Muita coisa pra quotar, vide o post dele. Ass, Eremita.
1)Não, as decisões numa economia de mercado não são descentralizadas. Nem um pouco. Pegue qualquer setor maduro da economia e analise; você verá como uma ou duas empresas, em determinado país, são capazes de ditar aquele setor, enquanto as outras têm a opção de seguir essa uma ou essas duas ou passar por inanição.
Não precisa nem ser um setor muito maduro. Vide a Microsoft.
2)O poder não seria totalmente do corpo de administradores, mas apenas parcial; e, tendo em vista que eles são votados pelos trabalhadores, tal poder é apenas delegado. Decisões sensíveis, como demissões e mudanças no estatuto da cooperativa, seriam votadas por plebiscito justamente para evitar que o corpo administrativo tenha poder demais - inclusive, o de decidir quem vota e quem não vota (ou seja, quem participa da cooperativa). Sendo definidas as funções do corpo administrativo de forma clara, não há muito problema neles terem um poder apenas parcial.
3)
não vejo muitas diferenças para uma S.A em que os empregados também sejam sócios.
Algo como isso. Só que com o parêntesis que "sócio" não-ativo seria impossível, neste sistema.
4)
Um trabalhador sócio juntaria em si interesses de empregado e empregador. Qual predominaria na hora de tomar as decisões?
Ambos. Todos tentam puxar a sardinha pra sua brasa, mas é do interesse de todos que a empresa seja eficiente. Se as coisas forem organizadas por "metas de trabalho", tomar as decisões mais eficientes implica em ter um trabalho mais leve. Se forem organizadas com o objetivo de maximizar a produção, será de todo o interesse o trabalhador produzir mais caso o recebimento seja equivalentemente distribuído e não com "salário fixo".
5)
Por outro lado, se a cota de sócio que cada empregado tivesse lhe fosse automaticamente retirada caso ele fosse demitido, ou se empregados mais produtivos recebessem mais cotas da sociedade, o que teremos?
Eu devia ter explicado antes o motivo de tais cotas de votos: evitar
meat puppets.
(Do inglês, "marionete de carne": é uma enxurrada de novatos que "estranhamente" aparece com opiniões consensuais e já definidas, dois ou três dias antes de votações sensíveis. Tal fato ocorre freqüentemente na Wikipédia).
Tais cotas não seriam cumulativas, mas por período de tempo. E mesmo que um empregado extremamente laborioso interfira mais que um menos laborioso, há um limite humano nisso, por tais cotas.
Mas tal medida não é indispensável, pode ser exercida por outras formas. Como voto parcial até X tempo trabalhando e após disso voto total, ou algo do tipo.
6)
Não demoraria muito para que todas as companhias estivessem nas mãos dos trabalhadores mais bem qualificados, eficientes e esforçados, ou seja, haveria nova reestratificação, com nova separação entre os donos de empresas e empregados. No prazo não muito longo as coisas voltariam a ser como normalmente são.
Ser esforçado não significa ter capacidades administrativas. E, embora um sujeito esforçado e que dedique 36h por semana vote 3x mais que um que dedica somente 12h, dado o número de empregados, ter 3x mais votos não ajuda muito, não. E o sujeito sempre sabe que pode acabar saindo do corpo administrativo caso não corresponda às expectativas dos trabalhadores.
Não é muito mais fácil deixar as coisas fluírem naturalmente, fazendo intervenções pontuais aqui e ali, do que tentar remodelá-las em larga escala, sem ao menos uma idéia clara e concreta de onde quer chegar, sem a concordância da maioria, sabendo que terá que recorrer à violência e à ditadura, sabendo que isso diminuirá de forma drástica a eficiência da economia, o que significa em última análise diminuir a satisfação das pessoas, e sabendo que o resultado alcançado é instável e não-duradouro?
Por violência, você se refere a revolução e guerra civil e expropriação etc. Não me preocupei ainda em elaborar um modelo de transição; mas peço que me explique por que a idéia de cooperativas implicaria necessariamente em violência.
NOTA: Aparentemente você incorre no erro de achar que um trabalhador bem qualificado e esforçado automaticamente seria um bom administrador, um ótimo médico automaticamente seria um ótimo diretor de hospital, um bom músico seria automaticamente um bom ministro da cultura, e etc Isso não é correto. Habilidades gerenciais e conceituais (exigidas para a administração) não estão necessariamente atreladas a habilidades técnicas, e vice-versa.
Acabei respondendo em outra, inclusive com o consenso de "trabalhador eficiente é diferente de administrador eficiente).
Eu acho engraçado essa mania de falar que "truste" é uma falha da demanda e procura. Ninguém procura eles? Ao meu ver a procura não se interessa com favorecer a concorrência...
E o mais engraçado é nos EUA, onde tem tantos tilhões de leis anti-truste/cartel/etc, é onde realmente eles existem em maior quantidade. Porque os políticos são subornados por seus patrocinadores e o Deus-Estado se prova ineficiente.
Quer entender como ocorre um trust?
Pense na Guerra Fria. Agora, traga-a metaforicamente para dentro de um setor qualquer da economia.
Um trust ocorre quando dois lados concorrentes são incapazes de dominar um ao outro sem que, com isso, acabe se fodendo também. Nenhum dos dois lados tá interessado em ajudar o outro, mas apenas em não ser atrapalhado.
Por exemplo, digamos que a empresa A tenha 70% do mercado, a B tenha 30% - é só um modelo simples. Ambas as empresas visam dominar o mercado e estabelecer um monopólio, pois isso gera a maximização dos lucros. Dado que
todas as outras condições são iguais, a empresa A teria a maior chance de dominar o mercado. Mas, para tal, ela deve gastar uma soma enorme de capital, mas a empresa B também.
Então, os acionistas da empresa A chegam para os da B e dizem: "numa guerra de mercados, a empresa A ganha e vocês sabem disso. Cada um de vocês sairia sem um tostão sequer no bolso. Entretanto, como tal guerra seria prejudicial à empresa A também, propomos um acordo: nós compramos suas ações por um preço um pouco maior do que elas valem, e vocês aplicam seu dinheiro em outro setor da economia".
E eis que o trust ocorre e, com ele, monopólio. Entretanto, caso as empresas fossem mais equivalentes (numa situação 50%-50% do mercado, por exemplo), é mais vantajoso oligopólio/cartel: nenhum dos lados ousaria declarar guerra, pois ela seria demorada e cara para ambos, e no final das contas, ambos os lados sairiam perdendo.
(E é por isso que esse povão das ações adooooooooora Sun Tzu).