Enquete

Você acredita que acredita ou desacredita livremente no livre-arbítrio ou sua escolha é predeterminada por fatores além do seu controle?

Acredito no livre-arbítrio e ele é compatível com a causalidade
8 (25.8%)
Acredito no livre-arbítrio, mas ele não é compatível com a causalidade
4 (12.9%)
Não acredito no livre-arbítrio, pois ele é incompatível com a causalidade
19 (61.3%)
Não acredito no livre-arbítrio, apesar de ele ser compatível com a causalidade
0 (0%)

Votos Totais: 31

Autor Tópico: Livre-arbítrio  (Lida 14985 vezes)

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O Pensador

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Livre-arbítrio
« Resposta #25 Online: 09 de Agosto de 2005, 21:31:03 »
Citação de: Res Cogitans
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Mas isso nâo contradiz o fato de que podemos exerçer movimentos com o poder da decisâo voluntária de nossa consciência.Aliás,os movimentos braços e pernas estâo condicionados à decisâo consciente.


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Se estão necessariamente condicionados, nenhum movimento que fosse direcionado seria possível inconscientemente. Você não estudou lógica na faculdade não? Existem experimentos de pessoas que desenham figuras sem estar consciente disso, segundo sua hipótese isso seria impossível.

Vamos deixar mais claro com um argumento modus tollens:
A : os movimentos com finalidade dos membros são necessariamente conscientes
B:nenhum movimento com finalidade exercido pelos membros pode ser inconsciente.
Se A então B.
Existem movimentos com finalidade exercidos sem consciência, o que constitui ~B.
Então temos a seguinte dedução:
Se A então B.
~B
logo ~A.



Vc nâo está focando sua argumentaçâo no tema em questâo.Eu nunca disse que todos os tipos de movimentos sâo exercidos conscientemente,e sim os movimentos mecânicos dos membros superiores e inferiores.

Em segundo lugar, o exemplo citado por carece de fundamento.Ele pode ser verdadeiro,mas nâo é executado à nível totalmente inconsciente.

Ninguém desenha uma figura sem a devida consciência do seu ato.
Vc está cometendo um erro conceitual:Confundir propósito com consciência.

As pessoas podem desenhar alguma figura específica sem que tenham
objetivado desenhá-la.Mas elas nunca desenhariam sem que tenham decidido conscientemente.


Citar
Ou seja,em condiçôes normais a enfermidade citada por vc nâo tem controle sobre as decisôes conscientes pois o sistema geral permanece funcionando normalmente.


Citar
Sua resposta demonstra que você não entendeu nada do texto que cita. Existem módulos de decisão no cérebro que tem pesos diferentes, a decisão é tomada como se fosse um soma vetorial (aliás existe um resultado interessante de um cientista que fez um modelo vetorial para o movimento dos braços, ele associou vetores a diversos conjuntos de neurônios, a soma vetorial dos vetores associados aos neurônios previam com 10% de erro o movimento que o braço faria);


Esta discussâo é mais longa.Todavia,pode-se indentificar uma pressuposiçâo equivocada:Presumir injustificadamente que os neurônios ativam primariamente a conduta,sendo que há a possibilidade de que os neurônios sejam uma causa instrumental de um mecanismo cerebral mais abrangente e discreto.

Outra pressupociçâo equivocada:De que os neurônios nâo somatizam a vontade pessoal e consciente do ser humano,e sim que agem de forma absolutamente mecânica.Os neurônios podem atuar em concomitância com a decisâo consciente na modulaçâo do comportamento,ao invés de a decisâo consciente ser um resultado consequente da atividade neural.


Enquanto nâo houver provas científicas suficientes para corroborar sua tese,isso significa que ela nâo poderá ser firmada cientificamente.



 

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o que ocorreu é que esses modos foram impedidos de cooperarem  começando a agir independentemente. Porém um desses módulos não chega mais a consciência o que não impede em nada que ele continue tendo decisões. Os módulos precedem a consciência. Spinoza dá uma descrição muito interessante que vem sendo corroborada pela neurologia (inclusive o renomado neurologista Antonio Damásio escreveu um livro sobre a correspondência da filosofia de Spinoza com o estado atual da neurologia) :
“Conceba ainda, se quiser, que uma pedra, enquanto continua a se mover, seja capaz de pensar e conhecer, que ela está se esforçando, tanto quanto pode, em continuar a se mover. Tal pedra, sendo consciente meramente de seu próprio esforço e não de todo indiferente, acreditaria ser completamente livre e pensaria que continua em movimento unicamente em virtude de sua própria vontade. Essa é a liberdade humana, que todos se gabam possuir, e que consiste apenas no fato de que os homens têm consciência de seus próprios desejos, mas ignoram as causas pelas quais esse desejo foi determinado.” Spinoza


O eufemismo de Espinoza é uma tautologia,se intenciona ser um argumento comprobatório do determinismo materialista rígido.Ele só se aplica se o determinosmo rígido for absolutamente comprovado.

A questâo dos módulos é pura elucrubaçâo sem respaldo.Nâo há dados científicos que comprovem este postulado.Ele é somente uma hipótese.

Imaginemos, agora, um módulo que opere nossa atitude,através da consciência.Isso é contraditório,pois requer que um mecanismo inconsciente empregue a consciência como instrumento para modular a conduta.Ora..O módulo inconsciente a consciência sâo mutuamente excludentes.Um ato consciente exclui a participaçâo de elementos inconscientes e vice-versa.

Por exemplo,nâo podemos gerenciar conscientemente as batidas de nosso coraçâo e o funcionamento de nossos órgâos.Na medida em que fizéssemos isso,o elemento inconsciente perderia gradativamente seu controle operacional sobre o organismo.

Semelhantemente,os processos inconscientes de nosso organismo nâo podem realizar atos mediante a consciência,pois a consciência é totalmente livre e suficientemente versátil e funcional para movimentar nosso membros superiores e inferiores.Nâo há necessidade de apelar à um dispositivo inconsciente.



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Mas eles perdem a consciência acerca dos acontecimentos que os circundam, ou seja,eles nâo podem movimentar braços e pernas porque a consciência acerca da própria capacidade de movimentaçâo dos braços e pernas naquela determinada circunstância nâo existe pois eles nâo se situam na realidade circunstante imediata.


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Não, não perdem. Eles ouvem as conversas, enxergam as pessoas, e continuam fazendo reflexões durante o estado de catatonia. E eles não fazem movimentos não porque perderam a consciência e sim pq perderam o impulso/desejo/vontade de faze-lo.


Sim.Mas o impulso,desejo e vontade se assentam numa base comum:A consciência.Ninguém deseja nada inconscientemente.Um impulso nervoso conduz à uma açâo mecânica correspondente.E a vontade é expressâo da aspiraçâo consciente.

Todos os fatores mencionados por vc estâo estritamente relacionados à consciência,e condicionados por ela.Logo,teu argumento de que os catatônitos estâo neste estado nâo porque desejaram,mas por causa de uma pré-disposiçâo irrevogável do organismo,cai por terra.



Offline Res Cogitans

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Livre-arbítrio
« Resposta #26 Online: 11 de Agosto de 2005, 11:15:56 »
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Vc nâo está focando sua argumentaçâo no tema em questâo.


Novamente, vc sabe ler?

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Eu nunca disse que todos os tipos de movimentos sâo exercidos conscientemente,e sim os movimentos mecânicos dos membros superiores e inferiores


movimentos estes que têm comprovação empírica de poderem funcionar inconscientemente.

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Em segundo lugar, o exemplo citado por carece de fundamento.Ele pode ser verdadeiro,mas nâo é executado à nível totalmente inconsciente.

Ninguém desenha uma figura sem a devida consciência do seu ato.
Vc está cometendo um erro conceitual:Confundir propósito com consciência. As pessoas podem desenhar alguma figura específica sem que tenham
objetivado desenhá-la.Mas elas nunca desenhariam sem que tenham decidido conscientemente.


Não estou confundindo nada, a menos que você admita que pode-se desenhar figuras e responder questionários, coisas que podem exigir raciocínio, sem a consciência não há erro nenhum na argumentação. A frase: “Ninguém desenha uma figura sem a devida consciência do seu ato.” É contra-empírica, não é pq vc não gosta de uma coisa que ela deixa de ser real. Os pacientes calotomizados têm todos os movimentos de uma das metades do corpo como inconscientes, e esses movimentos não são meros espasmos ou aleatórios, e é isso que eu digo que eles são direcionados, eles desenham, respondem questionário e o que mais for possível para aquela metade.


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Todavia,pode-se indentificar uma pressuposiçâo equivocada:Presumir injustificadamente que os neurônios ativam primariamente a conduta,sendo que há a possibilidade de que os neurônios sejam uma causa instrumental de um mecanismo cerebral mais abrangente e discreto.


E a sua preposição é bem menos embasada que a minha, servindo somente de fuga. “um mecanismo cerebral mais abrangnte e discreto”... Que mecanismo? Como ele funciona? Você exige um rigor que inexiste em suas defesas mas quer na defesa dos outros. Qual a bibliografia que você tem sobre neurologia???

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De que os neurônios nâo somatizam a vontade pessoal e consciente do ser humano,e sim que agem de forma absolutamente mecânica.Os neurônios podem atuar em concomitância com a decisâo consciente na modulaçâo do comportamento,ao invés de a decisâo consciente ser um resultado consequente da atividade neural.


A concomitância é rejeitada uma vez que a atividade de neurônios precede cronologicamente a decisão consciente.

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Enquanto nâo houver provas científicas suficientes para corroborar sua tese,isso significa que ela nâo poderá ser firmada cientificamente.


Isso vale o mesmo para você, só que ao invés de apresentar dados como eu você prefere a esquiva.

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O eufemismo de Espinoza é uma tautologia,se intenciona ser um argumento comprobatório do determinismo materialista rígido.Ele só se aplica se o determinosmo rígido for absolutamente comprovado.


Não é eufemismo tão pouco tautologia. É uma analogia. E é óbvio que não se pretende como prova é um esclarecimento conceitual, que provavelmente você não entendeu.

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Imaginemos, agora, um módulo que opere nossa atitude,através da consciência. Isso é contraditório,pois requer que um mecanismo inconsciente empregue a consciência como instrumento para modular a conduta.Ora..O módulo inconsciente a consciência sâo mutuamente excludentes.Um ato consciente exclui a participaçâo de elementos inconscientes e vice-versa.


Não, os módulos não operam ATRAVÉS da consciência. A consciência é SENSO de propriedade das ações, não a propriedade das mesmas. A diferença de agir conscientemente para agir inconscientemente é o senso de propriedade das ações, se sua mão começasse a tentar te enforcar como aconteceu com uma das pacientes calotomizadas de Goldstein, você certamente veria essa ação como sua , até pq você não tem sequer idéia do q a mão fará. A ação da “mão alheia” (e por isso leva este nome) foge totalmente do senso de propriedade e portanto da consciência. Suas críticas se sustentam num conceito totalmente equivocado de consciência.

Voltando a questões anteriores:

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Nâo se o efeito sempre vier como resultado de abstraçâo equivalente,ou seja,se pensarmos em bater as palmas e verdadeiramente nossas mâos baterem uma na noutra e isso só ocorrer depois da tivaçâo do desejo consciente,logo o efeito tem que ter se originado na consciência.


Isso não elimina o que em nenhum aspecto o quote correspondente a este comentário. A abstração está na cadeia causal como necessidade da cadeia causal que lhe antecede.

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Livre arbvítrio nâo é sinônimo de indeterminismo.Auto determinismo também é livre arbítrio pois nâo adiciona a coaçâo como fator da equaçâo.


A autodeterminação exige que as escolhas do sujeito não tenham NENHUMA determinação antes desta escolha. O que viola o princípio da causalidade.
“Princípio da Causalidade (nada nasce do nada: TUDO tem uma causa)” Apresentação da Filosofia, pág 67
"Conhecer a verdade não é o mesmo que amá-la, e amar a verdade não equivale a deleitar-se com ela" Confúcio

Offline Marcelo Eyer

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Livre-Arbítrio
« Resposta #27 Online: 05 de Setembro de 2005, 23:39:15 »
A questão é bem simples. Podemos provar a influência hormonal sobre nossas decisões. Provamos também influências culturais, experiências passadas.... dentre outras.

A hipótese do livre-arbitrio não se faz necessária e não tenho fé nela.

Citação de: ATENCAO.net
Aplicando a Navalha de Ockham, podemos retirar o livre-arbitrio assim como Pierre Simon de Laplace tirou Deus ao reforumular a teoria de Newton e apresentar ao Napoleão Bonaparte.

O tal "livre-arbitrio" é que é uma hipótese fantástica e desconheço qualquer evidência sobre ela. Alguém pode me provar sua existência?

Offline Aronax

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Livre-arbítrio
« Resposta #28 Online: 06 de Setembro de 2005, 08:24:27 »
È óbvio que existem limitadores no livre arbítrio, e este é exercido dentro destes limites....por exemplo....eu desejava voar....mas não nasci com asas....logo me limito a andar na terra.....voar só de avião.
Uma verdade ou um ser podem ser vistos de vários pontos, porém a verdade e o ser estão acima de pontos de vista.

Offline Marcelo Eyer

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Livre-arbítrio
« Resposta #29 Online: 06 de Setembro de 2005, 08:57:28 »
Eu tenho a ligeira impressão que você não entendeu absolutamente nada do que eu escrevi.  :o

Offline Aronax

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Livre-arbítrio
« Resposta #30 Online: 06 de Setembro de 2005, 10:28:52 »
Citação de: Marcelo_Eyer
Eu tenho a ligeira impressão que você não entendeu absolutamente nada do que eu escrevi.  :o

 :histeria:  
Não escrevi em razão do que alguém aí tenha escrito.....  :D
Uma verdade ou um ser podem ser vistos de vários pontos, porém a verdade e o ser estão acima de pontos de vista.

Offline Dr. Manhattan

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Livre-arbítrio - mais uma vez
« Resposta #31 Online: 20 de Dezembro de 2006, 18:09:41 »
Oi pessoal,

Dando uma olhada na página da revista Economist, me deparei com um artigo que talvez vocês achem interessante (em inglês):

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Free to choose?
Dec 19th 2006
From The Economist print edition

Modern neuroscience is eroding the idea of free will

IN THE late 1990s a previously blameless American began collecting child pornography and propositioning children. On the day before he was due to be sentenced to prison for his crimes, he had his brain scanned. He had a tumour. When it had been removed, his paedophilic tendencies went away. When it started growing back, they returned. When the regrowth was removed, they vanished again. Who then was the child abuser?

His case dramatically illustrates the challenge that modern neuroscience is beginning to pose to the idea of free will. The instinct of the reasonable observer is that organic changes of this sort somehow absolve the sufferer of the responsibility that would accrue to a child abuser whose paedophilia was congenital. But why? The chances are that the latter tendency is just as traceable to brain mechanics as the former; it is merely that no one has yet looked. Scientists have looked at anger and violence, though, and discovered genetic variations, expressed as concentrations of a particular messenger molecule in the brain, that are both congenital and predisposing to a violent temper. Where is free will in this case?

Free will is one of the trickiest concepts in philosophy, but also one of the most important. Without it, the idea of responsibility for one's actions flies out of the window, along with much of the glue that holds a free society (and even an unfree one) together. If businessmen were no longer responsible for their contracts, criminals no longer responsible for their crimes and parents no longer responsible for their children, even though contract, crime and conception were “freely” entered into, then social relations would be very different.

We, the willing
For millennia the question of free will was the province of philosophers and theologians, but it actually turns on how the brain works. Only in the past decade and a half, however, has it been possible to watch the living human brain in action in a way that begins to show in detail what happens while it is happening (see survey). This ability is doing more than merely adding to science's knowledge of the brain's mechanism. It is also emphasising to a wider public that the brain really is a just mechanism, rather than a magician's box that is somehow outside the normal laws of cause and effect.

Science is not yet threatening free will's existence: for the moment there seems little prospect of anybody being able to answer definitively the question of whether it really exists or not. But science will shrink the space in which free will can operate by slowly exposing the mechanism of decision making.

At that point, the old French proverb “to understand all is to forgive all” will start to have a new resonance, though forgiveness may not always be the consequence. Indeed, that may already be happening. At the moment, the criminal law—in the West, at least—is based on the idea that the criminal exercised a choice: no choice, no criminal. The British government, though, is seeking to change the law in order to lock up people with personality disorders that are thought to make them likely to commit crimes, before any crime is committed.

The coming battle
Such disorders are serious pathologies. But the National DNA Database being built up by the British government (which includes material from many innocent people), would already allow the identification of those with milder predispositions to anger and violence. How soon before those people are subject to special surveillance? And if the state chose to carry out such surveillance, recognising that the people in question may pose particular risks merely because of their biology, it could hardly then argue that they were wholly responsible for any crime that they did go on to commit.

Nor is it only the criminal law where free will matters. Markets also depend on the idea that personal choice is free choice. Mostly, that is not a problem. Even if choice is guided by unconscious instinct, that instinct will usually have been honed by natural selection to do the right thing. But not always. Fatty, sugary foods subvert evolved instincts, as do addictive drugs such as nicotine, alcohol and cocaine. Pornography does as well. Liberals say that individuals should be free to consume these, or not. Erode free will, and you erode that argument.

In fact, you begin to erode all freedom. Without a belief in free will, an ideology of freedom is bizarre. Though it will not happen quickly, shrinking the space in which free will can operate could have some uncomfortable repercussions.

You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

Alan Watts

Eriol

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Re: Livre-arbítrio - mais uma vez
« Resposta #32 Online: 20 de Dezembro de 2006, 18:32:25 »
"In fact, you begin to erode all freedom. Without a belief in free will, an ideology of freedom is bizarre. Though it will not happen quickly, shrinking the space in which free will can operate could have some uncomfortable repercussions."

haha, mais um mito que até a direita ilustrada ve que cai... Liberdade... pff...

Offline Alegra

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Re: Livre-arbítrio - mais uma vez
« Resposta #33 Online: 20 de Dezembro de 2006, 18:39:23 »
Meu inglês é péssimo....mas o que entendi é que em alguns casos o cérebro pode agir contra a nossa vontade e ser o "culpado" por algumas de nossas ações pouco ou nada convencionais???
Me corrijam POR FAVOR! se eu estiver errada.   :vergonha:
Já sinto sua falta. Vá em paz meu lindo!

Offline Worf

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Re: Livre-arbítrio - mais uma vez
« Resposta #34 Online: 20 de Dezembro de 2006, 19:49:28 »
E a reflexão sobre o próprio comportamento, onde fica?
Que somos influenciados por instintos e vontades, todos sabem. Pela miríade de afecções e afetos, inúmeros fatores do mundo, causalidade… Mas não se pode negar que, a partir do momento em que há o eu reflexionante, e esse eu muitas vezes decide como se deve agir, mesmo que a consciência seja afetada, talvez determinada, os fatores são muitos para se ter uma noção exata do que a faz decidir sobre uma ação.

Esse desconhecimento sobre todos os fatores (que a ciência vai demorar pra catalogar, são quase infinitos) e essa reflexão possibilitam a liberdade. Além disso, há aqueles que negam seus instintos, há aqueles que não comem doces, há aqueles que podem não mudar em essência, mas podem agir de forma contrária ao que o inconsciente os conduz. Na análise do próprio comportamento que está a liberdade, e ninguém pode/deve excluir a consciência do indivíduo.

Como dificilmente poderemos saber todos os fatores que condicionam um comportamento, uma ação, uma vida, ou qualquer coisa mais complexa no Universo, o livre-arbítrio (mesmo que ilusório) é praticamente inescapável.

A não ser que se admita que o eu não exista. Entretanto, até pensar é um ato. Se não há esse ato, ou essa ilusão, então tudo é evolução natural do Universo, cega, inconsciente e sem-fim. É, ainda, um sentido para existir: deixar-se ser determinado. Eu não vejo valor em nada disso; é mais fácil se sentar e esperar pelo nada, já que tudo vai fluir sozinho mesmo, não importando o que pensarmos e aprendermos sobre o mundo.

Ilusão ou não, isso que nos move, pois são essas influências na consciência que nos permitem apreender o mundo. É nosso rolar da pedra de Sísifo. Mas conhecer é um ato, pensar sobre mundo é uma escolha, fazer Ciência é um trabalho, depende de cada um, não basta simplesmente estar exposto ao mundo.
« Última modificação: 20 de Dezembro de 2006, 20:52:15 por worf »

Offline Dbohr

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Re: Livre-arbítrio - mais uma vez
« Resposta #35 Online: 21 de Dezembro de 2006, 03:40:30 »
Big can of worms there...

Mas é aquilo: por mais que sejamos suscetíveis a esta ou aquela propaganda deste ou daquele produto, ou deste ou daquele comportamento, podemos desenvolver a consciência a noção de que o tal item está pegando no "ponto fraco", por assim dizer. E se percebemos que o tal item não é tão adequado, podemos desenvolver uma resistência a ele. De preferência com ajuda do bom e velho pensamento crítico :-)

Naturalmente, em casos como o do pedófilo citado, só pensamento crítico não resolve. Mas espero que esses sejam casos extremos.

Agora é de se imaginar que Admirável Novo Mundo surgiria se o conceito jurídico de livre vontade sumisse... ou mesmo se fosse substituído por um de vontade-não-tão-livre, ou vontade vinculada.

Offline FxF

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Re: Livre-arbítrio - mais uma vez
« Resposta #36 Online: 21 de Dezembro de 2006, 13:03:14 »
Liberdade é um conceito que pode ser bem discutido. Não é tão fixo como "é contra a lei de Deus sobre livre-arbítrio".

O que é liberdade? Direitos básicos de um ser humano.
O que é um crime? O que é contra ao que convém para o sistema.
O crime então limita sua liberdade? Sim, afinal de contas.
Os seus direitos como cidadão são os mesmos do que os direitos básicos como humano? Não, pois você tem uma função designada, que é garantir o sistema.
Não digo o que seja certo, afinal.

Atheist

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Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #37 Online: 26 de Setembro de 2008, 21:21:03 »
Sei que há alguns tópicos sobre livre arbítrio neste fórum, mas como o último foi bagunçado, posto um novo. O texto é bastante interessante.


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Livre-arbítrio e programação cerebral

Se nossos atos são determinados por acontecimentos anteriores, então não temos escolha sobre nada - nem responsabilidade sobre o que fazemos?
por Shaun Nichols

 
Cientistas e filósofos estão convencidos de que não existe livre-arbítrio. De acordo com esses céticos, tudo o que acontece é determinado pelo que ocorreu antes ─ nossos atos são conseqüências inevitáveis de acontecimentos que culminaram com outro ato ─ e isso impede que possamos fazer as coisas de forma inteiramente livre. Esse tipo de atitude contra o livre-arbítrio remonta aos debates filosóficos do século 18, mas ultimamente a idéia ganhou mais destaque em artigos e livros científicos de penetração popular. Será que devemos dar atenção a essas questões? Se as pessoas chegarem a acreditar que não têm livre-arbítrio, quais serão as conseqüências para a responsabilidade moral e ética?

Em um brilhante estudo, os psicólogos Kathleen Vohs, da University of Minnesota e Jonathan Schooler, da University of Califórnia, em Santa Bárbara, testaram a questão utilizando trechos do conhecido livro de ciência The Astonishing Hypothesis (“Uma hipótese assustadora”), de Francis Crick ─ bioquímico ganhador do prêmio Nobel com James Watson, pela descoberta dupla hélice do DNA. Metade dos participantes recebeu um trecho que começava da seguinte forma: “Você, suas alegrias e tristezas, suas lembranças e ambições, seu senso de identidade pessoal e livre-arbítrio, na realidade não são mais que o comportamento de um imenso aglomerado de neurônios e moléculas a eles associadas. A pessoa que você é não é mais que um pacote de neurônios.” O trecho prossegue discorrendo sobre a base neural das decisões e afirmações, que “...embora pareça que temos livre-arbítrio, na realidade, nossas escolhas já estão predeterminadas e isso não pode ser mudado.” Outros participantes receberam um trecho sobre a importância de estudar a consciência, que também parecia ter um cunho científico, mas não mencionava o livre arbítrio.

Depois de ler os trechos, todos completaram uma pesquisa sobre sua crença no livre-arbítrio. Aí veio a parte inspiradora do experimento. Os participantes receberam instruções para resolver 20 problemas aritméticos que seriam mostrados na tela do computador. Mas quando aparecesse a questão, eles precisariam pressionar a barra de espaço, caso contrário, uma falha de programação mostraria a resposta na tela. Os participantes também foram informados de que ninguém saberia se eles haviam pressionado a barra de espaço ou não, e lhes foi pedido que não tentassem trapacear.
Os resultados foram claros: os que leram o texto contra o livre-arbítrio tentaram trapacear mais! Ou seja, pressionaram a barra de espaço menos vezes que os outros. Além disso, os pesquisadores descobriram que o número de tentativas de trapaça de um participante estava correlacionado com o grau de rejeição ao livre arbítrio encontrado nas suas respostas na pesquisa.

Formas de imoralidade

Alguns elementos do estudo, no entanto são questionáveis. Em primeiro lugar, o texto contra o livre-arbítrio apresenta uma perspectiva sombria, e isso seria suficiente para levar alguém a trapacear mais (“Mas se eu sou simplesmente um conjunto de neurônios, tenho mais com que me preocupar do que me comportar bem nesse experimento!”). Talvez fosse possível obter um maior número de trapaças se os participantes tivessem recebido um trecho defendendo o princípio de que toda vida sensitiva, será no final destruída na morte escaldante do Universo.

Por outro lado, os resultados se encaixam nas previsões de alguns filósofos. A concepção ocidental da idéia de livre-arbítrio parece ligada de modo indissolúvel ao nosso senso de responsabilidade ética, o sentimento de culpa pelas más ações e orgulho nas realizações. O que nos mantém responsáveis é exatamente pensar que nossos atos provêm do livre-arbítrio. Sob esse aspecto, não é surpresa que as pessoas tenham um comportamento menos ético quando passam a desacreditar no livre-arbítrio. Além disso, o resultado da pesquisa de Voh e Schooler se ajusta à idéia de que as pessoas se comportarão com menos responsabilidade se considerarem que seus atos estão além do seu controle. Se uma pessoa pensa que não há motivo para tentar ser bom, então estará menos propensa a tentar.

Se a descrença no livre-arbítrio resulta nesses efeitos nocivos, poderíamos pensar nos limites a que as pessoas chegariam. Então nos perguntamos se os efeitos vão além do domínio moral. Trapacear em um experimento psicológico não parece tão terrível. Certamente também, o experimento não levou os participantes que leram o trecho contra o livre-arbítrio a terem um surto de criminalidade. Nossa repulsa moral pelos atos de matar e ferir os outros provavelmente é muito sólida para ser destruída por reflexões sobre determinismo. No entanto, outros tipos de comportamento antiético, como colar nas provas, poderiam ser afetados pela rejeição ao livre-arbítrio.
Será um efeito permanente?

Outra questão é se o efeito é duradouro. O estudo de Voh e Schooler sugere que logo após desacreditarem no livre arbítrio, as pessoas passam a trapacear mais. Mas o que aconteceria se essas pessoas voltassem ao laboratório duas semanas depois? Poderíamos descobrir que continuariam não acreditando no livre-arbítrio, mas não enganariam mais.

Não há evidência concreta sobre essa questão, mas há uma evidência recente correlacionada a ela. Em uma pesquisa sobre determinismo e responsabilidade moral, o filósofo Hagop Sarkissian da City University de Nova Iorque e colegas ─ havia pessoas de Hong Kong, Índia, Colômbia e Estados Unidos ─ completaram uma pesquisa sobre determinismo e responsabilidade. O determinismo foi descrito em termos não-técnicos, e foi perguntado aos participantes ─ na prática ─ se nosso Universo é determinista e se as pessoas em um Universo determinista são moralmente responsáveis por seus atos.

Eles descobriram que, em todas as culturas, a maioria das pessoas respondeu que nosso Universo não é determinista e também que as pessoas não são responsáveis por seus atos em um Universo determinista. Embora isso não seja exatamente uma surpresa, pois as pessoas querem acreditar que têm livre-arbítrio. Quando se estuda um grupo menor de pessoas que considera o Universo determinista, aparece um dado muito interessante. Em todas as culturas, a minoria cética, que não acredita no livre-arbítrio mostrou maior tendência em afirmar que as pessoas são responsáveis, mesmo que o determinismo seja verdadeiro. Uma forma de interpretar esse resultado é que se chegarmos a acreditar em determinismo, não mudaremos nossas atitudes morais; simplesmente inverteremos nosso ponto de vista de que o determinismo exclui a responsabilidade moral.

Muitos filósofos e cientistas rejeitam o livre-arbítrio e embora não existam estudos sistemáticos sobre o assunto, atualmente não há porque pensar que filósofos e cientistas que negam o livre-arbítrio sejam, de modo geral, moralmente menos corretos que os que nele acreditam. Mas isso levanta ainda outra questão intrigante sobre a crença no livre-arbítrio. Pessoas que se declaram claramente contra o livre-arbítrio muitas vezes continuam a ser responsáveis por seus atos e a se sentir culpadas por agir de forma errada. Será que essas pessoas conseguem harmonizar suas atitudes com sua rejeição ao livre-arbítrio? Será que conseguem conciliar sua noção de culpa e responsabilidade de modo a realmente não dependerem da existência do livre-arbítrio? Ou será que em momentos críticos, quando estão tentando tomar decisões difíceis, tentando fazer o que é certo, voltam a acreditar que, no final das contas, eles têm mesmo livre-arbítrio?

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http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/livre-arbitrio_e_programacao_cerebral.html

Offline calvino

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #38 Online: 27 de Setembro de 2008, 15:41:52 »
Interessante esse texto, ao dizer que aqueles que não acreditam no livre-arbítrio tendem a trapacear mais.

Ainda mais interessante se colocarmos que muitos grupos religiosos (inclusive o meu), principalmente os de orientação teológica/reformada/calvinista declaradamente não acreditam nele.

Colocam inclusive que a crença no livre-arbítrio é um fator que colabora para a prática do que é errado. Eu inclusive penso assim.

Bom, falei isso porque, pelo texto, só os ateus-ruins-comedores de crianças é que são ateus.


Abraços.
"Se a moralidade representa o modo como gostaríamos que o mundo funcionasse, a economia representa o modo como ele realmente funciona" Freakonomics.

Offline Hud

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #39 Online: 05 de Outubro de 2008, 18:02:11 »
"Temos de acreditar no livre arbitrio. Não temos escolha."     Isaac Singer :hihi:
« Última modificação: 05 de Outubro de 2008, 18:04:39 por Hud »

Offline Sklogw

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #40 Online: 18 de Outubro de 2008, 21:26:18 »
O filósofo indiano Krishnamurti tem uma bela alegoria sobre o livre-arbítrio. O ser humano imagina ter livre-arbítrio da mesma forma que o planeta Terra no seu movimento de translação em torno do Sol imaginaria (se tivesse consciência, claro) fazê-lo, quando, na verdade, está apenas reagindo a leis universais da mecânica. O livre-arbítrio é uma ilusão provocada pelo nosso desconhecimento dos fatores neurológicos, sociais, culturais, etc. que nos levam a fazer (ou não fazer) alguma coisa.
"The most ordinary things are to philosophy a source of insoluble puzzles." [Ludwig Boltzmann]

"I venture to think that the people who talk most about it are the people who do least about it. Scientific method is what working scientists do, not what other people or even they themselves may say about it." [Percy W. Bridgman, "Reflections of a Physicist"]

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Offline Artefacts.of.Chaos

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #41 Online: 02 de Novembro de 2008, 20:07:52 »
ou também aquela clássica teoria da Matrix, onde o livre arbítrio é pré-programado, com escolhas que já possuem suas consequências determinadas até o final...
Não se deve explicar o que não se sabe por meio do que não se vê.

Offline Galthaar

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #42 Online: 02 de Novembro de 2008, 21:19:39 »

Perguntinha:

Porquê a ausência do livre-arbítrio deveria implicar em não-responsabilidade?

"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

Moishe Postone, Tempo, trabalho e dominação social

Offline Luis Dantas

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #43 Online: 02 de Novembro de 2008, 21:47:58 »
Não implica.
Wiki experimental | http://luisdantas.zip.net
The stanza uttered by a teacher is reborn in the scholar who repeats the word

Em 18 de janeiro de 2010, ainda não vejo motivo para postar aqui. Estou nos fóruns Ateus do Brasil, Realidade, RV.  Se a Moderação reconquistar meu respeito, eu volto.  Questão de coerência.

Offline Galthaar

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #44 Online: 03 de Novembro de 2008, 00:01:37 »

Eu sei, mas não é o que muitas pessoas pensam.

"A dominação social no capitalismo, no seu nível mais fundamental, não consiste na dominação das pessoas por outras pessoas, mas na dominação das pessoas por estruturas sociais abstratas constituídas pelas próprias pessoas."

Moishe Postone, Tempo, trabalho e dominação social

Offline JUS EST ARS

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #45 Online: 03 de Novembro de 2008, 00:47:24 »


Isso de livre-arbítrio não existir porque 1) somos uma aglomerado de moléculas e 2) porque tudo o que acontece é inevitavelmente determinado pelo que ocorreu antes é um completo nonsense.

1) Ora, que somos um aglomerado de moléculas ninguém duvida. Isso de forma alguma implica em inexistência de livre-arbítrio. Só implica que somos um aglomerado de moléculas.

2) Tudo o que fazemos hoje decorre inevitavelmente do que fizemos antes (acordei hoje porque dormi ontem), mas não há qualquer paradoxo entre isso e livre-arbítrio. De forma alguma isso impede que façamos qualquer coisa inteiramente livres, como sugere o texto.

Esse aglomerado de moléculas é capaz de pensar abstratamente; porque não somos regidos pela lógica formal, nem pela regra de causa e efeito em nossas relações internas e na forma de expormos nossa conclusão a alguém, fácil fica ver que livre-arbítrio é algo que evidentemente temos.

A lógica formal não atribui peso diferente a valores diferentes; trabalha com raciocínios que se aplicam a situações objetivamente iguais.


  • "Furto é crime que visa proteger o patrimônio alheio móvel.
    Furtar é subtrair o patrimônio alheio móvel.
    José subtraiu o carro de Mário.
    O carro é patrimônio alheio móvel.
    Logo, José praticou o crime de furto e deve ser preso."



Isso é lógica formal. Um outro exemplo de lógica formal seria o seguinte:


  • "Furto é crime que visa proteger o patrimônio alheio móvel.
    Furtar é subtrair o patrimônio alheio móvel.
    José subtraiu a caneta de Mário.
    A caneta é patrimônio alheio móvel.
    Logo, José praticou o crime de furto e deve ser preso."


Quando se aplica análises valorativas, com peso diferente a valores diferentes, pode-se não obter o mesmo resultado:


  • "Furto é crime que visa proteger o patrimônio alheio móvel.
    Furtar é subtrair o patrimônio alheio móvel.
    José subtraiu a caneta de Mário.
    A caneta é patrimônio alheio móvel.
    A caneta custa um real, o resultado lógico seria a prisão.
    Não se pode valorar de forma igual quem furta um carro e quem furta uma caneta.
    Objetivamente, um real não afeta significativamente nenhum patrimônio alheio móvel.
    Não se pode tirar a liberdade de alguém por causa de um real.
    José deve restituir a caneta e pagar indenização.
    Logo, José não praticou crime de furto e não deve ser preso."


O que se quer dizer é que toda vez que pensa abstratamente em questões subjetivas, se está exercitando o livre-arbítrio pleno.

E a mim, fica inclusive difícil pensar em situações em que não há absolutamente liberdade de pensamento, mesmo em questões objetivas.

« Última modificação: 03 de Novembro de 2008, 01:17:05 por JUS EST ARS »

Offline JUS EST ARS

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #46 Online: 03 de Novembro de 2008, 01:15:57 »


Além disso, o texto encerra uma grande contradição.

Se não é dito às pessoas que elas não têm livre-arbítrio elas agem de um modo.
Se é dito às pessoas que elas não têm livre-arbítrio elas agem de um outro modo.

Logo, as pessoas do teste que acreditaram que não têm livre-arbítrio optaram por se deixar levar por impulsos (no caso do texto, ver a resposta certa), agindo de forma diferente do que normalmente agiriam.

Isso é livre-arbítrio.



Offline Eremita

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #47 Online: 13 de Novembro de 2008, 23:12:24 »
Perguntinha:

Porquê a ausência do livre-arbítrio deveria implicar em não-responsabilidade?

Não implica.

Bingo.

Se da mesma forma que a pessoa comete um assassinato por ser "programada" a isso, e não uma "escolha" dela, eu mando-a para a prisão não por uma "escolha" minha, mas sim porque fui "programado" a fazê-lo! :biglol:
Latebra optima insania est.

Offline ICOGNITUX

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Re: Livre-arbítrio e programação cerebral
« Resposta #48 Online: 28 de Novembro de 2008, 13:36:42 »
Eis o que eu penso sobre o livre arbítrio:

ME DIZ O QUE ESPERAS
DESSE MUNDO TÃO COMPLEXO
SITUADO BEM NO CENTRO
DO UNIVERSO
QUE TU OBSERVAS
TÃO ZELOSAMENTE

TEU SILÊNCIO ME ENCOMODA
ME SUFOCA, ME CORROI
OLHES BEM À TUA VOLTA
E ME DIZ SE CONSEGUES DORMIR EM PAZ
NÃO VÊS QUE O TEU MAIOR ORGULHO
FOI LONGE DEMAIS?
NÃO VÊS QUE O TEU MAIOR ORGULHO
FOI LONGE DEMAIS?

ME DIZ SE HÁ SENTIDO
EM TAMANHA INCONSEQUÊNCIA
É PRECISO TOMAR UMA PROVIDÊNCIA
ATÉ MESMO EU ESTOU HORRORIZADO

SE ELES SÃO CAPAZES
DE MALDADES INIMAGINÁVEIS
NÃO ME OLHES DESSE GEITO
POIS NISSO EU NÃO TENHO PARTE
AFINAL, QUEM FOI
QUE LHES DEU LIVRE ARBÍTRIO?
AFINAL, QUEM FOI
QUE LHES DEU LIVRE ARBÍTRIO?

SINTO MUITO, MAS NÃO VOU ME CURVAR
AO SEU TRONO NEM ME CALAR
NÃO ME CULPES SE UM DIA EU SOPRAR
PRA BEM LONGE TUDO QUE HÁ

SINTO MAUITO, MAS NÃO VOU ME CURVAR
AO SEU TRONO NEM ME CALAR
NÃO ME CULPES SE UM DIA EU SOPRAR
PRA BEM LONGE TUDO QUE HÁ

TUDO QUE HÁ...

============= TUDO QUE HÁ =============
De: Vander Ônix
( Todos os direitos reservados )

Entenderam?

« Última modificação: 28 de Novembro de 2008, 13:39:10 por ICOGNITUX »
Tudo... Nada... Eis a questão.

Offline uiliníli

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O problema do livre-arbítrio
« Resposta #49 Online: 04 de Março de 2009, 18:55:03 »
O problema do livre-arbítrio
Paulo Ruas
Escola Básica e Secundária de Velas, S. Jorge, Açores


Crítica na rede

Num livro que as salas de aula contribuíram para tornar famoso, podemos encontrar a seguinte passagem:

    Vou contar-te um caso dramático. Já ouviste falar das térmitas, essas formigas brancas que, em África, constroem formigueiros impressionantes, com vários metros de altura e duros como pedras? Uma vez que o corpo das térmitas é mole, por não ter a couraça de quitina que protege outros insectos, o formigueiro serve-lhes de carapaça colectiva contra certas formigas inimigas, mais bem armadas do que elas. Mas por vezes um dos formigueiros é derrubado, por causa de uma cheia ou de um elefante (os elefantes, que havemos nós de fazer, gostam de coçar os flancos nas termiteiras). A seguir, as térmitas-operário começam a trabalhar para reconstruir a fortaleza afectada, e fazem-no com toda a pressa. Entretanto, já as grandes formigas inimigas se lançam ao assalto. As térmitas-soldado saem em defesa da sua tribo e tentam deter as inimigas. Como nem no tamanho nem no armamento podem competir com elas, penduram-se nas assaltantes tentando travar o mais possível o seu avanço, enquanto as ferozes mandíbulas invasoras as vão despedaçando. As operárias trabalham com toda a velocidade e esforçam-se por fechar de novo a termiteira derrubada… mas fecham-na deixando de fora as pobres e heróicas térmitas-soldado, que sacrificam as suas vidas pela segurança das restantes formigas. Não merecerão estas formigas-soldado pelo menos uma medalha? Não será justo dizer que são valentes? Mudo agora de cenário, mas não de assunto. Na Ilíada, Homero conta a história de Heitor, o melhor guerreiro de Tróia, que espera a pé firme fora das muralhas da sua cidade Aquiles, o enfurecido campeão dos Aqueus, embora sabendo que Aquiles é mais forte do que ele e que vai provavelmente matá-lo. Fá-lo para cumprir o seu dever, que consiste em defender a família e os concidadãos do terrível assaltante. Ninguém dúvidas: Heitor é um herói, um homem valente como deve ser. Mas será Heitor heróico e valente da mesma maneira que as térmitas-soldado, cuja gesta milhões de vezes repetida nenhum Homero se deu ao trabalho de contar? Não faz Heitor, afinal de contas, a mesma coisa que qualquer uma das térmitas anónimas? Por que nos parece o seu valor mais autêntico e mais difícil do que o dos insectos? Qual a diferença entre um e outro caso? Muito simplesmente, a diferença assenta no facto de as térmitas-soldado lutarem e morrerem porque têm de o fazer, sem que possam evitá-lo (como a aranha come a mosca). Heitor, pelo seu lado, sai para enfrentar Aquiles porque quer. As térmitas-soldado não podem desertar, nem revoltar-se, nem fazer cera para que outras vão em seu lugar: estão programadas necessariamente pela natureza para cumprir a sua heróica missão. O caso de Heitor é distinto. Poderia dizer que está doente ou que não tem vontade de se bater com alguém mais forte do que ele. Talvez os seus concidadãos lhe chamassem cobarde e o considerassem insensível ou talvez lhe perguntassem que outro plano via ele para deter Aquiles, mas é indubitável que Heitor tem a possibilidade de se recusar a ser herói. Por muita pressão que os restantes exercessem sobre ele, ele teria sempre maneira de escapar daquilo que se supõe que deve fazer: não está programado para ser herói, nem o está seja que homem for. Daí que o seu gesto tenha mérito e que Homero nos conte a sua história com uma emoção épica. Ao contrário das térmitas, dizemos que Heitor é livre, e por isso admiramos a sua coragem.
    Fernando Savater, Ética para um Jovem (Lisboa: Dom Quixote, 2005)

Ética para um Jovem

O louvor de Heitor é justificado porque:

   1. Heitor não tinha inevitavelmente de enfrentar Aquiles em combate; podia seguir outro caminho: por exemplo, fingir-se doente e recusar-se a combater. Tinha, portanto, cursos alternativos de acção ao seu dispor.
   2. Optar por um ou outro desses cursos alternativos de acção apenas dependia de Heitor: é ele o autor das suas acções. Heitor não nasceu herói; tornou-se herói ao decidir sê-lo.

Entende-se por curso alternativo de acção qualquer opção que esteja disponível ao agente e que este possa pôr em prática.

As térmitas não merecem louvor porque:

   1. As térmitas-soldado comportam-se sempre da mesma forma quando o seu formigueiro está em perigo. Mesmo que quisessem não poderiam evitar agir assim porque é essa a sua natureza. O seu comportamento é causado pelo programa genético que herdaram e que exclui que elas adoptem outros cursos alternativos de acção sempre que o formigueiro é atacado.
   2. O curso de acção adoptado não depende delas: as térmitas-soldado não escolheram sacrificar-se para salvar as outras térmitas. Isso foi-lhes imposto pela sua natureza (os seus genes).

Entende-se por programa genético aquilo para o qual os genes predispõem o organismo. Trata-se do conjunto de instruções bioquímicas que fazem com que um organismo desenvolva características de determinado tipo, como a cor dos olhos, asas em vez de mãos, etc. Estas instruções estão no núcleo das células; os genes são o alfabeto em que estão escritas, são as unidades básicas que as compõem.

As diferenças detectadas entre o comportamento de Heitor e o das térmitas-soldado permitem-nos identificar em que condições uma acção deve ser considerada livre e em que condições o não é.

Isto dá-nos a seguinte definição: um agente pratica livremente uma acção X se e somente se:

   1. Tem ao seu dispor mais do que um curso alternativo de acção.
   2. Está sob o seu controlo (apenas depende dele) praticar ou não a acção.

Entendida deste modo, a liberdade é sinónimo de autodeterminação. Um agente possui autodeterminação quando é ele próprio (auto) que faz acontecer (determina) a acção. É isto que significa dizer que temos nas mãos o nosso destino ou que somos os autores do que virão a ser as nossas vidas. Supomos ser os autores da pessoa em que nos tornámos porque podíamos ter escolhido outro rumo para a nossa vida (condição 1) e ainda porque nos coube realmente a última palavra na escolha do caminho que seguimos, e a ninguém mais (condição 2).

Exemplos de comportamentos não livres: a cleptomania ou alguém que não consegue sair de uma sala porque está fechado à chave. Em qualquer dos casos o agente não tem o controlo da situação (mesmo que faça o que deseja fazer).

Os cleptomaníacos são pessoas que sofrem de uma tendência doentia e incontrolável para roubar, não conseguindo deixar de o fazer mesmo que isso implique grandes problemas para si próprias: com a justiça, etc. O cleptomaníaco deseja fazer o que faz (roubar), embora muitas vezes preferisse não ter esse desejo.
Heitor e as causas do seu comportamento

Heitor enfrentou Aquiles voluntariamente; o seu comportamento foi intencional. Heitor enfrenta Aquiles voluntariamente porque deseja salvar Tróia dos invasores e acredita que, nas circunstâncias em que se encontra, enfrentar Aquiles em combate é uma maneira de evitar que os invasores consigam o que querem e um dever para com os seus concidadãos (a que não deseja fugir).

Este desejo e esta crença, em conjunto, causaram o comportamento de Heitor.

Mas podemos agora perguntar: o que terá dado origem a este desejo e esta crença? Qual a sua causa? Se Heitor não tivesse a personalidade que tinha (honesto, corajoso, com um forte sentido de responsabilidade para com os seus concidadãos, etc.) talvez optasse por fingir-se doente para não enfrentar Aquiles. A coragem e a honestidade são características que reflectem a personalidade das pessoas. Este desejo e crença de Heitor têm origem na sua personalidade.

Mas qual é a causa da personalidade de Heitor? Talvez algumas das características da sua personalidade já estivessem previstas nos seus genes e nascido com ele; outras, terá sido ao longo do seu desenvolvimento, através do contacto com o seu meio ambiente, que as adquiriu. Foram, portanto, os genes e a influência do meio ambiente que deram origem à sua personalidade (que a causaram).

Mas em que consiste um acontecimento ser a causa de outro, ou um acontecimento ser o efeito de outro?

Vejamos alguns exemplos. A queda do pedaço de giz que seguro na mão, ao abri-la, é uma consequência (um efeito) da lei da gravidade (causa). O acender de um fósforo é uma consequência de: 1) haver oxigénio no ar; 2) a lixa estar seca; 3) a pressão do fósforo na lixa ser adequada; 4) o fósforo estar em condições. A ocorrência simultânea dos factores 1-4 é a causa que torna fisicamente impossível o fósforo não acender (efeito). Uma barra de metal aquecida até à temperatura apropriada aumenta — é uma lei da natureza — de volume (dilatação).

Estas considerações sugerem a possibilidade de os genes de Heitor em conjunção com as condições físicas e sociais em que cresceu fazerem com que viesse a ter a personalidade que tinha.

Esta hipótese obriga-nos a colocar as seguintes questões. Poderia o comportamento de Heitor ser diferente mantendo-se inalteradas as causas que lhe deram origem? Poderia ele agir de outra maneira tendo a personalidade que tinha e sendo as circunstâncias as que eram?
Determinismo

Perguntar se, tendo Heitor a personalidade que tinha, a decisão de enfrentar Aquiles seria inevitável é colocar a hipótese do seu comportamento ter sido determinado por factores que não controlava.

À primeira vista, se Heitor agiu livremente, o seu comportamento podia ter sido diferente do que foi. Mas se o seu comportamento teve origem na sua personalidade (nos seus genes e meio ambiente), sendo esse meio e esses genes o que foram, Heitor não podia ter agido de outro modo. Se assim for, Heitor não agiu livremente: não tinha diferentes cursos de acção ao seu dispor.

A possibilidade de Heitor não ter agido livremente ao enfrentar Aquiles coloca-se quando percebemos que o comportamento de Heitor tinha uma causa, e que essa causa fazia parte de uma cadeia causal que ia tão longe quanto os seus genes e o meio ambiente em que a sua personalidade se desenvolveu. Dir-se-ia que o problema está em o comportamento de Heitor fazer parte, então, de uma cadeia de causas que ele não controla (não escolheu os seus genes nem o meio ambiente) e estes factores determinarem à partida qual vai ser o seu comportamento. Seria esta a origem das suas acções. Mas se a sua acção tem origem em factores que não lhe deixam outra alternativa, é justo suspeitar de Heitor não ter, afinal, livre-arbítrio.

Isto permite comparar a situação de Heitor com o caso, mais simples, de um pedaço de giz que cai se abrirmos os dedos que o seguram. A queda do giz era inevitável considerando as leis da natureza: estava, pois, determinada. O comportamento de Heitor estaria também determinado.

Mas o que é o determinismo? O determinismo é uma concepção acerca do modo como se processa a relação entre as causas e os efeitos que observamos na natureza. Consiste em defender que todo o acontecimento B tem como causa um acontecimento anterior A, de tal modo que, segundo as leis da natureza, B é uma consequência inevitável de A: sendo as leis da natureza o que são, e tendo-se verificado A, é impossível não ocorrer B. Vejamos de novo o exemplo do giz: tendo largado o giz que segurava nos dedos (acontecimento A) e sendo as leis da natureza o que são (neste caso as leis da gravidade) a queda do giz não podia deixar de acontecer — era inevitável (acontecimento B). O mesmo acontece em todos os outros casos.

Podemos, então, dizer o seguinte: uma situação, seja ela qual for, pode ser explicada deterministicamente quando:

    A ocorrência de um acontecimento X é uma consequência inevitável (e não apenas provável) das causas que o antecedem, em conjunto com as leis da natureza.

Como se vê, esta ideia tinha já sido introduzida anteriormente (a propósito de Heitor e de outros casos).

Mas podemos tirar dela uma conclusão muito geral: segundo o determinismo, tudo o que acontece no universo é a consequência inevitável do seu estado anterior em conjunto com as leis da natureza. Recuemos por momentos às primeiras causas do universo. No primeiro instante teríamos o Big Bang, depois, entre o Big Bang e o seu estado actual, uma longa cadeia de acontecimentos em que cada um determina o seguinte. Durante esta cadeia de acontecimentos formaram-se estrelas, galáxias, outras desapareceram, etc., tudo isto de acordo com causas anteriores e seguindo sempre as leis naturais. A história do universo seria uma longa sequência cuja ordem não poderia ser diferente da que foi, e que resultou directamente das leis da natureza em conjunto com o estado da situação anterior ao Big Bang. Aquilo que afirmámos acerca do pedaço de giz pode ser aplicado ao universo no seu conjunto.

Durante muito tempo, esta ideia esteve presente em física, e ainda hoje são muitos os cientistas que a aceitam; Einstein, por exemplo, foi um deles: nada na natureza sucede por acaso.

Esta concepção de causalidade está também presente na física de Newton, embora possa passar despercebida. Se pensarmos na fórmula F = ma compreendemos que o valor de F, m ou a, depende inevitavelmente dos valores conjugados dos outros dois factores, de modo que sabendo a massa de um corpo e o valor da sua aceleração, podemos determinar o valor de F não apenas como sendo um valor provável mas como algo de que poderemos estar totalmente seguros.

Na verdade, durante séculos, a ciência propôs-nos uma visão determinista do mundo e, por esse motivo, o problema do livre-arbítrio foi entendido como o de saber se a imagem que temos de nós próprios enquanto agentes livres seria conciliável com uma concepção científica do mundo.
O problema do livre-arbítrio

Se interpretarmos o comportamento de Heitor à luz do conceito de liberdade teremos de concluir que Heitor podia não ter feito o que fez. Se interpretarmos o seu comportamento deterministicamente (considerando a série de causas e efeitos que conduzem à acção de enfrentar Aquiles uma sequência inevitável de acontecimentos), teremos de concluir que Heitor não podia não ter feito o que fez. Ora, isto é contraditório. Será possível evitar este resultado?

Entendido no sentido indicado, o problema do livre-arbítrio pode ser formulado da seguinte maneira:

    Problema 1: Será o determinismo conciliável com a existência de agentes livres?

Note-se que esta é uma maneira bastante sintética de chamar a atenção para o facto de o determinismo implicar que tudo o que acontece (incluindo as nossas acções e movimentos corporais) é uma consequência inevitável de acontecimentos anteriores que os causaram de acordo com as leis da natureza, e que ser livre implica que o agente podia ter evitado fazer o que fez. Há, portanto, entre estas duas ideias um choque que está em aberto saber se pode ser evitado.

A resposta incompatibilista a este problema é que o choque (a incompatibilidade) não é só aparente:

    Se o determinismo é verdadeiro, então não há acções livres.

A resposta compatibilista, pelo contrário, sustenta que há uma maneira de evitar o choque entre estes conceitos:

    O determinismo é verdadeiro e existem acções livres.

Convém notar que a posição incompatibilista consiste em afirmar que determinismo e livre-arbítrio são incompatíveis; mas esta posição, só por si, não nos diz qual das alternativas é verdadeira. Partimos do princípio de que uma exclui a outra, mas resta ainda mostrar qual delas é o caso.

O problema do livre-arbítrio, na sua formulação completa, implica colocar mais duas questões:

    Problema 2: Será o determinismo verdadeiro?

    Problema 3: Existe livre-arbítrio?

Note-se que um compatibilista responde SIM a ambas as perguntas (o compatibilista acha que uma acção pode ser em simultâneo determinada e livre). Mas o mesmo não acontece com o incompatibilista.

Para o incompatibilista, responder SIM a uma delas implica responder NÃO à outra. Isto dá-nos duas posições incompatibilistas tradicionais: (i) os incompatibilistas que defendem que o determinismo é verdadeiro; (ii) os incompatibilistas que defendem que existe livre-arbítrio. Os primeiros são designados deterministas radicais; os segundos são designados libertistas.

Podemos, em consequência, observar que os deterministas radicais baseiam a sua posição no seguinte argumento A:

    1) Se o determinismo é verdadeiro, não há acções livres.
    2) O determinismo é verdadeiro. Logo, não há livre-arbítrio

Os libertistas baseiam-se também em duas premissas, mas tiram outra conclusão. O argumento B completo é:

    1) Se o determinismo é verdadeiro, não há livre-arbítrio.
    2) Há livre-arbítrio.
    Logo, o determinismo é falso.

Qualquer destes argumentos é válido. Assim, num caso como noutro, se aceitarmos ambas as premissas temos de aceitar a conclusão. O nosso objectivo, dado que estamos interessados em conhecer melhor cada uma destas teorias, é saber em que se baseiam os seus defensores para afirmar que partem de premissas verdadeiras. A nossa investigação terá dois momentos.

Primeiro, examinaremos dois argumentos a favor da posição incompatibilista. Estes argumentos dar-nos-ão razões para aceitarmos a primeira premissa. Depois, num segundo momento, procuraremos ver em que se baseiam os defensores do determinismo (segunda premissa do argumento A); finalmente, veremos algumas das razões em que se apoiam os defensores do livre-arbítrio (a segunda premissa do argumento B). Eis em esquema as três posições sobre o problema:

Teorias Liberdade e determinismo são compatíveis? Será o determinismo verdadeiro? Será que temos livre-arbítrio?
Determinismo radicalNãoSimNão
LibertismoNãoNãoSim
Determinismo moderadoSimSimSim

Argumentos a favor do incompatibilismo

Iremos ver em seguida dois argumentos tradicionais a favor do incompatibilismo. O primeiro pode ser designado por Argumento da Causalidade à Distância, embora o nome seja pouco importante.

Mas antes de apresentar este argumento convém notar o seguinte. Ambos têm como objectivo provar que o incompatibilismo é verdadeiro. Ambos são dedutivos e ambos terão obrigatoriamente como conclusão a tese incompatibilista "Se o determinismo é verdadeiro, então não há acções livres". Afinal, é exactamente isto que se quer justificar. Uma vez que os argumentos são válidos, se as premissas forem todas verdadeiras, dão-nos uma prova racional (uma demonstração) de que o incompatibilismo é verdadeiro. De igual modo, se defendermos uma posição compatibilista, temos de mostrar que pelo menos uma premissa é falsa (e qual).
Argumento da causalidade à distância:

       1. Se o determinismo é verdadeiro, as acções que um agente pratica são causadas por factores fora do seu controlo (genes e meio ambiente).
       2. Se uma acção escapa ao controlo do agente (se não depende de si), não somos responsáveis pela acção.

    Então, isto significa que:

       3. Se o determinismo é verdadeiro, não somos responsáveis pelas acções que praticamos.

    Mas, dada a relação que há entre liberdade e responsabilidade,

       4. Se não somos responsáveis pelas acções que praticamos, não somos livres.

    Logo, se o determinismo é verdadeiro, então não somos livres.

Análise do argumento

Premissa 1: Esta premissa limita-se a aplicar o conceito de determinismo às acções humanas e a chamar a atenção para o facto de cada acção que praticamos ter causas muito distantes no tempo. Vejamos o caso de Heitor. A sua personalidade formou-se muito antes de Heitor ter enfrentado Aquiles. No entanto, a decisão que tomou foi causada pela sua personalidade (se Heitor não fosse corajoso e honesto não teria enfrentado Aquiles); por sua vez, a sua personalidade foi causada pelos seus genes e pelo ambiente em que cresceu e foi educado (meio físico e social). Portanto, poderemos dizer, recuando na sequência de causas até ao passado, que os seus genes, em conjunto com o meio, causaram a acção de Heitor. (No sentido em que, num choque em cadeia de quatro bolas de bilhar, se diz que o movimento da primeira causou o movimento da quarta.) Ora, Heitor não escolheu os seus genes nem o meio em que cresceu; daí não ter sobre eles qualquer controlo (não dependia dele evitar serem o que foram).

Premissa 2: Esta premissa sublinha uma importante relação entre liberdade e responsabilidade, tal como a entendemos vulgarmente. Vejamos um exemplo. Estou na fila da cantina e atrás de mim alguém me empurra. Não pude evitar cair sobre a pessoa que está à minha frente, que se magoa. Poderei ser responsabilizado pelo sucedido? A resposta é não. Resta saber porquê: é que, por um lado, não magoei a pessoa intencionalmente; e por outro, não podia evitar cair sobre ela. Como não o podia evitar, não estava em meu poder praticar ou não a acção; logo, não posso ser responsabilizado por ela. Assim, esta premissa limita-se a dizer que somos responsáveis apenas pelas acções que dependem de nós — que está em nosso poder praticar (ou não).

Passo 3: Este ponto do argumento deduz-se das premissas anteriores. Se o determinismo ser verdadeiro implica ausência de controlo sobre as acções, e se a ausência de controlo sobre as acções implica ausência de responsabilidade, então o determinismo implica ausência de responsabilidade. Compare este raciocínio com o seguinte de modo a verificar que são do mesmo tipo: A é maior que B e B é maior que C; logo, A é maior que C. Ambos formam uma cadeia lógica.

Há, no entanto, um importante aspecto a sublinhar a respeito deste passo. É que se vê agora qual a principal motivação para a discussão do problema do livre-arbítrio tal como o formulámos. Tudo indica que o determinismo ser verdadeiro obriga a pôr em causa uma das nossas práticas mais básicas: a atribuição de responsabilidade aos agentes. Não tem sentido algum elogiar ou censurar alguém por ter feito precisamente aquilo que não podia evitar fazer. Mas é isto que se passa caso os agentes não tenham controlo sobre as acções que praticam.

Premissa 4: Esta premissa recorre de novo à relação entre liberdade e responsabilidade, tal como é vulgar entendê-la. Vejamos em que consiste. O exemplo da fila da cantina mostrou que só somos responsáveis pelas acções que podíamos ter evitado — portanto, pelas acções que praticamos livremente. Sendo assim, só não podemos ser responsabilizados pelas acções que não praticamos livremente. Donde, não ser responsável por uma acção implica não ter agido livremente.

Conclusão: A conclusão do argumento é uma consequência lógica de tudo o que foi afirmado anteriormente. Cada passo do raciocínio forma um elo na cadeia que nos leva da hipótese de o determinismo ser verdadeiro à conclusão de que não há livre-arbítrio. Para perceber isto basta verificar que a conclusão se segue do passo três em conjunto com a premissa quatro.

O passo três do raciocínio diz que o determinismo ser verdadeiro implica ausência de responsabilidade. A premissa quatro afirma que a ausência de responsabilidade (não ser responsabilizável) implica não ser livre. Segue-se, pois, que o determinismo ser verdadeiro implica não haver liberdade.
Argumento da inevitabilidade:

       1. Se o determinismo é verdadeiro, as nossas acções não podiam ser diferentes do que são.
       2. Se as nossas acções não podiam ser diferentes do que são, então não temos livre arbítrio.

    Logo, se o determinismo é verdadeiro, então não somos livres.

Análise do argumento

Este argumento não contém qualquer novidade relativamente ao anterior. Num certo sentido, poderá ser considerado uma versão simplificada do anterior, não recorrendo ao conceito de responsabilidade. Neste sentido, pode ser considerado menos interessante que o anterior.

Premissa 1: Esta premissa afirma que em cada momento existe um e apenas um curso de acção possível dadas as causas que o antecedem, em conjunto com as leis da natureza. Daí a importância dada à inevitabilidade. Esta afirmação constitui a explicitação do conceito de determinismo.

Premissa 2: Esta premissa evoca o conceito de liberdade, segundo o qual uma acção é livre se, e só se, o agente tem mais do que um curso alternativo de acção ao seu dispor, não sendo inevitável fazer o que faz.

Conclusão: A conclusão é uma consequência lógica das premissas. Se o determinismo implica haver um só curso de acção disponível ao agente em cada momento, e se haver um só curso de acção disponível ao agente em cada momento implica não sermos livres, então o determinismo implica não sermos livres. Note-se que o argumento não prova a verdade do determinismo. Limita-se a defender o seguinte resultado: a incompatibilidade entre os conceitos de determinismo e liberdade.
Indeterminismo

Os resultados anteriores sugerem que na hipótese de o determinismo ser verdadeiro, não há livre-arbítrio; e que, não havendo livre-arbítrio, a atribuição de responsabilidade aos agentes não tem razão de ser (um fundamento racional). Mas será que o determinismo ser falso melhora as coisas? Abriríamos caminho à liberdade e à responsabilização moral dos agentes?

A resposta é NÃO. Para percebermos porquê é necessário analisar em que consiste o determinismo ser falso.

Definimos determinismo como uma teoria que afirma o seguinte: a ocorrência de um acontecimento X é uma consequência inevitável (e não apenas provável) das causas que o antecedem, em conjunto com as leis da natureza. E ilustrámos esta ideia com a queda de um pedaço de giz.

Mas se esta ideia for falsa, o que terá de acontecer? A resposta é: o determinismo é falso se houver acontecimentos que não sejam a consequência inevitável das causas que o antecedem, mas apenas a sua consequência provável. Isto dá-nos a seguinte definição de indeterminismo:

    A ocorrência de um acontecimento X é uma consequência provável (mas não inevitável) das causas que o antecedem, em conjunto com as leis da natureza.

Um exemplo simples que pode ser usado como ilustração da ideia indeterminista é o seguinte. No filme O Caçador, sobre a guerra do Vietname, alguns grupos de guerrilheiros nacionalistas sujeitavam os prisioneiros americanos a um jogo chamado roleta russa, que também era praticado em certos casinos. O jogo consiste em colocar uma bala na câmara de um revólver, deixando vazias as outras cinco câmaras. O árbitro roda o canhão da arma antes de a entregar a cada jogador para que haver (ou não) uma bala na câmara dependa da interferência do acaso. O jogador tem 1/6 de probabilidades de morrer ao disparar a arma contra si próprio, e 5/6 probabilidades de sobreviver. Mas, apesar da intervenção do acaso, o disparo, quando ocorre, tem uma causa: se não tivesse havido pressão no gatilho, não haveria disparo e, como é óbvio, o acaso não teria a oportunidade de decidir a sorte do jogador.

Assim, se esta descrição estiver correcta, há acontecimentos que têm causa mas, ter uma causa, e sendo as leis da natureza o que são, não os torna inevitáveis. A física do século XX, por exemplo, ao explorar o que se passa no interior dos átomos, tem sobre esses fenómenos uma visão indeterminista, que ainda hoje serve de pretexto para muitos debates.

Podemos então dizer que aqueles acontecimentos que, apesar de terem uma causa, não são inevitáveis, devem a sua ocorrência à intervenção do acaso. Quer isto dizer que nos tornaríamos livres se o mesmo acontecesse com as nossas acções? A resposta é negativa.

Para sermos livres, temos de ter controle sobre as nossas acções (somos nós quem tem a última palavra: praticar ou não a acção apenas depende de nós). Ora, é claro que não temos qualquer controle sobre o que acontece por acaso. Não nos tornaríamos mais responsáveis por uma acção resultante do acaso do que por uma acção que não estivesse em nosso poder evitar. O problema do livre-arbítrio não ficará resolvido se o determinismo for falso.

Se esta análise estiver correcta, podemos dizer que o problema da compatibilidade tem um âmbito mais vasto do que tradicionalmente é reconhecido. A dificuldade não é saber se é possível conciliar liberdade e determinismo, mas saber se é possível conciliar liberdade e causalidade.

Neste sentido, o problema deixar-se-ia formular assim:

    Será que uma acção ter uma causa implica que não seja livre?

 

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