E isso não perturba você nem um pouco, é claro....
Claro que não. As minhas crenças não dependem do bom ou mau andamento do Movimento Espírita.
Essas contradições atingem os fundamentos da sua fé. Tentar repassá-las ao movimento espírita é outra evidência do seu auto-engano.
Ou você não se considera mais espírita? Apenas espiritualista? Ou quem sabe um leafarísta?
O Espiritismo está contido nas obras de Kardec e, em linhas gerais, fecharam quando ele morreu, em 1869. A única razão para hoje se discutir atualizações na doutrina é porque Kardec deixou essa porta aberta, assim como descreveu o método na qual as futuras modificações poderiam ser feitas. Mas se ele tivesse fechado a porta das modificações, a doutrina seria imutável. Como eu concordo com o que vem escrito nelas, eu me considero espírita. Não importam, portanto, as controvérsias que se formam em torno dessas obras, que se devem principalmente a questões interpretativas e que servirão para mais tarde realçar a verdade. As controvérsias são úteis ao movimento espírita, porque provocam a discussão. Se algum dia eu deixar de concordar com as obras de Kardec, aí quem sabe eu não me torne um "sem religião", ou um "leafarista", como você disse. Não é esse o caso hoje.
O Espiritismo não pode fugir a essa lei, à lei da elaboração. Plantado num solo ingrato, forçoso é que o cerquem as ervas más e os maus frutos. Mas, também, todos os dias o terreno é desbravado, os maus ramos são arrancados ou cortados; o campo se destorroa insensivelmente e, quando o viajante, fatigado das lutas da vida, encontrar a fartura e a paz à sombra de um fresco oásis, se dessedentará e enxugará o suor, nesse reino lenta e sabiamente preparado. Aí o rei é Deus, o dispensador generoso, o igualitário judicioso, que bem sabe ser doloroso, mas fecundo, o trajeto que o viajor seguirá; penoso, mas necessário. O Espírito formado na escola do trabalho dela sai mais forte e mais apto para as grandes coisas. Aos que desfalecem, ele diz: coragem e, como suprema esperança, lhes deixa entrever, mesmo aos mais ingratos, um ponto de chegada, ponto salutar, caminho assinalado pelas reencarnações.
Ride das declamações vãs; deixai que falem os dissidentes, que berrem os que não podem consolar-se de não serem os primeiros; todo esse arruído não impedirá que o Espiritismo prossiga imperturbavelmente o seu caminho. Ele é uma verdade e, qual rio, toda verdade tem que seguir seu curso. (Obras Pótumas, 27/04/1866 - Marcha gradativa do Espiritismo, Dissidências e Obstáculos)
Essas dissidências foram previstas desde o princípio e não se constituem uma anomalia do Movimento Espírita. Faz parte de sua elaboração.
Um abraço.