Opinião: Deixem o Dunga trabalharDunga é um ótimo técnico? Como assim?Na véspera da estreia, elogiar o treinador da Seleção Brasileira é querer criar polêmica, despertar indignação, causar surpresa. Há exatos 20 anos, desde a chegada de Sebastião Lazaroni à Copa da Itália em 1990, o Brasil não tinha um técnico tão hostilizado, criticado e ridicularizado por quase todos os jornalistas especializados e pela ampla maioria de torcedores que acompanha futebol com muita freqüência e com algum entendimento.
Dunga não agrada no estilo mal-humorado, sarcástico, autoritário. Não fez concessão a jornalistas amigos (se é que tem algum?), não seguiu a onda para convocar os meninos do Santos, deixou Ronaldinho Gaúcho de fora. Trancou a seleção em Curitiba e depois em Joanesburgo.
Para quem se prende a resultados, os números são incontestáveis. Dunga chegou à África depois de ficar em primeiro lugar nas eliminatórias, levantar os títulos sul-americano e da Copa das Confederações e liderar o ranking da Fifa. No confronto direto recente, sua seleção ganhou, e bem, de três outros favoritos ao título: Itália (3 X 0), Argentina (3 X 1) e Inglaterra (1 X 0). Mas não é apenas pelo que entrega que Dunga tem sido um ótimo treinador.
Há três anos, pegou um time esfacelado pela idade (Ronaldo Fenômeno, Roberto Carlos, Cafu, Marcos e outros heróis de 2002) e pela derrota na Copa da Alemanha (Ronaldinho Gaúcho, Cicinho e Adriano, entre outros). O jeitão tolerante de Carlos Alberto Parreira gerou um time em que os jogadores tudo podiam. Ricardo Teixeira contou que um dos convocados de 2006 chegou bêbado à concentração. Muita festa para pouco resultado foi a sentença de morte do Brasil na Alemanha.
Dunga assumiu para sepultar velhos vícios e convocar novos craques. Nos seis primeiros meses de vida, duelou nos bastidores com Ronaldinho Gaúcho, Robinho e Kaká. Nesta ordem, eles tentaram moldar a seleção a sua imagem e semelhança, dividir a autoridade que Dunga reservou exclusivamente a ele próprio. Dois se enquadraram, um perdeu o passaporte para a África do Sul.
O técnico do Brasil impôs seu ritmo, criou forma própria de organizar o time, armar a defesa, sair para o ataque. Parece óbvio, mas é muito para um país que quatro anos atrás tinha o melhor elenco da história das copas e craques independentes que no lugar de ensaiar jogadas pareciam dizer: “Deixem que na hora H a gente resolve”. Não resolveram porque estavam mais preocupados com suas carreiras do que com o esforço coletivo do time. Amanhã (terça-feira), o Brasil começará a ver os candidatos a heróis de 2010. Ao contrário dos de 2006, eles precisam do time para crescer na carreira, melhorar seus contratos. Isso faz muita diferença. E o mérito é do treinador.
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