Até que alguém prove cientificamente que os espíritos existem, vou continuar achando isso tudo uma enorme xaropada.
O que está em discussão sob o ponto de vista cético é a contradição, a falta de lógica.
Médiuns podem falar de seres que habitam o interior do sol, das civilizações de Vênus e de Marte, da casa de Mozart em Jupiter mas não podem falar que Kardec se arrependeu. E olha que o "espirito" de Kardec utilizou 2 (dois) médiuns que ele conheceu pessoalmente, que eram de sua confiança e que são consagrados pelo espiritismo. Quem melhor do que Kardec para atestar a legitimidade do meio utilizado para enviar a sua própria mensagem?
Considero essa comunicação uma besteira que só serve para evidenciar mais uma dentre tantas incoerências do espiritismo.
Você é quem deveria estar preocupado e questionar mais aquilo que você acredita.
Médium de confiança de Kardec? Isso existiu?
Quem conhece um pouco da história do Espiritismo sabe que Kardec sempre "pisou em ovos" dentro da Sociedade Espírita de Paris, que ele mesmo criou e presidia. Ele escreveu em suas memórias, em 1867:
A Sociedade de Paris se constituiu foco de contínuas intrigas urdidas contra mim por aqueles mesmos que se declaravam a meu favor e que, de boa fisionomia na minha presença, pelas costas me golpeavam. Disseram que os que se me conservavam fiéis estavam à minha soldada e que eu lhes pagava com o dinheiro que ganhava do Espiritismo. Nunca mais me foi dado saber o que é o repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho, tive abalada a saúde e comprometida a existência.http://www.opiniaoespirita.org/mm_ak.htmPela sua firmeza e perseverança, o vosso Presidente desmanchou os projetos dos que procuravam destruir-lhe o crédito e arruinar a Sociedade, na esperança de desfecharem na Doutrina um golpe fatal. Honra lhe seja! Fique ele certo de que estamos a seu lado e que os Espíritos de sabedoria se sentirão felizes por poderem assisti-lo em sua missão. (Obras Póstumas - Minha Missão - 12/04/1860)
Portanto, a situação nunca foi "calma" e "tranquila" dentro da Sociedade Espírita de Paris. E mesmo os "melhores" médiuns, que se comunicavam habitualmente, pelos mesmos espíritos, sempre da mesma forma, também vez ou outra recebiam espíritos enganadores. Um desses casos inclusive deixou Kardec muito contrariado:
O Falso São LuísOutra coisa: não era Kardec que se colocava em posição de destaque no Espiritismo, mas foram as outras pessoas e os próprios espíritos que o fizeram. Quando Kardec publicou
O Livro dos Espíritos ele era um ilustre desconhecido do público, e mais desconhecido ainda se tornou quando usou de um pseudônimo. Quando lançou a Revista Espírita, ela não tinha sequer um assinante. Kardec, na opinião dele próprio, apenas emitia a sua opinião, que era a única coisa que ele podia delimitar. E ele delimitou, claro, o significado da palavra Espiritismo, porque foi ele quem criou esse termo e tinha o direito de fazê-lo. Mas quem deu a importância da doutrina foi o público, e não ele próprio. Ele mesmo escreveu, também em suas memórias, numa conversa com Espíritos:
Tendo uma conversação com os Espíritos levado a falar do meu sucessor na direção do Espiritismo, formulei a questão seguinte:
Pergunta — Entre os adeptos, muitos há que se preocupam com o que virá a ser do Espiritismo depois de mim e perguntam quem me substituirá quando eu partir, uma vez que não se vê aparecer ninguém, de modo notório, para lhe tomar as rédeas. Respondo que não nutro a pretensão de ser indispensável; que Deus é extremamente sábio para não fazer que uma doutrina destinada a regenerar o mundo assente sobre a vida de um homem; que, ao demais, sempre me avisaram que a minha tarefa é a de constituir a Doutrina e que para isso tempo necessário me será concedido. A do meu sucessor será, pois, mais fácil, porquanto já achará traçado o caminho, bastando que o siga. Entretanto, se os Espíritos julgassem oportuno dizer-me a respeito alguma coisa de mais positivo, eu muito grato lhes ficaria.
Resposta — Tudo isso é rigorosamente exato — eis o que se nos permite dizer-te a mais. Tens razão em afirmar que não és indispensável; só o és ao ver dos homens, porque era necessário que o trabalho de organização se concentrasse nas mãos de um só, para que houvesse unidade; não o és, porém, aos olhos de Deus. Foste escolhido e por isso é que te vês só; mas, não és, como, aliás, bem o sabes, a única entidade capaz de desempenhar essa missão. Se o seu desempenho se interrompesse por uma causa qualquer, não faltariam a Deus outros que te substituíssem. Assim, aconteça o que acontecer, o Espiritismo não periclitará.
Enquanto o trabalho de elaboração não estiver concluído, é, pois, necessário sejas o único em evidência: fazia-se mister uma bandeira em torno da qual pudessem as gentes agrupar-se. Era preciso que te considerassem indispensável, para que a obra que te sair das mãos tenha mais autoridade no presente e no futuro; era preciso mesmo que temessem pelas conseqüências da tua partida...(Obras Póstumas - Meu Sucessor - 22/12/1861)
Vejamos aqui como ele "anulou" as inteligências:
Essa a base em que nos apoiamos, quando formulamos um principio da doutrina. Não é porque esteja de acordo com as nossas idéias que o temos por verdadeiro. Não nos arvoramos, absolutamente, em árbitro supremo da verdade e a ninguém dizemos: "Crede em tal coisa, porque somos nós que vo-lo dizemos." A nossa opinião não passa, aos nossos próprios olhos, de uma opinião pessoal, que pode ser verdadeira ou falsa, visto não nos considerarmos mais infalível do que qualquer outro. (O Evangelho segundo o Espiritismo - Introdução)
Não pretendemos ser os únicos a reunir as condições fora das quais não são possíveis estudos sérios e úteis; o que temos feito podem outros, sem dúvida, fazer. Que os homens inteligentes se agreguem a nós, ou se congreguem longe de nós, pouco importa!... (Obras Póstumas - Os desertores)
Mas como dissemos cem vezes: "Quem é que vos barra o caminho? Quem vos impede de trabalhar de vosso lado? Quem vos proíbe revelar as vossas obras? A publicidade vos está aberta como a todo o mundo; dai alguma coisa de melhor do que é, a isto ninguém se opõe; sede melhores apreciados pelo público, ele vos dará a preferência." (Revista Espírita dez/1868 - Dos Cismas)
Isso tudo são citações de domínio público, escritas por Kardec em vida, e que estão em total desacordo com as comunicações pretensiosas dos supostos espíritos de Allan Kardec citadas acima pelo D. D. Home e Sr. Morin. Por essas e outras, as comunicações citavas provieram de um falso Allan Kardec, porque elas são esdruxulamente falsas, e o pensamento, e o linguajar, em nada lembram o codificador.
E repare que eu não estou culpando (ainda) os médiuns pelas comunicações. Em princípio eles podem apenas terem servido de canal para espíritos farsantes, a exemplo do que ocorreu no exemplo que deixei do Falso São Luís.
Um abraço.