Há 37 anos que frequento as prais do Rio de Janeiro, onde praticamente nasci nadando. Sempre respeitei muito o mar nesse tempo todo. Sabia quando dava para brincar e quando não dava. Ontem, infelizmente, esqueci esta lição.
Estava em Ipanema com a família. Havia placas indicando que o mar estava agitado e perigoso. Não que eu precisasse de placas - dava para ver as ondas quebrando forte. Pois insisti em mergulhar. Fui jogado para lá e para cá algumas vezes sem gravidade. Saí, um pouco sujo de areia. Como os chuveiros na beira estavam sendo desligados (já era final da tarde), resolvi que voltaria só mais um pouquinho para me limpar.
Foi quando uma onda enorme quebrou em cima de mim.
Não tinha como mergulhar, não tinha como furar, como fiz nas outras vezes. Só deu tempo de me fechar numa bola, com a cabeça entre as pernas e esperar ser jogado para longe, no que chamamos de "caixote". Pois bem, a onda quebrou em cima de mim com a força de um martelo. Me levantou e me arremessou no chão, corpo para o lado, perna esquerda para o outro, num ângulo esquisito. Uma dor lancinante.
A primeira coisa que pensei foi: "fodeu, quebrei a perna". Mas logo vi que não era isso.
A segunda coisa que pensei foi: "fodeu, não vou conseguir nadar", mas tive força o bastante nos braços e na perna direita para subir e tentar sair.
A terceira coisa que pensei foi: "fodeu, não vou conseguir sair sem levar outras ondas na cabeça", mas fiz um esforço e voltei para a areia me arrastando. Foi quando percebi que machucara o pulso esquerdo também.
Agora estou com o joelho bem machucado e andando de bengala. Hoje mais tarde vou tentar ver um médico para ver se não tem nada mais sério. Tudo isso porque desrespeitei o mar uma vez em quase 40 anos.
Nunca mais.