Adriano, desse jeito você passa a impressão errada do estudo, mesmo assim, você pinçou as poucas frases que serviriam ao propósito de refutar uma resposta positiva para a pergunta que abre o tópico.
No México, durante o II Congresso Latino-Americano de Psiquiatria, os psiquiatras da Universidade de São Paulo, Clóvis Martins e Fernando de Oliveira Bastos, realçaram o caráter benéfico das práticas mediúnicas no Brasil.
Vou continuar o que você achou conveniente não citar (está na pg 145)
"..., realçaram o caráter benéfico das práticas mediúnicas no Brasil. Afirmaram que tais procedimentos seriam uma forma de psicoterapia não cientifica que poderia ser muito útil para a imensa massa de desfavorecidos socialmente no Brasil, que não tinham acesso a psicoterapia cientifica. Apesar de considerá-las "religiões primitivas" alimentadas "pelo estado de ignorância e crendice", as religiões mediúnicas permitiriam a reintegração da personalidade "em níveis regressivos, aceitáveis para o grupo social aonde se insere", pois permitiriam fenômenos catárticos e a ressignificação positiva dos sofrimentos e sintomas dos pacientes (Martins e Bastos, 1963).
Concluímos que trata-se apenas uma opinião desses psiquiátricas (não muito diferente da recomendação de uso de sanguessugas na ausência de recursos melhores de tratamento) e convém destacar que não fazem parte das considerações finais do estudo (conclusão).
O Professor José Lemes Lopes, em conferência na XI Reunião Brasileira de Antropologia, defendeu uma postura mais tolerante por parte dos psiquiatras com pacientes que buscam tratamento espiritual em centros espíritas e terreiros de umbanda. Afirmou que estas esperiências religiosas poderiam até ser benéficas na evolução de quadros neuróticos e psicóticos
Também não faz parte da conclusão (considerações finais) do estudo e não desmente a opinião médica, apenas sugere mais tolerância.
Negro et al. advertem contra o equívoco que é reduzir a riquesa de qualquer prática religiosa aos seus aspectos dissociativos, que o fenômeno mediúnico é uma parte integral de uma epistemologia religiosa, imersa em conexões sociais e significados existenciais.
Esta parte também não faz parte da conclusão (considerações finais) , é mais uma das muitas citações no estudo. Aspectos dissociativos
podem ser evidências de transtornos mentais.
A ausência de comorbidade psiquiátrica significativa, de sofrimento atual ou de desajuste social nos leva a considerar a hipótese de emergência espiritual como a mais plausível para explicar a maioria dos casos.
Também não faz parte da conclusão (considerações finais) . Hipótese da emergência espiritual? Hummmmm....
Em relação ao estudo, obviamente, ele não é conclusivo. Vou poupá-lo de pinçar outras frases ou estatísticas. Trata-se de um assunto polêmico, ainda em discussão, mas repleto de evidências sobre a malignidade das práticas espíritas que podem alimentar o desenvolvimento de transtornos mentais. Seria injusto, porém, deixar de fora as práticas do ocultismo da bruxaria, e outras mais para nos concentrarmos apenas no espiritismo, mas no Brasil, dada a sua popularidade, não poderia ser diferente. Vide texto abaixo, onde o espiritismo é colocado no topo da lista de fatores de gênese de doença mental ao lado da sífilis e do alcoolismo.
"Roxo (*) (1925) considera como principais fatores na gênese da doença mental a sífilis, o alcoolismo, o espiritismo e a constituição psicopática. A sífilis, responsável, segundo Roxo (1925), por 50% das doenças mentais, ligada à crescente urbanização e à promiscuidade, podia ter sua gravidade atenuada através dos tratamentos ambulatoriais disponíveis na época, os quais, entretanto,
exigiam do paciente uma forte adesão. Para isso o serviço de profilaxia das doenças venéreas contava com visitadoras, que trabalhavam no sentido de convencer os pacientes a não abandonarem o tratamento. O alcoolismo, por sua vez, seria responsável por 30% das doenças mentais, e contra este fator patogênico a LBHM empreendeu ampla campanha.
O espiritismo era considerado por Roxo (1925) como responsável por 10% das doenças mentais, na medida em que as "sessões espetaculosas" induziam observadores "impressionáveis" que acabavam por desenvolver episódios de delírio. Sobre este tema Arthur Ramos desenvolveu extenso estudo na década de 1930, de onde advieram várias publicações."
(*) Professor Catedrático de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e
diretor do Instituto de Neuropatologia da Assistência a Alienados (Roxo, 1925); Presidente de
Honra da LBHM (ESTATUTOS DA LIGA BRASILEIRA DE HIGIENE MENTAL, 1925).
fonte:
www.ppe.uem.br/dissertacoes/2006-Daisy_Mendonca.pdf