Até inventarem a tecnologia de fusão nuclear, acho que não teremos nada melhor do que biocombustíveis para mover nossos carros. Se bem que se você quer a minha opinião, o problema não é a energia... são os carros! Podíamos todos andar de bicicleta, uma tecnologia mais limpa, mais saudável e mais segura 
Falou em fusão nuclear??
Vejo com muito menos otimismo. Rigorosamente, tecnologia de fusão nuclear já há, e muita; até para a controlada. Mas não se conseguiu ultrapassar o limite de ignição. Pela maneira extremamente gradual que tem evoluído o avanço no terreno da fusão, é bem provável que qualquer primeiro reator funcional com aproveitamento energético possa fornecer bem menos de alguma figura como 1% de toda energia envolvida no processo (ao contrário de qualquer respaldo que o medo que a Fabi tem de tais reatores possa ter, é dificílimo iniciá-los e muito difícil, também, mantê-los operando, realimentando-os com grande quantidade -- a maior parte, considerando um, futuro, com aproveitamento líquido -- da própria energia que produzem). Qualquer expectativa realista será de que, no início, o rendimento dos primeiros reatores será tão baixo que não se fará com eles mais do que substituir, aos poucos, os outros das instalações de fissão. Não deverá ser, de uma hora para outra, o 'transbordamento infinito' de energia que, normalmente, se espera e biocombustíveis deverão continuar movendo nossos veículos muito tempo ainda depois. E só levando este fator em consideração, porque há muitos outros que pesam.
Para nos ligarmos à realidade dos fatos energéticos, consideremos a enormidade de energia solar que nos chega e confrontemo-la com nossa exígua capacidade de aproveitá-la. É um ótimo exercício de aquisição de sentido tecnológico avaliar o quanto quase a totalidade da energia que usamos é ("diretamente"; considerando as possíveis origens de núcleos pesados, *toda* energia que usamos poderia ser considerada de origem estelar) solar, ou seja, fusão por confinamento gravitacional, e perceber que toda a evolução da tecnologia de produção/conversão de energia não é mais que um simples constante aprimoramento dessa capacidade de aproveitamento solar, pela redução dos períodos cíclicos de aproveitamento e/ou pelo aumento do rendimento do mesmo. A FTC *por qualquer confinamento não gravitacional* seria, revolucionariamente, uma quebra desse paradigma, porque quase toda energia que usamos é FTC de confinamento gravitacional.
Uma plantação de cana, milho ou qualquer vegetal com vistas à produção de combustível não é outra coisa que não um grande coletor solar de baixíssima eficiência. Quando entendido assim, pode surgir a questão: então, porque não cobrir a mesma área com coletores 'heliodinâmicos' que não se baseiem em pobre conversão química fotossintética carecedora de um ciclo muito complexo de aproveitamento energético de baixíssimo rendimento, sejam do tipo 'diretamente termodinâmico' (a vapor) ou fotovoltáico? Muitos podem responder: porque são tecnologias de cara instalação. Sim, são. Mas é mais que isso: são de cara operação e manutenção, também, menos confiáveis e mais problemáticas em diversos sentidos só para mencionar alguns problemas mais explícitos. Assim, embora de rendimento bem maior, não são viáveis em substituição ampla da matriz. Isto é um fato que, do ponto de vista atual, só uma serendiptia poderia alterar.
Há uns 15 ou 20 anos, li um artigo que apresentava uma avaliação de que uma área em alguma região tropical ou equatorial de 30x30 km coberta de coletores solares seria suficiente para suprir TODAS as necessidades humanas naquele momento. Não é um cálculo difícil desde que os dados sejam exatos, realistas e confiáveis. Isso dava, de cabeça, arredondando, menos de 1m² de área irradiada por habitante planetário, uns 100W de potência disponível por cada e cerca de 2,4KWh/dia de energia per capita, números que indicam a enorme privação energética por que passa a humanidade. Interessante que fala-se muito em carências alimentares, hídricas e outras mas não nessa carência energética de que cada humano, em média, dispõe de tão pouca energia. Todos esses números devem ter mudado muito nesses últimos 20 anos, mas a privação energética não deve ter melhorado substancialmente. A complexidade que torna tal aparentemente simples execução (900 km², talvez o dobro ou o triplo disso, agora) inexequível é grande demais para abordar de modo fácil, mas é um fato. Vai desde dificuldades de produção industrial, obtenção, processamento e uso de matérias-primas, operacionais, de manutenção, de inconstância irradiante, de armazenamento, transmissão, a própria substituição de uma gigantesca matriz, compatibilizações de todos os tipos... Tudo que parece tão simples quando olhado isoladamente ou de longe mas que, de perto e no conjunto, é o peso da dura realidade de que as coisas não são fáceis como a maioria pensa.
Também a energia eólica é solar e, nesse caso, a perda de "massa" é bem mais rápida que a que se observa na transição de níveis tróficos (lembrando que o que se tira da cana, por exemplo, está bem no início dessa cadeia), sendo que, no final, todo o potencial eólico do planeta, que não passa de uma pequenina dissipação, não é nada para a boca faminta da humanidade. Todavia, irresponsavelmente, tem-se propalado a ideia de que tal "fonte de energia" é um tipo de "grande solução". Talvez cataventos sejam vistos como esteticamente bonitinhos e amigáveis para quem não é Dom Quixote...
Bom, tudo isso é só para visualizar um pouco melhor as dificuldades e as possibilidades.