Antes de mais nada, quero deixar claro que discordo da medida tomada no escritório citado anteriormente.
Pessoal, dê uma olhadinha no fórum, só uma vez. Notem quantos tópicos foram criados e bastante respondidos com esse mesmo tom agressivo, essa pretensa superioridade moral, ética, intelectual, nesse mesmíssimo molde “raça forte”. Vejam quantos tópicos só para perguntar se ateus são “mais” e tantos outros tentando “provar” que somos melhores, “mais fortes”, que os outros.
Não existem palavras mais doces para perguntar: isso é hipocrisia ou falta de percepção?
Sinto muito, Luz, mas nao é o que percebo lendo o fórum. Por exemplo, havia um tópico em que se perguntava se os ateus eram mais inteligentes que
os teístas. A grande maioria das respostas dos foristas foram negativas. Essa afirmacao sua parece mais um espantalho.
Os discursos das minorias são todos muito semelhantes – o que falta é identificação – todos desejam as mesmas coisas: reconhecimento, respeito, aceitação.
Eu também sou branca e tenho uma filha branca que estuda nas melhores escolas que eu posso pagar. Meu vizinho preto, não. É possível que na hora do vestibular o filho dele, que estuda em escolas públicas, sem metade do preparo da minha filha, roube a vaga dela.
É injusto isso, porque me sacrifico para pagar uma escola cara, não tenho culpa de ser branca, nunca tive preconceitos, nunca prejudiquei ninguém, nem tenho responsabilidade pelo que meus antepassados fizeram. Pois é, nem meu vizinho tem culpa.
Até aqui tudo bem. Mas em seguida:
Azar o nosso que tivemos filhos brancos logo numa época de quotas – alguém tem que pagar a conta. Ao longo da história foram os pretos que pagaram, e ainda pagam – o meu vizinho não pode colocar o filho numa escola melhor.
E eu não vou fingir que a cor da pele dele e toda a história que está por trás dessa desigualdade não tem nada a ver com isso. Tem sim – não há culpados hoje, mas há uma conta a ser paga. Para que uns saiam ganhando, outros vão ter que sair perdendo. É como as coisas são.
Isso é uma falsa dicotomia: quem disse que "para que uns saiam ganhando, outros vão ter que sair perdendo." é necessariamente verdade?
Você está tratando isso como um jogo de soma zero, o que nao é necessariamente verdade. Nesse caso específico, é bem fácil imaginar mecanismos
que favorecessem tanto a uns quanto os outros (melhorias no ensino médio público, bolsas de estudo em universidades particulares, etc.)
Essa falácia, na verdade, está na raiz da controvérsia sobre as cotas: um lado afirma que o acesso ao ensino se trata de um jogo de soma zero.
O outro lado afirma que nao.
Não estou sendo hipócrita – eu também perdi a minha vaga. Uma pessoa preta entrou no meu lugar, quando se formar vai ter maiores condições de encontrar uma vaga melhor remunerada no mercado e provavelmente pagar um boa escola para seu filho, que tomara não precise mais das quotas quando chegar sua vez. Em vez de reclamar estou me esforçando mais.
Tudo bem que esse discurso de “raça forte” é desnecessário. Será mesmo? Com todo o discurso feminista ainda ganhamos menos e somos mais exploradas, com tanta ou mais competência que muitos homens. E num primeiro momento, quando as mulheres ingressaram no mercado, muitos homens saíram perdendo – hoje, acho que podemos dizer que todos ganharam com isso.
Sem querer, você acabou de minar o seu próprio argumento: se atualmente as mulheres estao competindo com os homens no mercado de trabalho, entao
o que ocorre é que o critério de selecao está deixando de ser o sexo, e passando a ser a competência - o que o oposto do que ocorreria com as cotas.
O discurso da "raca forte" nao só é desnecessário: é equivocado também, além de perigoso (e se fossem brancos dizendo: "Raca branca! Raca forte!"?).
Até onde sei, nao existe um conceito preciso do que seja raca, e as diferencas fisiológicas entre pessoas caracterizadas como de "racas" diferentes sao
mínimas. Nao existem "racas fracas" ou "racas fortes".
Para arrumar a casa é preciso bagunçar primeiro, tirar as coisas do lugar – dá trabalho, há perdas, quebram-se coisas importantes, mas o resultado final beneficia a todos – a não ser os que preferem viver na sujeira a não ter que fazer nada.
Novamente, você está partindo daquele argumento falacioso da soma zero. Por exemplo: compare o nível de desigualdade econômica nos EUA no
comeco do século XX com o nível atual (veja, por exemplo o seguinte - e extremamente interessante - artigo:
http://delong.typepad.com/sdj/2007/08/slouching-tow-2.html. ) Em algumas décadas os EUA (e grande parte dos países do primeiro mundo) realizou
uma grande redistribuicao de renda. Nesse mesmo período (exceto durante a depressao) a economia americana experimentou um crescimento
vertiginoso. Todas as classes se beneficiaram. Você soube de alguma revolucao socialista nos EUA nessa época? Novamente: nem tudo é um jogo de
soma zero.
As coisas demoram, são difíceis, mas devagar elas vão modificando – ainda bem - abrindo mais espaço para mais pessoas – vencendo barreiras, ultrapassando limites, exagerando muitas vezes, porque não têm outro jeito – ninguém vai ceder o seu espaço para o outro, porque ninguém quer sair perdendo, ao contrário – todo mundo quer levar vantagem.
Quando é o outro que leva vantagem a casa cai – claro, mas só até a gente olhar direto e perceber que não tem vantagem nenhuma do lado de lá, muito ao contrário. Não são nem de longe raras às vezes em que as pessoas levam vantagem por serem brancas e não vamos fingir que isso é mito – é a realidade.
Os pretos não estão levando vantagem nenhuma com as quotas, estão apenas ocupando um espaço que, infelizmente, alguns brancos vão ter que perder – não há espaço para todo mundo e nem sempre vence o melhor. Vocês acham que as primeiras mulheres tinham mais capacidade que os homens, preparados a vida toda para o trabalho que elas ocuparam?
Tinham sim! O problema é justamente que mulheres competentes deixavam de ser contratadas para dar espaco a homens menos competentes.
As primeiras mulheres a entrar no mercado de trabalho foram as secretárias. Isso em parte porque muitas mulheres demonstraram uma capacidade maior
do que os homens para a datilografia. Nos anos 50 e 60, época dos primeiros
main frames, muitos destes eram operados
por mulheres, pois essas demonstraram maior
finesse para lidar com os cartoes perfurados da época. Novamente: você está minando o seu
próprio argumento.
As circunstâncias, na época, que as prevaleceram, até hoje pagamos o preço – mas felizmente, mesmo com toda a desigualdade, temos maior liberdade, campo de ação, podemos comandar nossas vidas, fazer escolhas, pagar a escola das nossas filhas e dar a elas as condições para que subam mais um degrau.
O mesmo, tomara, vai acontecer com o filho do meu vizinho – quem sabe daqui cem anos.
Eu não sou contra as quotas, não. Porque a verdade é que o ensino público não vai melhorar tão cedo nesse país e os negros, frutos da história, que pesa sim, vão continuar na cozinha dos brancos se não forem colocados na marra, dentro das salas. É um processo difícil, complicado, que talvez não dê os mesmo frutos que as mulheres colhem hoje – mas é uma idéia. Não consigo pensar em nada melhor a curto prazo e o problema é urgente – precisa ser agora. Demorou.
Sou totalmente a favor de se colocar todas as minorias no mercado de trabalho. Mas antes: defina "negro".
Poderia ficar páginas aqui falando do assunto, mas se não me fiz entender – o meu ponto de vista, e é claro que posso estar enganada – seria perder um tempo precioso, pois tenho contas as pagar no final do mês, ainda bem –vou trabalhar.
Abraço a todos e peço que me perdoem o tom duro, mas não consegui encontrar outra forma de falar. Não quero escandalizar ninguém, mas preciso falar – é a única ferramenta que tenho. Não se muda a mentalidade se não for com um pouco de agressividade – os pretos estão certos, agora é a hora. Eles não podem deixar o momento passar – já passou tempo demais.