Você perguntou as razões filosóficas e eu dei. Não acredito que tirar a vida de alguém, quem quer que seja, o que quer que tenha feito, vá resolver problema algum. Mas isso é uma postura, não um argumento. Por isso eu evito citá-la.
É que você disse antes que tinha "razões" de ordem filosófica. Mas como você mesmo disse, isso não é argumento, e você não deveria usar esta postura para definir se você será contra ou a favor da pena de morte.
E depois, eu também não acho, como já disse, que a pena de morte vá resolver algo. Ela serve para impedir que sejam cometidos crimes por pessoas altamente desviadas do padrão normal de comportamento pacífico.
Eu diria que não tenho certeza que exista alguém que não pode nunca ser recuperado. Em meus momentos de maior pessimismo acredito que realmente alguns não tenham recuperação. Mas eu não me outorgo essa autoridade toda a ponto de tirar a vida de alguém que de outra forma pode continuar preso sem maiores danos à sociedade.
Mas o tamanho da periculosidade de alguns supera a segurança de qualquer sistema carcerário.
Probabilidades não cometem crimes, pessoas sim. Se eu fosse prender em termos de probabilidade, haveria poucos moradores de favela ao meu redor amanhã e quase nenhum político nos gabinetes.
Não! Temo que você tenha perdido o foco do que eu disse antes.
Pense não em pivetes de mercado ou em ladrões de galinha. Veja o caso do champinha, no texto que coloquei. Ou então os casos de crueldade extrema que se vê repetidamente.
Ao ler sobre a trajetória de champinha, pode-se afirmar com bastante segurança (mesmo sem ser especialista, e isso é importante) que ele tem uma probabilidade de 99,999% de cometer novos crimes assim que for solto. É a casos como o dele que eu me refiro quando digo que pessoas com alta probabilidade de voltar a cometer crimes devem ser punidas com a morte.
E sobre os moradores de favela, acho que não foi uma boa analogia. Mesmo nas mais violentas comunidades do mundo os criminosos representam uma parcela pequena da população total. E o mais importante, digo que só o fato de alguém cometer um crime realmente cruel serve como indicativo de um alto desvio comportamental. Apenas esses que já cometeram crimes cruéis estão dentro desta análise das probabilidades de reincidir.
Vamos inverter essa dança. Você me diz o que acha que é Justiça e Vingança e eu comento. Seja mais claro do que o que já falou antes, sobre uma ser mais socialmente aceitável do que a outra.
Sem querer ser repetitivo, mas acho que também deixei bem clara a relação entre justiça e vingança.
Perceba que a minha definição depende do caráter do crime, se este é ou não reparável. Nos casos em que é reparável, a justiça é que se arque com os danos.
Nos casos em que é irreparável, simplismente não há o que fazer, por definição, para que se arque com os danos. Deixar alguém impune só porque não se pode reparar o que fez é absurdo, então, nos casos em que o crime cometido é irreparável (assassinato e estupro, por exemplo), digo que a justiça é indistinguível de vingança.
Resumindo: vejo que só há diferença entre justiça e vingança nos casos em que o crime é reparável.
Penso que deixei bem claro a diferença entre Justiça e Vingança, mas vou repetir para a sua conveniência: Justiça é ponderada, impessoal e imparcial, baseada nas leis aceitas pela sociedade. Vingança é desregrada, passional e pessoal. Por que considero que a pena de morte tem conotações vingativas? Porque considero que a pena de morte não é proporcional ao crime cometido e não tem função alguma de reabilitação, o que até onde entendo são os princípios que norteiam o nosso Código Penal.
Um momento! Se a sua definição de justiça é, resumindo o que você disse, "aquilo que está na nossa lei", então eu acho que estamos falando de coisas diferentes. Quando perguntei o que você entende por "justiça", esperava uma opinião baseada na
sua moral, aquilo que você considera certo.
A não ser, é claro, que a sua moral seja assim tão dependente do que está escrito na lei.
Se eu entendi direito a sua definição de justiça então você consideraria a pena de morte justa se o estado aprovasse amanhã uma lei que a legalizasse?
É uma opinião leiga e provavelmente não representa o pensamento dos juristas sobre o assunto. Talvez você devesse perguntar a um se quisesse uma definição mais precisa.
Acho desnecessária a participação de pessoas especializadas na conversa, justamente porque penso que aqui está em vigor o que cada um de nós pensa sobre o assunto.