Eu entendi isso Luis
Che é um personagem fascinante e incrivelmente carismático. Mas eu não entendo como pode estar associado a uma imagem de liberdade.
Eu li alguns livros e assisti um documentário falando sobre o "arquétipo do herói", um personagem presente em muitas sociedades. Muitos destes personagens, históricos ou fictícios, tem características comuns que fazem com que sejam reconhecidos como heróis. Che, mesmo com toda imagem negativa que hoje se associa a ele, tem muitas dessas características: o desapego a seus bens, o sacrifício da vida em família, o fato de ser um soldado (um homem de ação e não de palavras), ter um ideal, ter participado ativamente para derrubar uma ditadura, entre outras coisas.
Podemos dizer que muitas dessas características são apenas parte do mito que foi criado em torno dele, principalmente depois de sua morte, só que nesse ponto ele deixa de representar o herói e passa a ser um mártir, ascendendo mais um degrau acima do homem comum.
Só um exemplo de como a crítica a Che às vezes parece infantil, Diogo Mainardi, em um de seus textos, chama ele de "porco fedorento", porque, segundo um antigo colega de lutas deste, ele não tomava banho. Uma crítica dessas seria análoga a dizer que "o Fidel é bobo e feio", ou seja, ela não atinge realmente o ponto central da questão, que é a incongruência que existe entre defender a liberdade suprimindo-a.
Dizer que Che participou diretamente da morte de desafetos também não é algo que contribua significativamente para desmistificá-lo, muitos heróis mataram seus inimigos e nem sempre em combate.
Quero dizer com isso que a força do mito em torno do Che é muito mais forte do que a dimensão humana que ele tinha, e para seus admiradores seus atos não importam realmente, mas sim a maneira como ele buscou concretizar seus objetivos, participando ativamente da luta armada.
Será que só a esquerda é capaz de gerar um mito destes? Porque a direita radical não pode gerar um mito destes? Será que é uma questão apenas pessoal devido ao enorme carisma de Che ou temos algo a mais que isso?
Eu tenho plena convicção de que o mito de Che só foi possível porque este foi assassinado, acabando por se tornar um mártir. Agora, quando a direita radical, depende muito do que exatamente você considera como direita radical.
Eu acho que o nazismo e o fascismo foram uma espécie de direita radical, só que, diferente da esquerda, que reconhece que houveram muitos excessos na instauração do comunismo ( tem outra parte que afirma que o que houve na Rússia não foi comunismo, mas isso é outra história), admitindo, inclusive, a barbárie de muitos de seus líderes, a direita radical, pelo que me parece, é renegada totalmente pela direita mais moderada.
Um historiador conservador, Paul Johnson, afirma que todas ditaduras foram de esquerda, porque a direita, que tem suas bases na moral judaíco-cristã, no liberalismo e na responsabilidade individual, não permitiria tal deturpação na sua estrutura.
Com isso podemos dizer que os mitos da direita radical não crescem ao ponto de rivalizarem com Che justamente porque a própria direita impede isso, relegando-os a lata de lixo da história.
Existem exceções, mas são pontuais e muito específicas para dizermos que um Che de direita existe.