Entendo assim:
Salvação se dá em duas dimensões: aqui, quando se tem a paz de consciência pela prática da ética e do bem, na convivência com o semelhante. Isto gera um estado íntimo de harmonização com a vida e como consequência, traz a saúde física e mental. Bom se diga, isto é extremamente difícil.
"Harmonizada" ou não, ela vai continuar aleijada, cega, com câncer, pobre, esfomeada etc.
Se for deficiente mental, vai continuar doida.
Para quem acredita numa vida após esta vida, o mesmo estado anterior, acrescido de indizível euforia ao receber a aprovação dos entes superiores, nesta nova dimensão.
Esta euforia que a pessoa só vai sentir depois de morta não se aplica ao tempo em que ela está viva.
Para avaliar certas propostas que a vida apresenta, com um mínimo de senso e profundidade é necessário que a criatura tenha enfrentado o sofrimento e a ansiedade de conhecer a verdade sobre as questões existenciais. Sem isto:
- O jovem sabe que vai morrer mas vive como se fosse imortal.
- O velho torna-se irônico e amargurado pela falta de respostas.
O jovem ainda terá, ao longo da existência, oportunidades de observar, aprender e se conhecer como ser único perante o Universo, com idiossincrasias, angústias e sonhos que guarda e a custo, descobre e revela.
Ao velho resta a sensação de uma vida cujas realizações materiais não preenchem o vazio da alma e o medo do porvir.
Mesmo assim, as grandes transformações da alma se dão por ocasião da velhice. A vida empenhou anos e anos para lhe sensibilizar ante certas realidades, inutilmente; mas bastam algumas páginas de um livro ou a palavra oportuna, e tudo se transforma.
"Harmonizada" ou não, ela vai continuar aleijada, cega, com câncer, pobre, esfomeada etc.
Se for deficiente mental, vai continuar doida.
Sim, tudo isto... mas não desesperada, infeliz e amargurada. Não é a dor, a pobreza ou a solidão que nos faz sofrer, mas a
ignorância, a arrogância o orgulho e a falta de esperança, quer dizer, o desespero.
Vá a um hospital de oncologia...
ainda ali verá pessoas sorrirem e cantarem.
Debaixo das pontes e viadutos, nas noites de inverno, bebe-se, canta, fazem amor... e não há suicídio. Este ocorre no conforto e na comodidade das mansões, em meio a drogas e depressão.