Eu já fui religioso. Muito religioso.
Queria virar padre, já fiquei "endemoniado", fui batizado num olho d´água (vertente) - abençoado graças a passagem de um monge chamado São João de Maria (Guerra do Contestado) -, já fiz simpatias, já me benzi, etc..etc...
Minha família tem uma atitude totalmente passiva perante a vida, possuem um medo patológico dela, ao mesmo tempo que aceitam tudo de ruim que possa ocorrer como sendo a vontade divina.
Havia enchentes no Nordeste? a culpa eram dos satélites lançados ao espaço, que faziam com que Deus ficasse bravo;
Fulana traía o marido? era culpa de um trabalho que tinham feito para ela;
Parente alcoólatra? um encosto que não larga dele e faz ele beber
Foi nesse meio onde conceitos totaltente incompatíveis entre si coexistiam graças a ignorância que ue fui educado.
Resultado?
Pirei..totalmente..levei 20 anos para consertar o estrago.
Vinte anos..uma vida!
Não me tornei ateu por revolta, me tornei ateu justamente porque não conseguia ajustar em minha cabeça a salada mística que eram suas crenças. Isso me fez pensar.
Ah.. eu adorava a série Cosmos, adorava matemática, gostava de escrever. Mas ciência era assunto proibido, era contra Deus. Gradativamente fui destruindo as barreiras que tinham colocado em minha mente, aos 18 anos poderia me considerar ateu. Pensei, estou livre, vou estudar, vou recomeçar...não consegui.
Eu não conseguia estudar.
Como já era adulto, não precisava que me pegassem pela mão e me levassem ao primeiro exorcista que aparecesse, fui ao médico, diagnóstico: depressão!
Segui o tratamento médico...por dez anos.. e nada.
Até que um dia resolvi dar fim a vida...fui me enforcar.. o banquinho quebrou antes da corda estar no pescoço.
"Santa incompetência..nem isso eu faço direito"
Resolvi me curar, levou quinze dias para eu descobrir porque eu não conseguia aceitar a religião, parei de esconder certas coisas de mim mesmo. O que eram essas coisas? Bem no fundo de minha mente, além de qualquer sonho ou pesadelo que eu poderia ter tido, estava a imagem dos deuses cultuados pela minha família:
eram meras caricaturas feitas a sua própria imagem e semelhança. Eles e sua autoridade capenga, sua arrogância, seu linguajar pobre, sua mediocridade, seu medo da vida. Eles de travestiam de Deus e o Deus a que eles se referiam era apenas o reflexo de suas próprias mentes distorcidas.
Se criaturas tão imprefeitas como eles criaram uma imagem de Deus para servir a seus próprios propósitos, porque nossos ancestrais não poderiam ter feito o mesmo?
Plea primeira vez em anos eu pude olhar as estrelas sem medo ou culpa.
Não foi revolta, não foi ódio que me levou a ser ateu, foi apenas uma imensa tristeza por descobrir que eles enganavam a si mesmos e me obrigaram a isso também.
Por favor, não quero com esse post ter a compaixão de ninguém, apenas desabafei.