Sim, temos livre-arbítrio, mas ele não é pleno, está limitado pelo nosso condicionamento, situação de vida, personalidade e impulsos orgânicos. Não é nulo nem pleno. Porém, quanto mais tomamos consciência das coisas, quanto mais sabemos, progressivamente maior será nossa liberdade de escolha. Quanto mais você se conhece, compreende seus limites e tendências, mais estará apto a tomar decisões independentes. Não somos animais que saem por aí fazendo as coisas sem refletirmos sobre as consequências de nossos atos, não é mesmo? Se não tivéssemos livre-arbítrio, jamais seríamos capazes de realmente aprendermos com nossos erros, continuaríamos apenas fazendo o que sempre fizemos sem refletir sobre nossos atos.
E acho que até certos animais entendem quando fazem alguma besteira, ainda que de forma inconsciente. Parte do livre-arbítrio é esta decisão pela reflexão de nossos atos, assim como em nos colocarmos no lugar do próximo (se fôssemos incapazes de escolher, faríamos apenas o que nos dá mais prazer e o que nos daria na telha, não pararíamos para refletir, apenas faríamos por impulso). Outra parte do livre-arbítrio está nos riscos que escolhemos tomar, coisa que normalmente não faríamos se apenas seguíssemos nossos impulsos. E muitas vezes se sujeitar a um ato arriscado requer reflexão, em você julgar se sua escolha a correr risco valerá ou não a pena no fim das contas. Ou seja, toda escolha consciente é livre-arbítrio, seja isso baseado em nossa alma ou em nossos neurônios.
E quando então escolhemos trabalhar numa profissão? Isso não é livre-arbítrio? Sem livre-arbítrio seríamos incapazes de tomar decisões baseadas em reflexão, apenas agiríamos por impulso. E se todos passassem a negar o livre-arbítrio, acredito que como consequência perderíamos as nossas liberdades civis.
E quando escolhemos fazer algo que normalmente não faríamos? Isso não é livre-arbítrio?
Sobre razão e intuição, a intuição é basicamente a nossa bagagem inconsciente, assim como nossa sensibilidade em relação a compreender o que está ao nosso redor, é uma razão sentida e pressentida, não pensada ou refletida. Você pode refletir sobre sua própria intuição, mas a intuição em si não é refletida, é espontânea. Ela simplesmente é e vem a ti. Ela é uma razão mais subjetiva do que objetiva. É como um sonho que te revela algo. Pessoas mais intuitivas geralmente estão menos sujeitas a cometer erros que uma pessoa menos intuitiva cometeria. Quanto maior sua intuição, maior sua perspicácia e compreensão.
Já a razão é o oposto, ela se baseia mais num pensamento concreto e delimitado, não abstrato. Intuição é inteligência abstrata, razão é inteligência concreta. Intuição é aquela inspiração que um bom artista possui, está correlacionada à criatividade. Poderia até dizer que a criatividade é resultado da intuição que é que nos dá a inspiração. Quanto mais desenvolvida é nossa intuição, mais também teríamos liberdade de escolha, mais seríamos capazes de transcender o que nos é materialmente delimitado, é como o voar de asas da imaginação. Razão segue regra de pensamento, intuição não, é mais livre.
A razão é lógica, refletida e coerente, a intuição é espontânea, sentida e inspirada.
Acredito que a ordem cognitiva ideal é intuição > razão > emoção. Em você primeiro prestar atenção em sua intuição, em seguida refletir sobre ela e então dar-lhe um sentido ético, ao invés de limitar-se a estruturas intelectuais rígidas. Se você se limita a isso, dará pouco espaço ao insight e inspiração em sua vida. A intuição ela pode lhe ajudar a expandir sua percepção das coisas, num sentido de você estar mais inspirado e ter uma visão de mundo mais ampla do que se somente se limitasse a um padrão intelectual rígido. Quanto mais nos tornamos rígidos e padronizados, menos inspirados nos tornamos. Assim sendo, acredito que a intuição tem um importante papel no desenvolvimento filosófico e prático. É ela que nos dá as nossas ideias.
Já pensou do que seria a humanidade se ninguém tivesse ideia ou insight para resolver problemas? É isso!