Sucessor herda País com menor capacidade de fazer investimentosGastos do governo bateram recorde este ano, com alta de 11,8%, o que piora a situação fiscal na gestão do próximo presidente
01 de outubro de 2010 | 21h 20
Patrícia Campos Mello, de São Paulo
Os gastos do governo bateram recorde de crescimento este ano - tiveram alta de 11,8%, o maior aumento dos últimos 12 anos. Segundo estudo elaborado pelo especialista em finanças públicas Raul Velloso, o ano de 2010 (contabilizando apenas os oito primeiros meses) só perde para 1998, último ano de descontrole fiscal da fase pré câmbio flexível.
Para Velloso e outros analistas, o cumprimento da meta de superávit primário de 3,3% este ano só não está ameaçado porque o governo vem recorrendo a manobras contábeis envolvendo empréstimos do Tesouro para o BNDES e, agora, o recursos da capitalização da Petrobrás. Mas especialistas são unânimes ao dizer que o próximo presidente terá um enorme abacaxi fiscal em mãos, que compromete sua capacidade de fazer investimentos necessários para a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016.
Para resolvê-lo, não será suficiente eliminar desperdício ou reduzir gasto de custeio, terá de ser revista a política de reajustes reais do salário mínimo. Mas esse assunto é radioativo na campanha eleitoral. Um bom exemplo é José Serra, candidato do PSDB, que prometeu 13o para o Bolsa Família, aumento do salário mínimo para R$ 600 e reajuste de 10% na aposentadoria.
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Desindustrialização e aumento do déficit serão grandes desafiosProblema é resolver as questões sem mexer no câmbio flutuante, nas metas de inflação e de superávit primário
01 de outubro de 2010 | 21h 13
O presidente que assumir o poder no dia 1.º de janeiro terá de enfrentar um dilema. Como lidar com o real valorizado, o crescente déficit em conta-corrente e a suposta desindustrialização no País, sem alterar as sagradas ferramentas da estabilidade macroeconômica - o tripé “câmbio flutuante, metas de inflação e superávit primário”? Economistas à direita e à esquerda reconhecem que a valorização da moeda brasileira está levando a aumento de importações e perda de competitividade da indústria nacional diante de concorrentes como a China. Muitos se preocupam com a virada das contas externas - desde 2008, o Brasil tem déficit em conta-corrente, ou seja, gasta mais em bens e serviços comprados no exterior do que vende. Por isso, precisa de dólares entrando para se financiar.
Mas, enquanto concordam no diagnóstico, economistas divergem em relação à fórmula para lidar com o problema. Dilma Rousseff, candidata do PT à presidência, alinha-se mais com os economistas ditos conservadores, apesar de ser considerada desenvolvimentista. Os conservadores minimizam a ameaça da vulnerabilidade externa e pregam cautela para lidar com o câmbio valorizado. Eles não acham que o Brasil já esteja sofrendo de uma “desindustrialização”, descartam intervenções mais drásticas no câmbio e pregam medidas macroeconômicas como reduzir o chamado “custo Brasil” e cortar gastos públicos para baixar os juros e, assim, conter a valorização do real.
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Falta de poupança pública aumenta vulnerabilidade externa01 de outubro de 2010 | 21h 09
No cerne da questão da vulnerabilidade externa está a falta de poupança no Brasil. Conservadores e heterodoxos concordam que, para reduzir o déficit em conta-corrente, será necessário aumentar a poupança pública . O Brasil poupa pouco, cerca de 18% do PIB, e o ideal seria 25% para sustentar um crescimento acima de 5% ao ano, sem pressões inflacionárias. A poupança doméstica é insuficiente para financiar o crescimento, por isso o País é obrigado a recorrer à poupança externa. Hoje, o setor público contribui com cerca de zero para a poupança doméstica.
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herança maldita, né?