1. O fato de existir o relato não o torna verdadeiro. É preciso análise acurada antes.
1.1 Que tipo de análise Leafar?
Análise lógica e racional, claro.
1.2 Qual é a metodologia que você usaria?
Primeiramente averiguar o quanto o conjunto formado por
relatos - deduções - realidade conhecida não se contradizem mutuamente. Se não houver contradições, o sistema formado tem possibilidade de ser verdadeiro. Caso contrário, em algum lugar há um erro que precisa ser averiguado para o sistema voltar a se ajustar à realidade. A esmagadora maioria dos sistemas ditos filosóficos ou religiosos (que conheço) não aplicam esse crivo. Se aplicassem, estariam automaticamente descartados como possibilidade de verdade. Depois é preciso verificar se a explicação oferecida é capaz de resolver todas as dificuldades da questão. Se não puder, então a explicação oferecida também não pode ser válida.
Em seguida, depois de formados os diversos sistemas sem problemas lógicos evidentes, submetê-lo a críticas para verificar até onde as conclusões são consistentes e capazes de sobreviver aos argumentos de quem deles discorda. Se alguém levantar uma crítica consistente e pertinente, o sistema precisa ser revisto ou descartado.
Assim se deve proceder para tudo aquilo que não possamos ainda constatar com os próprios olhos. É como surgem, por exemplo, as teorias. E se só há uma teoria possível, essa é a verdadeira, mesmo que não constatada cientificamente.
2. Uma boa parte das visões de fadas, doendes, Nossa Senhora, Jesus Cristo, etc... o Espiritismo reputa à ilusão pura e simples, ou ao charlatanismo.
2.1 Baseado em que você pode afirmar que é ilusão pura e simples ou ao charlatanismo?
Histórico anterior de quem viu, por exemplo, é um parâmetro para avaliar o grau de confiança que se pode ter na sinceridade dos relatos. E depois, análise fria dos fatos relatados, de acordo com 1.2.
Nesse último caso, você acha razoável poder validar ou refutar alguma coisa utilizando dogmas de uma crença?
Pode-se usar os dogmas ou axiomas que quiser. Nesse caso, a validade do argumento estará subordinado à validade do dogma ou do axioma (considerando que o desenvolvimento lógico é perfeito). O Espiritismo, por exemplo, baseia o seu ensino em função dos dogmas da reencarnação, da existência e sobrevivência da alma, da comunicabilidade dos espíritos, da pluralidade dos mundos habitados, da existência de Deus e eventuais outros que eu possa não estar me lembrando. A validade dos ensinos espíritas está subordinado à validade desses axiomas e qualquer um deles que caia, cai também o Espiritismo.
3. Mas quando considera a possibilidade de serem legítimos, nos casos em que a aparição se deu em condições bem controladas e que muita gente presenciou, o Espiritismo diz que teriam sido espíritos que se transfiguraram dessas coisas em fenômenos de aparição.
3.1 De novo, como considera a possibilidade de serem legítimos?
Quando foi presenciado por grande número de pessoas. Se uma só diz que viu uma fada, eu vou desconfiar. Mas se cem pessoas disseram ter visto, tenho eu aí um objeto de dúvida razoável.
O que você quer dizer com "casos em que a aparição se deu em condições bem controladas"? O que são condições bem controladas?
Por exemplo, situações bem relatadas em jornais ou revistas, ou de notório conhecimento público. Por exemplo, numa situação hipotética, as pessoas estão lá assistindo o show da Madonna e derrepente vários vêm algo estranho no céu. É um exemplo de situação controlada, ou seja, que se tem certo grau de confiança nas circunstâncias nas quais a hipotética situação ocorreu. É diferente de, por exemplo, eu, sozinho na minha casa, fotografar uma aparição. Ainda que ela fosse verdadeira, eu teria bastante dificuldades de convencer alguém disso, porque a minha palavra seria a única em questão.
Uma aparição que "muita gente presenciou" é mais legítima que uma aparição que pouca gente presenciou? Por que?
Claro! A multiplicidade atribui gravidade ao fato em questão. É muito fácil não haver contradições na verdade, mas é bem difícil não haver contradições na mentira. Pergunte a um, e a outro, e a outro o que viram. Se todos estiverem mentindo, é muito difícil que contem a mesma mentira, enquanto que, se estiverem dizendo a verdade, contarão sempre a mesma história, embora usando palavras ou expressões diferentes, ou baseados em pontos de vista diferentes. Aliás, existem técnicas bastante interessantes para se detectar a mentira, algumas até utilizadas nos detectores de mentira. A polícia não é capaz de chegar a criminosos por acaso. Os mentirosos sempre deixam rastros. Sempre!
.4 ..o Espiritismo diz que teriam sido espíritos que se transfiguraram dessas coisas em fenômenos de aparição.
4.1 Como é que é? O espiritismo o que?
O que caracteriza a humanidade, seja corporal ou espiritual, é a sua capacidade racional. Não faz sentido supor que existam seres mais racionais do que outros. Em existindo a alma, todas têm que ser da mesma natureza, pois senão seria o mesmo que se admitir que você pode aprender determinada disciplina e eu não, ou vice-versa. Isso é um absurdo lógico. Então, não importa se aparecem como fadas, duendes, Javé, etc..., eles têm que ser da mesma natureza racional humana.
Um abraço.