A alternativa seria pensar que você provavelmente está tendo um julgamento errado quando você identifica em um extrato da população um problema desproporcional e começa a fazer generalizações
Talvez. Não creio que eu tenha feito isso, mas fica o seu alerta.
Uma cultura em que uma parcela enorme da população acredita que pode conhecer os próprios direitos em uma faculdade de Direito me parece claramente submissa à área, pois está afirmando implicitamente que são os formados em Direito que definem os direitos civis.
Um pouco de reflexão mostra que essa é uma falácia. Praticantes de direito estudam e possivelmente enunciam formulações oriundas dos direitos individuais, mas não tem poder algum quanto os direitos em si.
Uma parcela enorme da população não acredita nisso Luis.
Eu sei. Essa é a distorção.
Ué, é distorção por acreditar e distorção por não acreditar.
Ops, falha minha. O que vejo como distorção é
acreditar nisso, naturalmente.
Você acha que o que acredita as outras pessoas também acreditam ou acredita que sabe o que as outras pessoas pensam,
Não entendi.
Todos esses problemas que você está citando são problemas na sua percepção. Eu não estou vendo nada disso, nem no comportamento dos advogados, nem na suposta crença que a população tem sobre o direito
Em outras palavras, você discorda? Ok.
Olha Luis, quando alguém quer contestar algum direito seu não respeitado, se não há consenso o cara vai para a porrada ou vai para a justiça.
Claro. Tanto isso é verdade - e menos que ideal - que os próprios tribunais tem encorajado as conciliações voluntárias (houve um evento agora
em novembro exatamente sobre isso).
Nunca neguei que a Justiça seja o último recurso para romper esse tipo de impasse, muito menos que seja necessária por esse motivo. O que acho, e a própria justiça reconhece, é que recorrer à justiça é trabalhoso, oneroso, demorado e, por que não dizer, leva frequentemente a injustiças irreversíveis, até mesmo porque licitantes podem morrer ou perder oportunidades enquanto seus processos correm.
É uma tarefa necessária, difícil e desgastante, com certeza. Mas no fim das contas, até que ponto realmente beneficia a sociedade? Entre a demora das decisões e a simples inaptidão do Direito em servir como atividade preventiva ou educativa, eu diria que muito pouco. Nesse sentido bons professores tem pelo menos o potencial de ser
muito mais úteis para a sociedade do que bons advogados, independentemente de quaisquer questões políticas ou financeiras envolvidas.
Neste sentido, no sentido prático, o direito representa sim os direitos da pessoa frente um racional e uma forma de consenso entre as diversas partes.
Certamente essa utilidade existe para o Direito; ele dá
resolução a questões pendentes, o que é louvável e necessário. Mas não muda a sociedade, a não ser muito lentamente, e é até difícil dizer se essa mudança é positiva. Considerando as quantias envolvidas, o quanto de bons cérebros acabam sendo empregados nessa atividade, e o quanto da dedicação dos mesmos é voltada a
desfazer ou atrapalhar os esforços dos próprios colegas, eu não posso deixar de sentir que no fundo é um enorme desperdício.
Esse seu diretos verdadeiros me parece uma coisa metafísica ou sei lá. Tudo é um construto artificial
De certa forma eu concordo; são mesmo construtos artificiais, criados pelo artifício humano em prol de visões ambiciosas. E esse é o papel das ciências humanas, das comunidades em si e, por que não dizer, também das religiões quando bem praticadas. E cabe ao Direito
empregar essas diretrizes, executá-las. Mas o excesso de prestígio faz com que muitos percam esse papel de vista e extrapolem suas funções, a ponto de se considerar guardiões em vez de intérpretes e executores.
O pior é que boa parcela da população
espera que sejam guardiões.
(...) Todos os problemas não podem ser previnidos. Impossível, isso é mais utopia do que a utopia do socialismo.
Não estou falando de utopias. Estou falando de não achar normal que processos judiciais que duram anos e consomem muito tempo e horas de trabalho, muitas vezes sem qualquer resultado concreto, sejam vistos como praticamente uma obrigação a ser solicitada automaticamente. Estou falando de contestar a mentalidade paternalista e cartorial que acaba por tornar uma série de vícios de conduta
necessários. Estou falando de parar de ver o sistema jurídico como uma arma poderosa e difícil de controlar em vez de como um último recurso.
O advogado não luta para anular seu colega. Luta para ter a causa para a qual foi pago para defender vencedora. Uma luta dentro do contexto das idéias.
Talvez eu esteja entendendo mal, mas sempre me pareceu que pelo menos atualmente a mentalidade do Direito entende que advogados podem e devem se contestar rotineiramente, aparentemente por entender que esse confronto aumentaria a isenção e a justiça das conclusões finais.
Fantástico, sinal de evolução. Mais interações, mais problemas judiciais. E as correções (que são muitas) são realizadas no decorrer do processo.
Correções
do próprio sistema jurídico. Evolução seria depender
menos de uma suposta perfeição do mesmo - que chega hoje ao ponto de se decretar com todas as letras que
a Constituição não tem contradições simplesmente porque o que se entende no meio como "Constituição" não é um texto estável, e sim um conjunto dinâmico e mutável de
interpretações desse texto. Esse é um artifício de obfuscação bastante questionável, e um bom exemplo de como o Direito se acostumou a brincar de dono da verdade via reinterpretação dos fatos.