Oi famado. A postura comum de um ateu ou agnóstico frente a uma situação de medo é uma boa pergunta. Vou tentar responder sem ficar supondo situações que nunca passei, como "estar em mar aberto só com um colete de salva vidas". Eu acho difícil dizer o que eu sentiria se estivesse nessas situações, por isso vou dar exemplos de fatos que aconteceram comigo.
Hoje eu não acredito em deus, mas já acreditei (católico) até os 14-15 anos mais ou menos. Naquela época eu sentia medo do diabo, de fantasmas, de macumba, de anfíbios (sapos), de répteis (cobras), de altura e do escuro.. mais ou menos nessa ordem.
Eu brigava as vezes com meu irmão mais novo e ele pegava uma faca de cozinha e me ameaçava, nesse momento a primeira coisa que eu sentia não era o medo de meu irmão fazer alguma coisa de mau (apesar de ele estar descontrolado), mas sim o medo do diabo influenciá-lo e ele acabar me matando. Eu rezava na frente dele, e ele soltava a faca. Isso me dava um conforto incrível, eu sentia Deus em mim.
Um dia eu acordei a noite com um barulho vindo da minha janela. Acendi a luz e não vi nada, mas quando eu apagava a luz o barulho voltava. Então decidi deixar a janela aberta e apagar a luz, não demorou muito eu vi um vulto passar de longe pela janela e me assustei, achei que era um fantasma e me cobri com o cobertor, comecei a rezar e rezar, pedindo a deus para me defender. Da mesma forma, eu passei a sentir um sentimento de conforto muito bom, que me dava muita coragem, e eu até conseguia sair de baixo do cobertor e fechar a janela e dormir tranquilo.
São situações que me recordo muito bem e a mesma coisa pode-se imaginar para macumbas, sapos, e o escuro. Hoje, por uma série de circunstâncias, eu não acredito em Deus e interpreto o medo de outra forma.
Primeiro eu tento manter-me calmo (e te digo que sou mais calmo e paciente que a média)
e analiso a situação com frieza.
Outro dia desses eu tive a impressão de um vulto passar pela janela várias vezes, e depois ouvi um barulho dentro de casa. A primeira coisa que pensei foi "alguém entrou em casa" (ladrão). Levantei da cadeira e meu coração começou a acelerar. A segunda coisa que pensei foi "calma, como pode um ladrão atravessar uma janela com barras de ferro? E quais as chances de um ladrão entrar no 2° andar de um prédio velho da COHAB?". Os batimentos caíram, acalmei-me e fui ver o que aconteceu. Era um morcego frugívero com uma das asas machucadas. Só isso. Não passa mais pela minha cabeça ser um fantasma ou algo sobrenatural.
Hoje não tenho medo do diabo, de fantasmas e de macumba porque sei que não existem. Eu não tenho mais medo de sapos e cobras porque aprendi a diferenciar os perigosos dos inofensivos (se aparece uma cobra que desconheço, sim eu tenho medo). Altura eu ainda tenho medo (medo iminente de morte) porque pode acontecer um acidente, mas não rezo para deus, ao invés disso eu busco ficar longe do perigo. Do escuro, as vezes tenho medo de bater a cabeça em algum lugar (medo de ferir os olhos) mas não rezo para Deus me defender dos espíritos malignos do escuro, porque sei que não existem.
Depois de virar ateu eu perdi muitos dos medos que eu tinha. Sinceramente, desde então não lembro de nenhuma situação do tipo "só Deus pode me salvar". Bem, acho que é isso..
