Você está dizendo que ser muito produtivo implica necessariamente em ser pouco ofertado. Em outas palavras, a produtividade varia inversamente com a oferta.
Está dizendo então que, se em uma determinada localidade existem 1000 trabalhadores sem qualificação que conseguem limpar 2 casas por dia em média, e se de repente passar a haver 2000 trabalhadores sem qualificação no local (devido à imigração), eles passarão a poder limpar menos de 2 casas por dia em média. É isso?
Para usar este mesmo cenário, quis dizer que o serviço de limpar casas passa a ser menos rentável à medida que mais gente esteja disponível para realizá-lo. É exatamente como um produto que se torna mais abundante, seu valor decresce. Pode-se dizer que limpar casas não é mais uma atividade tão produtiva quanto antes, não produz mais tanta renda quanto antes. Falar inglês fluente produz mais aqui (por ser mais rentável) do que nos EUA.
Produzir = gerar renda. Ser superprodutivo = render bastante. Daí que nada pode, por muito tempo, ser muito rentável (muito produtivo) e muito ofertado, a excessiva oferta tende a pressionar o preço para baixo rapidamente. Na sua mensagem anterior, você falou que em um mercado livre pode ocorrer de uma atividade superprodutiva ser pouco remunerada. Isso não faz sentido.
Você está misturando os conceitos "produtividade" e "rentabilidade". Estou me referindo apenas à produtividade, que á a quantidade de bens ou serviços que um trabalhador consegue produzir em um determinado tempo,
independente do preço/valor dos mesmos.Essa quantidade de bens ou serviços que um trabalhador consegue produzir em um determinado tempo (a qual o empresário demanda) não diminui se a oferta de trabalhadores aumentar, apenas dá mais opções ao empresário, de modo que ele poderá adquirir essa mesma produtividade por um preço (salário) menor.
Na verdade, o salário real é determinado pelos empresários quase sempre. Por quê? Porque são eles que controlam os preços. Se um determinado nível de salário nominal for considerado alto demais pela maioria dos empresários, os preços de seus produtos irão subir de forma que o salário real se mantenha como antes. Quando pequenas elevações do salário nominal (como o salário mínimo) não constituem problema muito grande para o capital de giro dos empresários, mas apenas reduz um pouquinho seus lucros, os preços não costumam subir muito (a concorrência dos empresários que aceitam margens menores de lucros impede isso) e o salário real se eleva de fato, embora geralmente menos do que o nominal.
Não entendi o que os salários dos funcionários tem de tão decisivo no preço das mercadorias. De forma geral, o preço das mercadorias é dado pela lei da oferta e da demanda; não é dado de acordo com o salário que os empresários que as produzem/vendem pagam a seus funcionários. (Claro que esses representam um custo de produção que será repassado no preço; mas são apenas um dos muitos custos de produção).~
Correto, são apenas um dos custos de produção, que se por acaso tornarem-se excessivos (devido a um salário mínimo nominal muito alto para a realidade local), os empresários naturalmente aumantarão seus preços de modo que o salário real (o "poder de compra" do trabalhador) se manterá como antes, restabelecendo o equilíbrio.
Em resumo: o salário
real é determinado mais pelos empresários e pelo mercado do que pelo governo ou sindicatos, de modo que os aumentos do salário nominal ou as resistências à sua redução não constituem obstáculos para os negócios ou a economia como os ultraliberais costumam colocar.
Não dá para afirmar que o dinheiro estaria em "melhores mãos" com os empresários do que com os trabalhadores. Os trabalhadores costumam gastam uma fatia maior do que ganham em bens de consumo do que os empresários, já que o salário baixo deixa poucas "sobras" para poupar. O resultado disso em nível global é o aumento da circulação do dinheiro na economia e da demanda efetiva, o que incentiva novos investimentos para o aumento da produção (com mais empregos) da economia.
Redução dos custos com mão-de-obra não necessariamente conduz a uma ampliação da demanda por mais mão-de-obra, já que o empresário pode ter aumento imediato do lucro sem precisar aumentar a produção e considerando que a renda média dos trabalhadores se reduzirá bastante => redução do mercado consumidor.
[...]
Em termos macroeconômicos, não faz muita diferença se o dinheiro fica nas mãos dos empresários ou dos trabalhadores. Nas mãos dos primeiros, podem ser investidos (caso a demanda efetiva global os encoraje a isso, o que não é muito de se esperar em um cenário de redução da renda média das pessoas) ou consumidos (aumentando a demanda efetiva, gerando empregos e rendas). Nas mãos dos trabalhadores o dinheiro mais seguramente será consumido (o que aumenta a demanda efetiva global, incentivando novos investimentos). Em suma: não faz muita diferença, em termos macroeconômicos, se é o empresário ou o trabalhador que vai gastar o dinheiro.
Quem falou sobre o dinheiro estar em "melhores mãos" com os empresários ou com os empregados? A questão não é em qual mão está o dinheiro, mas sim o fato de o dinheiro ser forçado a tomar um caminho diferente daquele que tomaria em um sistema de preços livre. Esse é o ponto. O preço do produto está sendo distorcido pela política de salários.
Da mesma forma, o dinheiro toma um caminho diferente daquele que tomaria caso a oferta de pessoas pudesse ser reduzida.
Eu não sei se você discorda de o sistema de preços ser o único adequado na alocação de recursos disponíveis de acordo com o oferta e a demanda, ou sobre o preço servir de sinal para os agentes econômicos investirem justamente nos produtos/serviços para os quais mais há demanda. Se discorda, podemos falar sobre isso.
É claro que eu concordo que o sistema de preços livres é o melhor determinante da alocação de recursos,
desde que algumas condições mínimas sejam atendidas, de modo que a economia seja a mais "capitalista" possível. Ex:
1- Ausência de monopólios, monopsônios, oligopólios, oligopsônios, cartéis e trustes.
2- Ausência de obstáculos, tarifários ou não, à produção ou comercialização de alguns produtos em detrimento de outros.
3- Liberdade ou possibilidade de qualquer agente econômico reduzir ou abandonar a oferta de um determinado produto/serviço e buscar outras opções caso a primeira não não tenha preços mínimos satisfatórios. Idem para o aumento de oferta, mutadis mutandi.
Essa possibilidade 3 não existe para os trabalhadores sem qualificação (ou até mesmo com alguma qualificação) que não posuem nenhum meio de produzir sozinho suas necessidades básicas (como terra, por exemplo): não existe nenhum meio deles abandonarem o seu "ramo de atividade" (força de trabalho) ou reduzirem sua oferta, procurarando alguma outra opção frente a preços insatisfatórios do mesmo (pelo menos por muito tempo).
Vejamos novamente: se você acha que a oferta de mão de obra não pode ser reduzida frente a preços baixos responda por que existem empregos que remuneram bem mais do que o salário mínimo. Por que um funcionário do McDonald's dos EUA ganha aproximadamente dez mil dólares anuais e não apenas $ 50 mensais, ou menos? Por que ninguém conseguiria engraxar os sapatos a R$ 0,01? De acordo com o que você diz, tais coisas seriam possíveis, já que todos esses trabalhadores não reduziriam a oferta de seus serviços frente a uma queda em suas remunerações. Nenhum deles pensaria em pedir demissão ou abandonar a flanela e procurar algo melhor. Uma ótima oportunidade para os empresários economizarem dinheiro.
Isso ocorre porque a economia americana (a exemplo da economia dos demais países desenvolvidos) possui um imenso mercado interno (leia-se: demanda efetiva interna), que garante quase sempre uma oportunidade de investimentos que demandam mão-de-obra. O fato desses países terem uma demanda efetiva interna forte enquanto o Brasil ainda não (dependendo ainda muito de exportações) pode ser explicado por muitos fatores históricos que não estou muito disposto a discutir agora.
Alguns exemplos desses fatores seriam:
1- Formas plenamente "capitalistas" de trabalho de longa data (ao contrário do Brasil, principalmente nas regiões Norte-Nordeste, onde formas semi-feudais de trabalho ainda prediminavam a relativamente pouco tempo),
2-Reforma agrária e/ou muita disponibilidade de terras para trabalhadores (no Brasil, isso só ocorreu, de forma MUITO incipiente, na região sul),
3-Proteção às atividades nacionais por parte do governo, pelo menos em algum período (A Inglaterra foi a única exceção à essa regra por ter sido o primeiro país a se industrializar e portanto não ter concorrentes).
4- Governos não excessivamente oligarcas e justiça não excessivamente/escrachadamente favorecedora dos mais ricos
5- Religião protestante/cultura ou mentalidade progressista e nacionalista
Etc.
É claro que as atividades voltadas à exportação podem empregar e pagar bem, porém (tirando fora os riscos maiores de ficar sem mercado consumidor devido a diversos fatores contigentes), as atividades exportadoras costuma ser atividades mais competitivas, que empregam pouca mão-de-obra sem qualificação em comparaçção com as atividas não-exportadoras.