Não sei, sem considerar todos os pormenores que desconheço, até acho válido considerar isso como estratégia para chamar atenção, partindo da suposição de que isso serviria à finalidade de provocar/aquecer algum debate importante na sociedade. Apenas tenho sérias dúvidas se isso realmente ocorre, acho que na maior parte do tempo ninguém dá a mínima, não sabe nem sobre o que é a manifestação, etc. Não dá em nada, não desencadeia algum "debate" que já não existisse, nem o impulsiona, ou mesmo adiciona algo novo.
A parte em destaque é a justificativa delas para o topless. Mas eu não tenho dúvidas de que não funciona. A maioria das pessoas não faz a menor ideia de quais os assuntos que o Femen aborda. Em geral, elas apenas conseguem as seguintes reações;
1 - Homens dizendo "dessas feministas eu gosto".
2 - Antipatia de outros grupos feministas.
3 - Indiferença da grande maioria "ah, sei… são umas que curtem protestar sem roupa, né?"
Mas ao mesmo tempo há o risco de estratégias desse tipo para a chamar a atenção terem um impacto negativo na "imagem" dos ativistas/"causa". Eu tenho a impressão que ativistas em geral bolam sozinhos alguma idéia de "marketing" para alguma coisa em acreditam, e vão "implementando" sem nunca "testar" antes ou mesmo se importar muito com a recepção ou efeito que têm (ou mesmo questionar mais cuidadosamente as próprias idéias)...
Tenho a mesma impressão, a maioria dos ativistas midiáticos quer apenas chamar a atenção, mas não prioriza a qualidade da atenção conquistada, que em geral é muito baixa. Em geral a notícia é em tom de "atrapalhou o trânsito" e não gera verdadeiras discussões acerca dos temas, logo, a efetividade das manifestações é nula.
Eu acho que talvez até mesmo isso fosse válido se considerar como estratégia, se desse certo no fim das contas. Por exemplo, talvez ajudasse a mudar a imagem de feministas como feias e/ou lésbicas butch, que, apesar de não ser algo relevante mesmo que fosse o caso, ainda contribui para o feminismo não ser levado sério por parte das pessoas*. Algo não muito diferente da estratégia "Lula light". Mas também acho que me lembro vagamente da no. 1 do Femen no Brasil ter negado isso na entrevista dela, de qualquer forma. Pelo menos lendo por cima passava uma impressão geral de algo mais sério/não tão babaca do que a dissidente deixou na própria entrevista.
Quanto a existir um padrão de beleza a ser seguido pelas ativistas do Femen ucraniano, me refiro a uma matéria da Julie Bindel publicada no The Guardian (infelizmente, não consegui achar novamente para colocar a fonte aqui) sobre isso, com alguns relatos de ex-integrantes e pessoas que não foram aceitas (elas aceitam para trabalhar em outras funções que não a de protesto, classificando quem não se enquadra no perfil desejado como "inapto fisicamente"). Quando eu disse que "só as mulheres bonitas são fotografadas e estampam jornais", não me referi a mulheres no geral, o que pode causar algum mal entendido, mas a mulheres integrantes do Femen. Não sei se o mesmo ocorre ou não no Brasil e não considero a entrevista da ex nº2 como uma fonte, pela total falta de credibilidade (ex integrante sempre pode ter algum ressentimento, especialmente quando tão próxima da líder e acabar exagerando ou mentindo), mas se o movimento brasileiro é oficialmente filiado ao ucraniano os atos e ideias de um devem estar de acordo com o outro; se desconhecem ou descordam das diretrizes da matriz do movimento, que organizem outro. Assisti a entrevista da líder do Femen Brasil, Sara Winter, para a Marília Gabriela (tem no youtube) e ela pareceu uma menina completamente despreparada e com pouquíssmo conhecimento acerca do feminismo.
Mas são por outros motivos que tenho certeza de que o Femen é o grupo feminista mais babaca de que já tive notícias. Vou expor porque, com uma ajudinha delas mesmas, que definem o movimento como sendo a união de
"hot boobs, cool head and clean hands" www.femen.org ;
//Hot boobs - Check. Mas e daí? //Cool head - Será?- Segundo suas próprias palavras, “Reconstruímos uma imagem interna do feminino, da maternidade, da beleza. Baseado na experiência dos movimentos das mulheres euro-atlânticas”, sem especificar a que movimentos se referem. Elas não possuem nenhum embasamento e se dizem neo-feministas, sem também definir de forma clara o que é isso, mas pelas suas ações, é possível concluir que o neo-feminismo consiste apenas em gritar palavras de ordem com os seios à mostra em protestos que beiram o nonsense.
- Elas adotam uma postura extremista, femista e misândrica (embora Sara Winter negue a existência desse extremismo, mesmo sendo impossível que uma membro tão ativa desconheça-o).

(home do site - uma mulher segurando uma foice ensanguentada em uma mão e testículos cortados na outra, em frente a palavra
sextremism - não resta dúvida)
- Politicamente seus objetivos são muito questionáveis; moralistas (“desenvolver a qualidade intelectual e moral das mulheres ucranianas”)*, nacionalistas (“limpar a imagem da Ucrânia, um país repleto de oportunidades para as mulheres”)* e preconceituosos, como nos protestos feitos em frente à embaixada da Turquia, sob o pretexto de que os cidadãos turcos são os turistas sexuais mais ativos na Ucrânia (sem dados oficiais… afinal, evidências pra quê?) e nos protestos feitos contra o uso dos véus pelas mulheres muçulmanas;
* Elas esquecem de esclarecer como pretendem fazer isso, porque gritando histericamente não deve ser… eu acho.
- Grande parte de suas ações na Europa consistem em “libertar” as demais mulheres dizendo a elas o que é bom e o que é ruim. Assim como se pode ver em seus muitos protestos que estigmatizam, culpabilizam e infantilizam as mulheres muçulmanas (como no protesto feito no Trocadero, vestidas em niqabs para depois tirá-los e passar a mensagem “Melhor nua que de burca”, como se fosse assim tão simples…) e prostitutas (leiam seu plano de ação: “Sex is not for sale”). Simplesmente, sobre esses assuntos (o véu e a prostituição), as Femen têm as mesmas ideias que as feministas “institucionais”, com as quais não concordo.
- Estou convencida de que A mulher não existe, mas que as mulheres são muitas e ninguém pode falar em nome de todas elas. Prefiro que as mulheres se libertem por (e talvez, principalmente, de) si mesmas ao invés de tentar impor um modelo de mulher livre;
- Apontar o dedo aos homens muçulmanos como se eles fossem os novos inimigos das feministas é discriminatório e considerar a todos os homens "lixo humano" (não conseguia encontrar uma expressão... então fiz essa singela homenagem a LaraAS

) é repugnante.
- Não existe um “novo feminismo” nem uma “nova mulher”. As correntes feministas, suas reivindicações e seus modos de protesto evoluíram como todos os movimentos políticos, mas os novos grupos não surgiram do nada e, querendo ou não, o feminismo tem uma história. Ignorá-la dá nisso; um movimento vazio de discurso, com agressividade gratuita e cheio de furos e contradições.
//Clean hands. Será? (2)- As mulheres do Femen exploram a imagem da mulher sexualizada tanto quanto os mercados que criticam. Mesmo que isso fizesse parte de uma estratégia "Lula light" (não faz, a imagem da foice fala por mim) seria extremamente desonesto usá-la.
- O Femen se diz um movimento independente, custeado com recursos financeiros próprios (de suas integrantes, que se declaram mulheres sem muitas posses, que possuem apenas seu corpo e sua voz), doações de simpatizantes e vendas de produtos (camisetas, canecas, etc), além de não aceitar a participação masculina ativa. Mas… segundo Daryna Chyzh, jornalista do canal local 1 + 1, que se infiltrou no Femen, é secretamente financiado por milionários (a maioria homens); os protestos são custeados (hospedagem, passagens, alimentação, deslocamentos, roupas e materiais) e remunerados. Todas as ativistas recebem salário (só em Kiev são cerca de 340), aproximadamente 3 vezes maior do que o salário médio ucraniano. Além disso, todas as instalações dos escritórios do grupo em Kiev, Paris e São Paulo foram pagas por esses simpatizantes muito generosos. Ex-integrantes confirmaram terem sido pagas. Não há provas concretas, mas levanta fortes suspeitas sobre a origem do financiamento e, se ele de fato ocorre, quais os interesses dos financiadores. O Femen apenas nega a acusação, mas se recusa a dar mais detalhes.
http://www.corrierenazionale.it/component/content/article/32-home/esteri/74431-Femen-troppe-ombre-dietro-al-movimento http://24heuresactu.com/2012/11/21/femen-payees-pour-manifester/