Se uma lógica vale para uma coisa, vale para todas.
O que é primeira necessidade? O ue pode ser definido assim?
Coisas das quais você não pode abrir mão, pois precisa para sobreviver no mundo atual. Educação, saúde, produtos de higiene e limpeza, alimentos, água... não necessariamente nessa ordem.
E não falo de artigos de primeira necessidade para grupos específicos e sim para a população em geral em sua vida como um todo. Pen drives são de primeira necessidade para quem trabalha com computadores e só ali no trabalho. Mas não para um balconista do McDonald's, durante sua vida toda.
Não é questão de algum burocrata do governo determinar o que é ou não é de primeira necessidade. A questão é que ninguem sobrevive sem alimentos (alimentos de verdade e não big macs) e água, por exemplo. E nem consegue emprego para comprar alimentos e água sem ter educação e saúde, por exemplo. Entende?
Até 40 anos atrás, primeira necessidade era a banha. A gordura animal de suíno era da cesta básica, sendo que os animais mais rentáveis eram os que produziam gordura, principalmente.Com a implantação da soja no Brasil, surge então um óleo comestível mais barato e ( existem controvérsias ) mais saudável, então o óleo de soja passa a ser um item essencial. E as empresas e agricultores que viviam da criação de porco pra banha? Tiveram que se adaptar, criando animais voltados para a produção de embutidos e investiram na produção do frango, aproveitando a base instalada. Isso levou ao barateamento do preço da proteína a base de frango, que não existia antes, onde as galinhas eram vendidas vivas, criadas nos fundos dos lotes, etc.
Ou seja, a mudança de um produto só ajudou a população. Antes a banha era primeira necessidade, veio um produto que superou o primeiro, logo os empresários mudavam ou desapareciam ( minha cidade tinha um frigorífico desse que fechou ), alteraram sua linha de produção, oferecendo carne de frango muito mais barato.
O feijão é a mesma coisa. Graças a existir população mais carente, permite que os agricultores possam ter renda de produtos que seriam descartados, por serem quebrados, terem pedra, etc. Para a população, a diferença de um real no quilo justifica ele passar uma meia hora escolhendo o feijão para ir pra panela, porque este real pode comprar um quilo de sal, que não poderia de outro modo. Você pensa apenas no grande industrial, mas não percebe que estamos falando de pequenos produtores rurais.
O Brasil tem tanto empresário salafrário por causado excesso de estado na economia. É muito mais vantagem comprar algumas pessoas do governo e garantir uma vantagem competitiva ou monopólio do que concorrer livremente. O que falta noBrasil é capitalismo, não o contrário, porque na livre concorr~encia e livre comércio, quem sempre sai ganhando é a população, mas os que estudam e trabalham.
Sim, mas a questão permanece, a população não exerce o controle que vocês afirmam que ela exerce. O óleo continuou sendo necessário, mesmo não vindo mais da banha de porco. E quem produzia e vendia o novo óleo, vindo da soja, de má qualidade, continua a produzir e vender. Continua existindo quem compre por não poder ou não saber escolher. Não é questão do governo controlar ou deixar de controlar.
Então, os produtos de má qualidade continuam existindo mesmo havendo competição.
Primeiramente, não existe isso que você aparenta pressupor: a qualidade não é uma medida absoluta, de forma que possamos afirmar que tal produto é de má qualidade e ponto final. A qualidade é uma medida individual, depende das expectativas de cada consumidor. Isso que você chama de "feijão de má qualidade" certamente seria considerado, por você, de ótima qualidade em circunstâncias diferentes - em algum momento do passado; em algum lugar onde feijão seja muito escasso, de forma que você se contentasse perfeitamente com um feijão que precisasse ser selecionado antes de ir para a panela, em vez de já vir selecionado no pacote; ou caso você fosse uma pessoa mais sovina -, e o que você chama de "feijao de boa qualidade" será algum dia suplantado por marcas que apresentem em seus produtos mais daquelas qualidades que você aprecia em um feijão.
Há critérios bem objetivos para determinar a qualidade de um produto. Se a pessoa tem preferência por terra, folhas e pedaços de insetos no feijão, além de grãos quebrados e/ou difíceis de cozinhar, é problema dela. Mas continua a ser um feijão de baixa qualidade.
Qualidade não pode ser relativizada.
Você está vendo qualidade apenas como uma relação de custo X benefício. É uma visão simplista demais da questão.
Você está certo quando diz que feijões não-selecionados - mais baratos - não somem das prateleiras porque há pessoas mais pobres (ou mais econômicas) que se contentam com ele. Mas isso não é um problema a não ser que você ache que a própria desigualdade de poder aquisitivo seja um problema e que todos deveriam ser iguais ou aproximadamente iguais neste aspecto - socialismo -, pois o grande mérito do sistema de preços é justamente esse: a alocação ideal dos recursos da disponíveis na sociedade de acordo com a demanda. Por que mais recursos deveriam ser investidos na produção de feijão de maior qualidade quando há uma parcela da população que se contenta com ele? Afinal, esse luxo apenas consumiria recursos destas pessoas que poderiam ser usados por elas para sanar necessidades mais urgentes do que comprar um feijão que não precise ser selecionado.
Sim eu entendo isso. E eu não me importo que o mundo seja assim. Minha preocupação não é com os pobrinhos. E apenas questiono a liberdade total de mercado, baseada em oferta e procura, como forma de controlar naturalmente a qualidade do que é produzido e vendido.
Você diz que há uma parcela da população que se "contenta", o que não é verdade. O que há é uma parcela da população que compra isso ou passa fome. Então o controle da população sobre o mercado não acontece exatamente como vocês dizem. Há falhas que permitem aos produtores e vendedores que desagradam a população continuarem existindo mesmo com a competição, mesmo sem o Estado interferir.
Não seria o caso do Estado determinar um mínimo de qualidade, abaixo do qual nenhum produto poderia estar, para evitar abusos por parte de produtores e comerciantes, que sabem que podem fazer qualquer coisa, desde que deixem o preço baixo, pois tem gente que não pode se dar ao luxo de comprar outro produto?
Não sei.
