Luiz: não sei se entendi corretamente, mas sua crítica se refere à situação em que o réu confessou ao advogado o crime, e este ainda o defendeu?
Não exatamente. Para mim o buraco é mais embaixo; da forma como está atualmente estruturada a sociedade, os advogados e juízes são motivados não apenas a pensar no melhor interesse de seus clientes, mas também a sistematicamente se considerarem mais importantes - e detentores de mais privilégios no campo ético - do que os demais.
Isso pode ser bom de um ponto de vista individualista e imediato, mas o resultado geral é a formação de uma (duas, se você considerar magistrados e advogados separadamente) categoria profissional que tem como um de seus principais objetivos enfraquecer a estrutura ética da sociedade; o Direito enfraquece o Contrato Social e de fato praticamente o decreta "obsoleto". Pior ainda, os profissionais da área estão entre os melhor remunerados do país, e são também dos mais prestigiados e menos fiscalizados.
Um militar ou policial que mata, mesmo em legítima defesa, é penalizado por isso. Um advogado que frauda ou encontra brechas na lei pode causar um dano muito mais amplo, mas salvo em casos particularmente escabrosos e raros, não é penalizado, pelo contrário, valoriza o próprio "passe"...
Eu considero extremamente nocivo esse divórcio entre as diretrizes do Direito e a responsabilidade ética.
Talves por você morar em Brasília tenha contato com advogados que se julguem deuses mas as coisas não são assim de modo geral. Primeiro, pouco são os bem remunerados, a maioria não ganha tão bem. Aquele advogado que cobra 400 dólares a hora é exceção.
Outra juiz não tem cliente como você mesmo diz. Ele não está lá para beneficiar uma parte. Advogados e juízes reforçam o contrato social e não o corrompem como você disse. Para mim também é uma alegação estapafúrdia de que os profissionais do direito visem enfraquecer a ética. Tem provas disso?
Juizes são sim fiscalizados por corregedorias, assim como cartórios e tabelionatos. Todo processo também passa por várias instâncias, ou como quiser, por vários juízes, o que diminui a chance de uma decisão mal fundamentada.
Encontrar brechas na lei significa operar dentro da legalidade. Você deveria culpar o legislativo por criar leis ruins e não advogados por interpretá-las e aplicá-las. Além de que, não basta o advogado encontrar qualquer brecha legal para beneficiar seu cliente, é necessário o convencimento do juiz disso.
Direito também não é algo miope e bitolado em que letra de lei tenha significado literal. Toda regra é aplicada ao caso concreto e depende de adequação a este caso. Não é por que esta escrito em algum lugar que matar alguem é crime que, necessariamente, se alguem matar outro sofrerá uma pena.
Quando ao Thufir que disse que se o sujeito está se defendendo sozinho (vamos supor numa causa de juizado especial). Obviamente o que ele falar em sua defesa também está protegido pela inviolabilidade, análogamente ao benefício que o advogado possui.
É importante que esta inviolabilidade não significa leviandade. O advogado não pode acusar alguem de ter feito algo sem provas, nem mesmo imputar condutas falsas a outrem. Se o fizer, responde por crime de injúria, calúnia, ou difamação, dependendo do caso.
Não vejo divórcio entre ética e o direito como você alega. Advogados que são "boys" de traficantes em presídios, ou aquele que instrui o cliente a praticar alguma fraude, estes sim estão divorciados e merecem uma punição. Agora são raros os casos em que eu vejo um particular fazer alguma denuncia junto a OAB e juntar alguma prova. A maioria assiste apenas. Assiste e cobra, mas não faz nada.
Nenhum sistema é perfeito ou funciona se não existir cooperação alguma. Todo e qualquer poder fiscalizador ou externo não tem meios de adivinhar todas as transgressões que ocorrem. É necessário também a colaboração de órgãos e pessoas para levar certas informações a estes órgãos.
Da forma como você põe, podemos enquadrar no mesmo balaio o médico que cobra caro para a consulta mas sempre se atrasa e prescreve cirurgias desnecessárias para ganhar mais. Ou então aquele que faz convênio (vulgo levar um por fora) com algum laboratório e exige que seu paciente tome o remédio daquele laboratório falseando o argumento que os demais não prestam. O dentista que arranca os 4 cisos de uma só vez sem necessidade (mas como ele ganharia R$ 200,00 por dente daí?). O engenheiro que usa material de qualidade duvidosa para baratear a obra e cobrar como se tivesse usado material de primeira, ou do funcionário público que exige, ilegalmente, uma série de documentos e obrigações do contribuinte para que este se canse e lhe pague uma propina para o serviço agilizar...
A realidade está cheia destes exemplos e todos estes estão divorciados com a ética. Não diferem em nada só por um ser advogado e o outro ser médico.