É acho que a questão de o suicídio causar dor e sofrimento na família não é uma argumentação válida. Ou então poderiamos dizer que o meu homossexualismo deve ser impedido e tratado como crime, pois esse causa em meu pai, que é muito machista e homofóbico, dor, sofrimento e vergonha moral. E tem centenas de outras coisas que fazemos que podem causar sofrimento eu outros.
Mas como para mim o que vale é o desejo e interesse individual. Tanto minha orientação sexual, como minha autonomia para morrer a hora que bem entender, independem da sociedade. E não acho que essa mesma sociedade deva punir um amigo meu, por exemplo, que se despusesse a me ajudar, nem que fosse me arrumando uma droga que matasse de forma rápida e indolor.
Não consigo fazer a comparação. A homossexualidade é uma condição da pessoa e se causa sofrimento é porque é vista com discriminação pela família, algo que infelizmente acontece e precisa ser trabalhado pela família.
Mas nada comprova que o desejo de suicídio seja uma condição da pessoa, ao contrário - tudo indica que seja uma fase transitória, sintoma de uma profunda depressão ou algo semelhante, que, ao menos, teoricamente, pode tentar ser revertido, para benefício da própria pessoa, inclusive - não apenas da família.
Você está partindo do pressuposto que o desejo de suicídio seja uma decisão "racional" em plenas capacidades de raciocínio - eu parto do pressuposto contrário. Que deve ser encarado PRIMEIRO como uma disfunção orgânica onde a pessoa, teoricamente, não está em capacidade de avaliar por si mesma e só pode contar com os outros.
Não vejo porque descartar a possibilidade, se ela existe, onde a vida está em jogo. Não tem volta. É um direito que, ao menos, devemos oferecer à pessoa. E se ela estiver realmente doente só poderá contar com aqueles para quem a sua existência faz diferença.