Unk, e se eu te disser que não são nem um nem dois os meus amigos praticantes?
Aquele que eu me referia no CC também está muito mal, pensei que de sábado ele não passava. Nunca vi ele se cortar tanto e disse que 'Lelinha, não garanto falar contigo amanhã'. Mas tá vivo ainda, esse é teimoso, mesmo sem tratamento acho que consegue viver, ao menos mais um tempo.
Perguntas: como é a relação dele com os pais? O que ele faz da vida? Pelo quê ele se interessa? Como ele se relaciona com as outras pessoas? P.S.: aliás, vale para o(s) seu(s) outro(s) amigo(s) também.
Pergunto porque procuro me basear na minha experiência. Eu sempre fui um covarde de marca maior (e sou até hoje) e essa é uma das principais razões para eu não ter levado adiante a idéia de me suicidar quando ela me ocorreu (e houve uma época em que eu pensava nisso quase todo dia). Para mim o maior problema seria garantir uma morte rápida e indolor, porque eu nunca me importei tanto com a idéia de morrer, mas sempre tive pavor da agonia. Já esse seu amigo parece não se importar tanto com a dor, então um dos entraves que eu tinha ele já não tem.
Outra coisa que eu sempre pensei era que o método escolhido não poderia complicar a vida de ninguém. Por exemplo, eu não me jogaria numa máquina se o operador/dono/etc pudesse ser parcialmente responsabilizado. Eu me sentiria culpado se achasse que poderia encrencar alguém por causa disso, então eu não conseguiria fazer isso. Só que alguém mais egoísta não se preocuparia muito com isso. Por isso a pergunta de como ele se relaciona com os outros.
A família também é uma coisa que conta bastante, pelo menos no meu caso. Enquanto meus pais estiverem vivos é certo que não farei algo assim. Se a notícia da minha morte chegasse aos meus pais, tenho certeza que o coração da minha mãe não aguentaria. E acho que meu pai morreria de tristeza pouco depois. Só de pensar nisso (que eles morreriam por minha causa) eu tenho calafrios. Mas alguém que não liga muito para os pais, não se importaria muito com isso.
Acho que essa questão dos pais é parte de uma questão maior: os laços que cada um tem com as outras pessoas. Se a pessoa tem muitas amizades, se dá bem com outras pessoas, acho que por pior que ela esteja se sentindo não há risco de que ela se mate. Mas se ela se isola dos outros, acho que o risco é grande.
No meu caso, acho que ano em que estive pior foi um ano em que fiz muitas amizades, muitas das quais perduram. As minhas amizades daquele ano foram meu principal ponto de apoio (com a diferença que elas nunca souberam o que me passava pela cabeça), e por isso que entendo o fato de seus amigos se apoiarem em você. Mas isso não basta para resolver o problema deles. Além de voltar a tomar os remédios, acho que eles precisam mudar alguma coisa em suas respectivas rotinas. No meu caso, houve uma mudança tanto no trabalho quanto nos meus hábitos, o que fez com que eu me sentisse muito melhor. Então, o conselho que eu daria para eles se estivesse no seu lugar, seria o de interagir mais com diferentes pessoas (sem ser via internet), trabalhar em coisas das quais gostem mesmo ganhando pouco (você acaba se sentindo útil, e isso é algo maravilhoso). Além disso, procurar entender melhor as outras pessoas e seus pontos de vista (em suma, empatia). A empatia ajuda você a entender e aceitar melhor o mundo como ele é, e isso faz uma boa diferença. Se não fosse por ela eu provavelmente diria: "essa história de depressão é pura frescura/coisa de vagabundo. Dá uma enxada na mão do indivíduo e manda ele capinar um lote por dia que a depressão acaba rapidinho".
A propósito, não era a Danieli que contou que também se automutilava? Se for, seria interessante perguntar como ele fez para parar com isso. Pode ajudar seu amigo.