O messianismo, a birra contra a imprensa, a sugestão que quem não gosta dele não quer que o Brasil vença, o complexo de vítima...
Não entendi o que você quis dizer com messianimo, mas quanto ao resto eu tenho quase certeza que faria o mesmo no lugar dele. Talvez não fosse tão agressivo nos comentários, mas daria ainda menos liberdade à imprensa. Se não for assim, a maioria dos comentaristas esportivos irá se achar no direito de escalar a seleção, sabendo que quando a bomba estourar não será na mão deles. Quando ele assumiu o cargo era consenso geral que o problema da Copa anterior foi toda aquela palhaçada no lugar da preparação, mas se depender da imprensa o mesmo acontece de novo.
Além disso, todo mundo fala que ele não é bom técnico e tal, mas ele foi o primeiro nas eliminatórias, ganhou a Copa das Confederações, ganhou a Copa América, e perdeu o único torneio onde ele deu ouvidos aos outros para levar um determinado jogador: a Olimpíada, quando ele levou o R. Gaúcho que não jogou @#$% nenhuma. E, mesmo com esses resultados, já tem comentarista dizendo que "não basta ser campeão: tem que jogar bonito", e usam isso como desculpa para convocar o Gaúcho, que só dá meia dúzia de dribles velhos em times como Bari, Alatanta, Chievo mas contra bons times não faz nada. Na boa, dá para ficar calmo com gente assim?
Outra: a função da imprensa é perguntar para poder informar o público, mas o que mais faziam era cobrar a presença de um ou outro jogador (como na época do Felipão) ou estilo de jogo, o que não é a função deles. Por causa disso o Dunga fechou as portas e eu acho que fez muito bem.
Isso me lembrou uma reportagem que li outro dia:
Os inimigos
Já repararam que a imprensa virou a grande inimiga de todas as seleções? Que técnicos e jogadores não aguentam mais os jornalistas? Acham insuportáveis as entrevistas coletivas, as zonas mistas, as perguntas, os comentários?
É uma relação curiosa, e sempre turbulenta, esta da imprensa com as seleções. Na Argentina e na Itália, por exemplo, são históricas as guerras francas e abertas, como em 1982, naquela Copa que a Azzurra ganhou depois de fazer greve de silêncio contra a imprensa da Bota. Aqui do lado, Maradona, quando ainda não era técnico, deu até tiro de espingarda em jornalistas na frente de sua casa. Outro dia, passou com o carro sobre o pé de um fotógrafo. Acho que era fotógrafo. Nas eliminatórias, quando se classificou, mandou todos chuparem alguma coisa. Chupem! E, na África do Sul, deixa os caras do lado de fora da cerca e não quer nem saber.
Dunga ainda não chegou ao ponto de distribuir bordoadas de verdade em ninguém, nem atropelou colunistas ou repórteres, não se sabe se andou dando tiros de espingarda em alguém. São apenas verbais, seus petardos. Abre suas entrevistas, sempre, cuspindo marimbondos.
O resultado é que a cobertura da seleção brasileira nunca foi tão sem sal como nesta Copa. O exército de jornalistas que lá se encontra precisa se contentar com coletivas e mais nada. Não vê treinos, não conversa com ninguém. O goleiro titular está com dor nas costas faz uma semana e o médico ainda não apareceu para dizer o que está acontecendo. Na folga, o que de mais emocionante aconteceu, ontem, foi um passeio por um shopping. Não teve farra, noitada, puteiro, álcool e fumaça. Não há curandeiros, pais-de-santo, onde anda o Vicente Matheus?
É um verdadeiro seminário, essa seleção.
Aí a imprensa, coitada, é obrigada a apelar para as estatísticas mais inúteis do mundo para preencher espaço. “Kleberson só jogou 49 minutos na era Dunga!”, grita um pasquim. “Robinho já fez 19 gols em 49 jogos com o Dunga!”, berra outro. Putz, bela merda.
Dá pena dos colegas. São tratados como inimigos. E a maioria, Dunga que não se engane, torce desesperadamente para a seleção. Ou porque torce mesmo, ou porque “é bom para a imprensa” se o Brasil ganhar, ou porque se o time for eliminado a viagem fica mais curta. E esse comportamento besta vai para as entrevistas, claro. Os caras se acham no direito não de perguntar, mas de cobrar o técnico, perguntar opinando, essas coisas — com as exceções de sempre, claro.
E Dunga devolve com suas patadas dos pampas, porque é chato, mesmo, alguém apontar o dedo para você e dizer o que você tem de fazer, por que não coloca o Ramires?, por que convocou o Doni?, e essas perguntas são feitas não como perguntas, mas sim como acusações, e é por isso que o Dunga não aguenta a imprensa e ninguém aguenta o Dunga.
Em resumo, Dunga é um pentelho. Mas a imprensa também é chata. E, com isso, tem-se a fórmula ideal para se chegar ao que estamos vendo nestes dias de preparação da seleção: zero de notícia. “Saldo de gols depois das substituições é de 23 contra 15 dos titulares!”, me informam as folhas de hoje, desesperadas com a falta de assunto. Putz, caguei. Queria saber é se alguma loira gostosa invadiu o clube de golfe e catou alguém.
http://colunistas.ig.com.br/copa2010flaviogomes/2010/06/09/os-inimigos/