Eu vejo três "lados" na história.
O da polícia, que tende naturalmente a defender o procedimento utilizado e atribuir aos manifestantes uma forte suspeita de que fossem um grupo previamente organizado e com o objetivo claro de causar depredação e agredir pessoas na cidade;
O dos manifestantes, que tendem a negar todas as acusações e atribuir à polícia uma postura de truculência e abuso de poder;
E o que realmente deve ter acontecido, que deve estar em algum ponto entre as duas versões, e que também deve estar próximo às declarações proferidas pelo juiz após ouvir os dois lados e emitir a sentença.
Aparentemente, o que deve ter acontecido de fato é algo próximo ao seguinte: alguns grupos de manifestantes se juntam em grupos de Whatsapp e marcam de comparecer à manifestação. Um oficial do Exército, trabalhando no setor de inteligência e com a missão de identificar grupos de black blocs passa a interagir nesses ambientes virtuais para se infiltrar. O grupo têm um discurso tendendo ao extremismo, o que deixa o tal oficial alarmado, achando que de fato são violentos "na vida real". No dia marcado, ele combina a ação com a polícia para desmontar a "organização criminosa". Chegando lá, a coisa toda é bem diferente do que ele esperava, e quem chega é basicamente um bando de pós-adolescentes que fugiriam de uma barata. Como a operação já está montada, ele prossegue mesmo assim, levando o grupo ao encontro da polícia e proporcionando a abordagem. A polícia supõe que realmente há elementos fortes para efetuar prisões por associação criminosa, afinal, se não houvesse o oficial teria interrompido a operação. Eles fazem o show de intimidação costumeiro, talvez fazendo reais referências a ditadura e coisas do tipo, para provocá-los, e levam todos para a delegacia. No dia seguinte, o juiz apura o caso e percebe que na verdade as suspeitas foram exageradas e que não há elementos concretos suficientes para alegar que fossem uma organização criminosa e que, portanto, as acusações sob as quais foram presos não se sustentam.