A questão se complica um pouco quando as instituições governamentais alteram os incentivos, estimulando um risco maior do que o normal. E foi exatamente isso que aconteceu na crise imobiliária americana. Podemos encontrar as digitais do governo em todas as cenas do “crime”. Para começo de conversa, as hipotecárias gigantes Fannie Mae e Freddie Mac eram empresas semi-estatais, criações do governo que contavam com garantias do governo. Na década de 1990, o Congresso afrouxou as restrições de crédito dessas empresas, para aumentar sua habilidade de emprestar em áreas mais pobres. Em 1994, o Community Reinvestment Act, de 1977, foi renovado, obrigando os bancos a emprestar certo percentual do total em suas comunidades locais, especialmente quando eram comunidades pobres. O Congresso explicitamente pressionou as hipotecárias na direção de mais empréstimo para expandir a posse de casas no país. Os incentivos políticos distorceram a alocação de capital, contribuindo para a criação da bolha imobiliária. A política de baixos juros mantida durante longo período pelo Federal Reserve jogou gasolina no fogo.
Em 2004 e 2005, com os escândalos contábeis da Fannie Mae e Freddie Mac, as empresas aceitaram expandir seus empréstimos ainda mais para clientes de baixa-renda. Ambas aceitaram comprar montantes maiores de crédito subprime, estimulando a oferta por parte dos bancos. De 2004 a 2006, o percentual de empréstimos nessas categorias mais arriscadas cresceu de 8% para 20% de todas as novas hipotecas. Sem dúvida os bancos e especuladores foram gananciosos ao apostar nesses produtos mais arriscados, assim como os indivíduos de baixa-renda que assumiram tais hipotecas. Mas não podemos ignorar que eles estavam respondendo aos incentivos criados pelas intervenções do próprio governo. Não foi o livre mercado que gerou essa situação, mas a intervenção estatal. Quando algumas empresas erram suas apostas isoladamente, isso faz parte do capitalismo, de seu processo de “destruição criadora”. Mas quando todos erram ao mesmo tempo, podemos dizer com quase certeza que há o dedo do governo nisso.
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