Autor Tópico: Problemas do SUS  (Lida 155212 vezes)

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Offline Gabarito

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2075 Online: 15 de Junho de 2015, 09:08:32 »
Enquanto se estuda o sistema, enquanto se discute a necessidade de mais dinheiro, o suado dinheiro dos impostos, como diz o comentarista no post seguinte, escoa pelo ralo do desperdício:

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Levantamento revela que quase 90% das obras em UPAs estão atrasadas
Edição do dia 15/06/2015
TCU afirma que Ministério da Saúde manda o dinheiro, mas não fiscaliza.
Das obras concluídas, 76% terminaram muito depois do previsto.



Quase 90% das Unidades de Pronto Atendimento - as UPAs - estão atrasadas pelo Brasil. Essas unidades são fundamentais para evitar a superlotação dos hospitais com atendimentos que não são de emergência.

O levantamento do Tribunal de Contas da União mostrou ainda que muitas obras não só estão atrasadas, estão abandonadas. É desperdício que não acaba mais, e não é de hoje. Quem já construiu sabe que não dá para sair de perto da obra, tem que ficar de olho para nada saia errado. Nas obras públicas, isso é feito com gestão, com cuidado no uso do dinheiro do contribuinte. O TCU considerou que o Ministério da Saúde não monitora essas construções, apesar de investir dinheiro nelas.

Teve atraso, teve obra não entregue, teve de tudo. Uma UPA, em Feira de Santana, na Bahia, tem parede, mas teto não. A obra ficou um ano parada, foi retomada e agora a previsão é para setembro, mais de dois anos depois do prometido.

“Na hora da política todo mundo aparece, é bonzinho. Só promessa. Na necessidade ninguém vai cumprir o necessário”, diz a comerciante Graça Gomes.

Em Santa Bárbara do Oeste, São Paulo, olhando de fora parece que a UPA Santa Rita está pronta, mas não. Faltou pouquinho, mas faltou. A construtora que fazia a obra não cumpriu o contrato. Agora quando ela vai funcionar ninguém sabe.

“É muito relaxo, muito relaxo mesmo, que isso aí já era para estar pronto há muito tempo”, afirma a aposentada Genilda da Paz.

“Faz algum tempo que ela está parada. A população do nosso bairro ela necessita, porque muitas vezes a gente tem que sair daqui para ir lá no centro médico, e chega lá está tudo congestionado. E é do outro lado da cidade”, diz o motoboy João Paulo do Amaral.

Ao todo, 43 municípios foram visitados em todas as regiões do país. Neles, 88% das UPAs estavam atrasadas. As outras foram concluídas, mas 76% delas bem depois do previsto.

Para a ONG Contas Abertas tem um monte de motivos. “Há o problema de gestão da própria obra, há o problema da falta de equipamentos, há um problema da compra de equipamentos inadequados a aquele ponto de atendimento e há o problema da falta de médicos também. Tudo isso faz com que se gaste muito e muito tempo para essas construções e se demore muito para utilizá-los efetivamente”, diz Gil Castelo Branco.

O Ministério da Saúde manda o dinheiro para a prefeitura, mas não monitora as obras. É isso que diz o TCU, que encontrou também UPAs sem funcionar e se acabando com o tempo em 6 dos 10 estados visitados.

“Se verificou em alguns casos algumas obras concluídas que não entraram em operação, que não houve um processo adequado de vigilância, e se verificou, se constatou que houve vandalismo nessas obras, com destruição de parte dos equipamentos da obra. O tribunal determinou é que fosse adotado um processo de vigilância, e que também que fosse reconstruído aquilo que foi vandalizado”, afirma o secretário de Infraestrutura Urbana do TCU, José Ulisses Rodrigues Vasconcelos.

O Tribunal de Contas também recomendou ao Ministério da Saúde que acompanhe as UPAs que ainda estão em obra, inclusive mandando gente para ver pessoalmente o andamento. Pediu também que seja mais cuidadoso na hora de mandar o dinheiro, que exija antes que o município mostre o que já fez, até por que tem umas mil novas propostas de construção de UPAs pelo país no valor de quase R$ 2 bilhões.

O Ministério da Saúde informou que fornece apoio financeiro e técnico aos estados e municípios para a construção das UPAs, mas que a execução das obras é de responsabilidade direta dos estados e municípios. O ministério também disse que tem um sistema de monitoramento das obras. (Não parece)

A Secretaria de Saúde de Feira de Santana disse que a obra da UPA da Queimadinha está prevista para terminar em setembro. Já a prefeitura de Santa Bárbara D'Oeste informou que o contrato foi rescindido porque a empresa responsável não vinha cumprindo o cronograma das obras.


Offline Gabarito

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2076 Online: 15 de Junho de 2015, 09:11:27 »
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Alexandre Garcia: 'Desperdício do dinheiro dos impostos de todos'
Edição do dia 15/06/2015
Comentarista diz que obras das UPAs não são fiscalizadas nem protegidas. "Realidade diferente dos sonhos que atraem votos", afirma.


Essas obras devem ser acompanhadas antes que cheguem a esse ponto. O cidadão podia ficar de olho e cobrar também.

Certa vez eu estava dirigindo em uma estrada americana, despencou uma chuvarada e não ficou uma só poça d’água na pista. Eu elogiei a empreiteira americana que havia construído a estrada e meu amigo americano, ao lado, sorriu e disse: “A construtora é brasileira”. Estranhei, dizendo que no Brasil não fazem estradas assim. E ele me explicou: “É que aqui se fiscaliza o que se faz com o dinheiro dos nossos impostos”.

O Impostômetro está mostrando que até agora pagamos neste ano em tributos R$ 930 bilhões e que, com esse dinheiro, poderiam ser construídos 3.230 mil postos de saúde equipados.

O que o Tribunal de Contas constatou é que as obras não são fiscalizadas nem protegidas. Já feitas, são destruídas por vândalos; prontas, não funcionam por falta de equipamento; outras, acabam parando pelo caminho. Tudo isso significa desperdício do dinheiro dos impostos de todos.

É a realidade diferente dos sonhos que atraem votos nas campanhas eleitorais. E a responsabilidade é dos três: União, estado e município. Pela amostragem do Tribunal de Contas da União, essas Unidades de Pronto Atendimento que não ficam prontas, mostram que não haverá pronto atendimento.

Offline Moro

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2077 Online: 15 de Junho de 2015, 09:28:32 »
90% das obras atrasadas ou abandonadas: Fim da análise de viabilidade do SUS. Pronto.

Citaram a Santa Casa... ESTÁ FALIDA. Setubal assumiu disse que é necessário GERIR melhor e ENXUGAR os quadros.

Para funcionários públicos, 90% das obras atrasadas é apenas um dado em um estudo acadêmico que mostrou como houve um impulso na criação de UPAs mas foi retardado devido a <insira desculpas> e como já está em andamento <insira comites e estudos sem sentido> e depois <não diga prazo para nada>
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Offline Moro

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2078 Online: 15 de Junho de 2015, 17:35:46 »
Entendi que de 8000 funcionários da Santa Casa vão demitir 1.000

Triste mas se você pensa no que a Santa Casa já encolheu é fácil perceber que se alguém tivesse gerido antes a instituição não estaria endividada nem os cortes seriam tão grandes.

Se fosse um órgão 100% público nem saberíamos que está falido e simplesmente ficaríamos pondo dinheiro sem parar.

Acho que o país poderia facilmente demitir 20% do funcionalismo público e não sentiria impacto algum.
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Offline Johnny Cash

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2079 Online: 15 de Junho de 2015, 19:39:48 »
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Alexandre Garcia: 'Desperdício do dinheiro dos impostos de todos'
Edição do dia 15/06/2015
Comentarista diz que obras das UPAs não são fiscalizadas nem protegidas. "Realidade diferente dos sonhos que atraem votos", afirma.


Essas obras devem ser acompanhadas antes que cheguem a esse ponto. O cidadão podia ficar de olho e cobrar também.
[...]

Camarada Gabarito, é exatamente esse o ponto!

Veja, esses desperdícios recorrentes afetam a absolutamente todos os que pagam imposto, alguns mais outros menos. Dado que os pobres são os que pagam a maior fatia absoluta dos impostos e na proporção individual também, ora, fica fácil notar o problema por trás da coisa.

Além de funcionar como argumento (furado) eleitoral, tira dos mais pobres a chance de receber a saúde de volta (se pode se comprar isso) pq não lhes da a opção a priori de investir num plano privado ou até de fazer investimentos em aspectos da própria vida que conferirão melhor saúde, como educação ou higiene pessoal, por exemplo.

A perversidade na manutenção de um sistema tão oneroso ao pobre escapa aos limites próprios da saúde, e passa até ao plano conceitual, quando a gente sabe, por exemplo, que a capacidade de receber diagnóstico pelo SUS é que é o grande problema e dessa forma, é permitido que o rico se diagnostique em ambientes privados e depois recebendo tratamentos de primeira linha, rapidamente, providos por quem? Exatamente! Pelos mais pobres.

Perceber que é praticamente impossível uma reforma que levaria um sistema desse porte, e com intenções tão grandiosas, a funcionar racionalmente e sob gestão de classe mundial é revelador e apresenta saída, mesmo que utópica, para que se realmente promova grande melhoria à saúde e vida daqueles que hoje não tem condição a não ser de sustentar um bando de outras pessoas em grande parte da classe política e ou pública.

Offline Geotecton

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2080 Online: 15 de Junho de 2015, 19:43:11 »
[...]
Acho que o país poderia facilmente demitir 20% do funcionalismo público e não sentiria impacto algum.

Em alguns setores pode colocar 40% a 50% que não faria diferença nenhuma.
Foto USGS

Offline MarceliNNNN

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2081 Online: 15 de Junho de 2015, 21:22:22 »
Enquanto o SUS estiver na mão do Estado ele nunca irá funcionar.

Offline Moro

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2082 Online: 15 de Junho de 2015, 21:24:58 »
Jamais!!! Não há a menor dúvida disso, é um fato inquestionável.
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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2083 Online: 20 de Junho de 2015, 18:36:27 »
Advogado do diabo, sort of: a culpa da saúde é da população?

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[...]

Dr. Raphael "Ray" Levey, founder of the Global Medical Forum, an annual summit meeting of leaders from every part of the health care system, told the audience: "A relatively small percentage of the population consumes the vast majority of the health care budget for diseases that are very well known and by and large behavioral." That is, they're sick because of how they choose to lead their lives, not because of factors beyond their control, such as the genes they were born with. Levey continued: "Even as far back as when I was in medical school"—he enrolled at Harvard in 1955—"many articles demonstrated that eighty percent of the health care budget was consumed by five behavioral issues." He didn't bother to name them, but you don't need an MD to guess what he was talking about: Too much smoking, drinking, and eating. Too much stress. Not enough exercise.

Then the really shocking news was presented by Dr. Edward Miller, dean of the medical school and chief executive officer of the hospital at Johns Hopkins University. He talked about patients whose arteries are so clogged that any kind of exertion is terribly painful for them. It hurts too much to take a long walk. It hurts too much to make love. So surgeons have to implant pieces of plastic to prop open their arteries, or remove veins from their legs to stitch near the heart so the blood can bypass the blocked passages. The procedures are traumatic and expensive—they can cost more than $100,000. More than one and a half million people every year in the United States undergo coronary bypass graft or angioplasty surgery at a total price of around $60 billion. Although these surgeries are astonishing feats, they are no more than temporary fixes. The operations relieve the patients' pain, at least for a while, but only rarely—fewer than 3 percent of the cases—prevent the heart attacks they're heading toward or prolong their lives. The bypass grafts often clog up within a few years; the angioplasties, in only a few months.

Knowing these grim statistics, doctors tell their patients: If you want to keep the pain from coming back, and if you don't want to have to repeat the surgery, and if you want to stop the course of your heart disease before it kills you, then you have to switch to a healthier lifestyle. You have to stop smoking, stop drinking, stop overeating, start exercising, and relieve your stress.

But very few do.

[...]

http://www.fastcompany.com/75905/three-keys-change


O quanto será que isso difere, no Brasil?

Offline Moro

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2084 Online: 20 de Junho de 2015, 20:20:56 »
como em todo o resto, quando colocamos tudo em um mesmo fundo os que fazem sua parte irão pagar pelos que não fazem. Isso é quase uma lei universal.
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Offline Dr. Manhattan

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2085 Online: 23 de Junho de 2015, 13:49:57 »
Aqui vai uma anedota que talvez condiza com este tópico. Infelizmente é apenas mais um exemplo de acontecimentos corriqueiros em um hospital público:

Minha cunhada é enfermeira, especializada em partos e com doutorado. Ela é chata, briguenta, estridente, mas também muito competente no seu trabalho. Ela, além disso, é professora de uma faculdade e estava certo dia com seus alunos em uma maternidade pública aqui de Fortaleza. Num certo momento, todos os médicos de plantão saíram para lanchar ao mesmo tempo, uma atividade que costuma lhes ocupar por uma meia hora. Ela então recebeu um chamado da recepção: uma futura mãe havia acabado de romper a bolsa. Ela foi até lá e levou a mulher para a sala de consulta, para medir sua pressão e verificar o coração do bebê, etc. Grande erro, que lhe custou uma enorme bronca da obstetra que chegou de seu lanche mais tarde e alegou que minha cunhada estaria passando por cima da autoridade dos médicos. Essa mesma médica em seguida ligou para a direção, de forma que minha cunhada está agora proibida de trazer seus estudantes para a maternidade. Ok, talvez a médica tenha exagerado, e talvez a enfermeira tenha se excedido. Porém... mais tarde o funcionário da recepção veio falar com ela. Ele lhe disse que só arriscou a chamá-la porque, da última vez em que uma situação como essa havia ocorrido, uma mulher começou a sangrar na sala de espera, mas não haviam médicos (tinho ido, adivinhem, fazer um lanche). Segundo ele, a mulher, ainda sangrando, se apoiou em uma parede, e foi escorregando lentamente até ficar sentada, desacordada, numa poça de sangue. Morreu pouco depois.

Como disse no começo, já ouvi inúmeras histórias semelhantes. O que percebo é que existe um massacre silencioso acontecendo todos os dias no Brasil, cometido por uma multidão de médicos arrogantes, incompetentes e desumanos.
You and I are all as much continuous with the physical universe as a wave is continuous with the ocean.

Alan Watts

Offline DDV

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2086 Online: 23 de Junho de 2015, 14:02:06 »
Aqui vai uma anedota que talvez condiza com este tópico. Infelizmente é apenas mais um exemplo de acontecimentos corriqueiros em um hospital público:

Minha cunhada é enfermeira, especializada em partos e com doutorado. Ela é chata, briguenta, estridente, mas também muito competente no seu trabalho. Ela, além disso, é professora de uma faculdade e estava certo dia com seus alunos em uma maternidade pública aqui de Fortaleza. Num certo momento, todos os médicos de plantão saíram para lanchar ao mesmo tempo, uma atividade que costuma lhes ocupar por uma meia hora. Ela então recebeu um chamado da recepção: uma futura mãe havia acabado de romper a bolsa. Ela foi até lá e levou a mulher para a sala de consulta, para medir sua pressão e verificar o coração do bebê, etc. Grande erro, que lhe custou uma enorme bronca da obstetra que chegou de seu lanche mais tarde e alegou que minha cunhada estaria passando por cima da autoridade dos médicos. Essa mesma médica em seguida ligou para a direção, de forma que minha cunhada está agora proibida de trazer seus estudantes para a maternidade. Ok, talvez a médica tenha exagerado, e talvez a enfermeira tenha se excedido. Porém... mais tarde o funcionário da recepção veio falar com ela. Ele lhe disse que só arriscou a chamá-la porque, da última vez em que uma situação como essa havia ocorrido, uma mulher começou a sangrar na sala de espera, mas não haviam médicos (tinho ido, adivinhem, fazer um lanche). Segundo ele, a mulher, ainda sangrando, se apoiou em uma parede, e foi escorregando lentamente até ficar sentada, desacordada, numa poça de sangue. Morreu pouco depois.

Como disse no começo, já ouvi inúmeras histórias semelhantes. O que percebo é que existe um massacre silencioso acontecendo todos os dias no Brasil, cometido por uma multidão de médicos arrogantes, incompetentes e desumanos.

Como estão as coisas no setor privado?

Há médicos atendendo no setor público e privado. Todos vieram de uma mesma amostra da população, se formaram nas mesmas faculdades, grande parte trabalha em ambos os setores. Logo, se a culpa é dos médicos em geral e não do sistema de gestão, gerência de recursos humanos ou recursos das unidades de saúde, espera-se que no setor privado o problema seja igual.

Não é sábio se basear em evidência anedótica para tirar conclusões amplas demais, ainda mais  vindas de uma só pessoa, de uma classe que inveja médicos e ainda por cima "briguenta, chata e estridente".  Só minha opinião.  :)

 

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2087 Online: 23 de Junho de 2015, 14:06:09 »
Todos os médicos plantonistas fazendo lanche ao mesmo tempo...

Ou é falta de gerência ou (em alguns casos, não nesse aí) um só médico na unidade.

Coisas do SUS.

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2088 Online: 23 de Junho de 2015, 14:16:34 »
Em UPAs do interior é comum um outro problema: ausência de triagem nas emergências (ou triagens mal feitas).

Os médicos plantonistas (às vezes só um) ficam se desgastando atendendo não-emergências, que vêm à unidade porque os ambulatórios e PSFs não estão funcionando, ou por mal costume mesmo (não precisa marcar, há interferência política na triagem, etc). Daí os plantonistas se desgastam com esses casos que não deveriam estar atendendo e, quando chega emergências de verdade (5% dos casos, no máximo), não podem dar o melhor de si devido ao cansaço, esgotamento mental e estresse.

Muitas vezes a triagem malfeita ou inexistente é culpa dos enfermeiros responsáveis, que ficam "fazendo favores" a pacientes conhecidos da cidade, ou não sabem triar, ou recebem pressão de vereadores, secretários e prefeitos.



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Offline Geotecton

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2089 Online: 23 de Junho de 2015, 14:22:19 »
[...]
Não é sábio se basear em evidência anedótica para tirar conclusões amplas demais, ainda mais  vindas de uma só pessoa, de uma classe que inveja médicos e ainda por cima "briguenta, chata e estridente".  Só minha opinião.  :)

Aquela classe de profissionais até pode invejar a dos médicos mas o fato é que aquela senhora "briguenta" está certíssima. Eu lido com vários indivíduos destes no meu dia-a-dia profissional (são todos do setor público), e a maioria é amplamente pedante e agem sempre de maneira 'corporativa'.

É claro que é só a minha opinião.  :)
« Última modificação: 23 de Junho de 2015, 16:23:25 por Geotecton »
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Offline Geotecton

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2090 Online: 23 de Junho de 2015, 14:24:01 »
Todos os médicos plantonistas fazendo lanche ao mesmo tempo...

Ou é falta de gerência ou (em alguns casos, não nesse aí) um só médico na unidade.

Coisas do SUS.

Sim, sem dúvida que é falta de gestão.

Mas também é uma 'p...' falta de respeito e de profissionalismo destes babacas.
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Offline DDV

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2091 Online: 23 de Junho de 2015, 14:28:25 »
Todos os médicos plantonistas fazendo lanche ao mesmo tempo...

Ou é falta de gerência ou (em alguns casos, não nesse aí) um só médico na unidade.

Coisas do SUS.

Sim, sem dúvida que é falta de gestão.

Mas também é uma 'p...' falta de respeito e de profissionalismo destes babacas.

Exato, mas por que os médicos babacas estão tão concentrados no SUS?  :)
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Offline DDV

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2092 Online: 23 de Junho de 2015, 14:29:58 »
[...]
Não é sábio se basear em evidência anedótica para tirar conclusões amplas demais, ainda mais  vindas de uma só pessoa, de uma classe que inveja médicos e ainda por cima "briguenta, chata e estridente".  Só minha opinião.  :)

Aquela classe de profissionais até pode invejar a dos médicos mas o fato é que aquela senhora "briguenta" está certíssima. Eu lido com vários indivíduos destes no meu dia-a-dia profissional, (são todos do setor público), e a maioria é amplamente pedante e agem sempre de maneira 'corporativa'.

É claro que é só a minha opinião.  :)

Eu tenho essa mesma impressão com TODOS os funcionários públicos.

Com médicos, paradoxalmente, não tenho a mesma impressão negativa que tenho de todos os funcionários públicos.
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Offline Derfel

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2093 Online: 23 de Junho de 2015, 16:18:09 »
Aqui vai uma anedota que talvez condiza com este tópico. Infelizmente é apenas mais um exemplo de acontecimentos corriqueiros em um hospital público:

Minha cunhada é enfermeira, especializada em partos e com doutorado. Ela é chata, briguenta, estridente, mas também muito competente no seu trabalho. Ela, além disso, é professora de uma faculdade e estava certo dia com seus alunos em uma maternidade pública aqui de Fortaleza. Num certo momento, todos os médicos de plantão saíram para lanchar ao mesmo tempo, uma atividade que costuma lhes ocupar por uma meia hora. Ela então recebeu um chamado da recepção: uma futura mãe havia acabado de romper a bolsa. Ela foi até lá e levou a mulher para a sala de consulta, para medir sua pressão e verificar o coração do bebê, etc. Grande erro, que lhe custou uma enorme bronca da obstetra que chegou de seu lanche mais tarde e alegou que minha cunhada estaria passando por cima da autoridade dos médicos. Essa mesma médica em seguida ligou para a direção, de forma que minha cunhada está agora proibida de trazer seus estudantes para a maternidade. Ok, talvez a médica tenha exagerado, e talvez a enfermeira tenha se excedido. Porém... mais tarde o funcionário da recepção veio falar com ela. Ele lhe disse que só arriscou a chamá-la porque, da última vez em que uma situação como essa havia ocorrido, uma mulher começou a sangrar na sala de espera, mas não haviam médicos (tinho ido, adivinhem, fazer um lanche). Segundo ele, a mulher, ainda sangrando, se apoiou em uma parede, e foi escorregando lentamente até ficar sentada, desacordada, numa poça de sangue. Morreu pouco depois.

Como disse no começo, já ouvi inúmeras histórias semelhantes. O que percebo é que existe um massacre silencioso acontecendo todos os dias no Brasil, cometido por uma multidão de médicos arrogantes, incompetentes e desumanos.

Não apenas isso, como também a enfermeira obstetra poderia realizar um parto normal de risco habitual, mas a maior parte dos médicos não permite (e muitas vezes ela conduz o parto melhor que boa parte dos médicos obstetras) - existe mesmo uma pressão jurídica para que não o faça. É comum que o obstetra exija uma equipe completa para um parto normal de baixo risco, com a  presença do anestesiologista e do pediatra. O resultado é que o parto muitas vezes é realizado pelo motorista da ambulância.  Existe um movimento do MS para as casas de parto, com a participação de enfermeiros obstetras e parteiras, mas é difícil romper com resistências dos conselhos (mesmo no caso do Cofen, no caso das parteiras).

E isso é algo que ocorre tanto no público quanto no privado, varia mais é o local e a postura pessoal do profissional. Fora que muitas vezes procedimentos são indicados sem necessidade.  Exemplo é o alto número de partos por cesariana no Brasil.

A UPA possui um porte. Dependendo do porte pode possuir mais ou menos profissionais e não surgiu como substituto do hospital. Surgiu para atendimento dos usuários fora do horário de expediente da UBS E para desafogar os hospitais de urgência. Em muitas existe um sistema de classificação de risco.

Por fim, vou dizer algo que pode surpreender,  mas o enfermeiro NÃO é um médico frustrado e NÃO fez faculdade de enfermagem porque não conseguiu passar na de medicina (ainda que eventualmente possa existir alguém assim). Pode soar estranho, mas na maioria das vezes se fez a faculdade porque gosta e se identifica com a profissão.

Offline Diegojaf

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2094 Online: 23 de Junho de 2015, 16:54:48 »
Sempre tem essa conversa de inveja quando a área é dividida em classes...
"De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto." - Rui Barbosa

http://umzumbipordia.blogspot.com - Porque a natureza te odeia e a epidemia zumbi é só a cereja no topo do delicioso sundae de horror que é a vida.

Offline Buckaroo Banzai

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2095 Online: 23 de Junho de 2015, 17:16:54 »
Na situação de médicos em sistemas privados versus público deve haver também a mesma questão geral de diferentes incentivos econômicos influenciando a diferentes padrões de comportamento, mais responsável quando a pessoa está mais por conta própria.

E esse mesmo princípio deve acabar fazendo com que se acumulem várias pequenas ineficiências diversas, "com juros". Então muitos não fazem algo porque não é exata e escancaradamente parte da função, mesmo que seja algo obviamente necessário, e nisso uns que tentam fazer as coisas funcionar apesar disso ficam sobrecarregados e também ligam um "foda-se" eventual. E então se tem situações de filas paradas porque médicos batem papo sob pretexto de que não foram avisados que era para fazerem outra coisa, e pessoal que diz que não avisou aos médicos do que deviam fazer porque estes não perguntaram.

Acaba requerendo uma posição meio "self service" dos pacientes, ser bem mais pró-ativo, ou ter alguém que possa ser mais pró-ativo por ele, para não ficar mofando/sangrando/etc. Mas por mais ativo que seja o paciente, um ou outro azarado terá que esperar uma hora de lanche pelo o único responsável por tirar raios-X e coisas assim.

Offline DDV

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2096 Online: 23 de Junho de 2015, 18:18:32 »
Não apenas isso, como também a enfermeira obstetra poderia realizar um parto normal de risco habitual, mas a maior parte dos médicos não permite (e muitas vezes ela conduz o parto melhor que boa parte dos médicos obstetras) - existe mesmo uma pressão jurídica para que não o faça. É comum que o obstetra exija uma equipe completa para um parto normal de baixo risco, com a  presença do anestesiologista e do pediatra. O resultado é que o parto muitas vezes é realizado pelo motorista da ambulância.  Existe um movimento do MS para as casas de parto, com a participação de enfermeiros obstetras e parteiras, mas é difícil romper com resistências dos conselhos (mesmo no caso do Cofen, no caso das parteiras).

Parto normal de baixo risco deveria ser feito por parteiras ou enfermeiras mesmo. Entre os motivos porque defendo isso está no seguinte fato: se alguma merda acontecer, é considerado apenas uma 'fatalidade' natural, os envolvidos fizeram o melhor mas as coisas infelizmente não saíram bem. Mas se um médico estiver junto....a culpa é dele!

Um médico sem equipamentos e medicações para "atos médicos" é a mesma coisa de enfermeiro ou parteira (exceto se for um obstetra experiente em manobras diversas, mas isso não é comum). A única diferença é que se o médico estiver envolvido em um parto desastroso, a culpa recai nele, não no destino.

Obstetrícia é a segunda área da medicina com mais processos contra médicos, por isso esse receio.


Citação de: Derfel
E isso é algo que ocorre tanto no público quanto no privado, varia mais é o local e a postura pessoal do profissional. Fora que muitas vezes procedimentos são indicados sem necessidade.  Exemplo é o alto número de partos por cesariana no Brasil.

Há um tópico sobre isso lá na área de Ciências. Pode participar lá.


Citação de: Derfel
A UPA possui um porte. Dependendo do porte pode possuir mais ou menos profissionais e não surgiu como substituto do hospital. Surgiu para atendimento dos usuários fora do horário de expediente da UBS E para desafogar os hospitais de urgência. Em muitas existe um sistema de classificação de risco.


Blá blá blá.... teoria versus prática (prática BRASILEIRA ainda por cima).


Citação de: Derfel
Por fim, vou dizer algo que pode surpreender,  mas o enfermeiro NÃO é um médico frustrado e NÃO fez faculdade de enfermagem porque não conseguiu passar na de medicina (ainda que eventualmente possa existir alguém assim). Pode soar estranho, mas na maioria das vezes se fez a faculdade porque gosta e se identifica com a profissão.

Eu me arrisco a dizer que cerca de 90% dos enfermeiros queriam fazer medicina e não conseguiram.

Isso não é difícil de constatar se for ver o histórico de vestibulares feitos dos estudantes de enfermagem, ou se você se disfarçar de estudante de enfermagem e puxar conversa com alguns deles.  :)

O médico pode fazer tudo que o enfermeiro faz, se quiser (Ex: interação mais próxima do paciente, etc), porém ganhando mais e tendo mais prestígio social.

A relação dos pacientes com enfermeiros costuma ser bem mais 'desagradável' para estes do que com os médicos. É muito comum um paciente tratar enfermeiros a patadas e "mudar da água pro vinho" quando o médico aparece.

E sobre a inveja dos médicos, isso não se restringe a enfermeiros: várias áreas correlatas da saúde também 'sofrem' com isso (fisioterapia, odontologia, etc).





« Última modificação: 23 de Junho de 2015, 18:21:28 por DDV »
Não acredite em quem lhe disser que a verdade não existe.

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Offline DDV

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2097 Online: 23 de Junho de 2015, 18:21:52 »
Sempre tem essa conversa de inveja quando a área é dividida em classes...

Isso é universal.

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Offline Moro

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2098 Online: 23 de Junho de 2015, 18:33:46 »
Sobre o que disse o Manhatan... Isso é apenas o SUS
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

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"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

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Offline Buckaroo Banzai

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Re:Problemas do SUS
« Resposta #2099 Online: 23 de Junho de 2015, 20:42:43 »
Citar
<a href="https://www.youtube.com/v/QrJfu0JJcok" target="_blank" class="new_win">https://www.youtube.com/v/QrJfu0JJcok</a>

You can tell a system is broken when a prominent children's hospital devises a system that reduces local asthma cases by 87%, but then has to cancel the program due to the lack of revenue from new and recurring patients.

 

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