Quando digo que sou ateu sempre aparece alguém para dizer que, seu eu estivesse às portas da morte, começaria a rezar. Pois bem, isso não é verdade, pelo menos comigo. Eu estava viajando do Rio para Porto Alegre de ônibus quando, de madrugada, o motorista perdeu o controle (provavelmente tenha dormido) e atravessou para a pista contrária. Senti um forte estrondo quando o veículo ultrapassou o canteiro central e invadiu a estrada na contra-mão. Pensei: Nessa velocidade, ou batemos de frente com outro veículo ou vamos capotar. Tive certeza que morreria. Tudo foi muito rápido, mas deu pra ouvir um monte de gente gritando, outras rezando e eu só ficava preocupado com meu filho que era pequeno na época. Era como se eu fosse um espectador, impotente para modificar o evento que causaria a minha morte (e de outras pessoas). Mas, em nenhum momento, tive qualquer desejo de pedir ou suplicar a alguma entidade pela minha vida. Por sorte o ônibus não bateu em nada e nem capotou, apenas saiu da estrada e teve a parte de baixo bastante danificada. Mas foi estranho descobrir como se pode ser extremamente racional mesmo quando tudo parece perdido.