segurança pública.
- Fiquei muito chocado com esse crime, sobretudo porque o delegado era meu amigo, um sujeito de grande coração e extramamente dedicado ao trabalho policial - afirmou o delegado Kepler.
O único caso de delegado de polícia executado no Rio que me recordo foi o de Octávio Gonçalves Moreira Júnior, que atuava no DOPS paulista, na repressão política, e foi assassinado por subversivos em Copacabana, em 1973.
O assassinato do delegado coloca em xeque todo o sistema de segurança pública do estado. É uma afronta ao Estado e à sociedade. A audácia os bandidos não pode contar com a complacência de nenhum cidadão e muito menos de qualquer policial de bem desta cidade (dos maus não dá para se esperar nada mesmo).
Dada a gravidade do caso, considero que o Ministério da Justiça deveria determinar que a Polícia Federal entrasse na investigação da morte de Iantorno, em apoio à Polícia Civil do Rio. Deveriam formar uma força-tarefa para esclarecer o crime e aproveitar para fazer uma limpa na polícia do Rio. Até porque a PF é encarregada de investigar segurança clandestina em sua Delesp (Delegacia de Segurança Privada), um crime geralmente praticado por policiais e ex-policiais. Milícias nada mais são do que segurança clandestina só que formada por pistoleiros de aluguel.
http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/reporterdecrime/post.asp?t=blog_propoe_forca-tarefa_para_investigar_morte_de_delegado&cod_Post=103291&a=135(parece que a cegueira romântica e conveniente que tratava estes bandos de criminosos como defensores da ordem e dos
cidadãos de bem está se curando; temo apenas que seja muito tarde para que se comece a enxergar o problema como ele é

)