Eu gostaria que ocorresse a materialização de US$ 1 milhão na minha conta bancária.
Pensando bem, é melhor que ele se materializasse em uma conta bancária nas Bahamas para eu não pagar impostos.
Graças a Deus meus esforços foram coroados de êxito, não apenas na França, mas também no estrangeiro, e posso dizer que os
médiuns profissionais são hoje raras exceções na Europa. Onde quer que minhas obras penetraram e servem de guia, o Espiritismo é visto sob o seu verdadeiro aspecto, isto é, sob um
caráter exclusivamente moral. Por toda parte os médiuns,
devotados e desinteressados, compreendendo a responsabilidade de
sua missão, vêem-se cercados da consideração que lhes é devida, qualquer que seja sua posição social.
E essa consideração cresce na razão mesma de um contraste realçado pelo desinteresse.Não pretendo absolutamente dizer que entre os médiuns profissionais não existem muitos que sejam honestos e dignos de consideração. Mas a experiência provou, a mim e a muitos outros,
que o interesse é um poderoso estimulante à fraude, pois que tem em mira o lucro; e se os Espíritos não colaboram –
o que freqüentemente ocorre,
pois que não estão por conta de nossos caprichos –,
a astúcia, fecunda em expedientes, encontra facilmente meios de supri-los. Para um que agir lealmente, haverá cem dispostos ao abuso e que conspurcarão a reputação do Espiritismo.
Por outro lado os nossos adversários não descuidaram de explorar, em proveito de suas críticas, as fraudes que puderam testemunhar, disso concluindo que tudo no Espiritismo é falsidade, e que urge, portanto, oporem-se a esse charlatanismo de um novo gênero. Em vão objeta-se que a doutrina não é responsável por tais abusos. Conheceis o provérbio: “Quando se deseja matar o cão, diz-se que está raivoso”.
Que resposta mais peremptória poder-se-á dar à acusação de charlatanismo do que dizer-se: “Quem vos convidou a vir? Quanto pagastes para entrar?”. Aquele que paga quer ser servido; exige uma retribuição ao seu dinheiro; se não lhe é dado o que espera, tem o direito de reclamar. Ora, para evitar essa reclamação, cuida-se de servi-lo por qualquer expediente. Eis o abuso, mas o abuso que ameaça se tornar uma regra, ao invés de uma exceção. E é preciso obstá-lo! Agora que uma opinião se formou a esse respeito, o perigo não é de se temer senão relativamente aos inexperientes.
Àqueles, pois, que se queixarem de ter sido enganados, ou de não haver obtido as respostas que desejariam, podemos dizer: “Se tivésseis estudado o Espiritismo saberíeis em que condições ele pode ser experimentado com frutos; saberíeis quais são os legítimos motivos de confiança e de desconfiança, o que, em suma, se pode dele esperar; e não teríeis pedido o que ele não pode dar; não teríeis ido consultar um médium como a um cartomante, para solicitar aos Espíritos revelações, conselhos sobre heranças, descobertas de tesouros e cem outras coisas semelhantes que não são de alçada do Espiritismo. Se fostes induzido em erro, deveis apenas culpar-vos a vós mesmos”.É evidente que não se pode considerar uma exploração a mensalidade que se paga a uma sociedade, para que enfrente as despesas de sua manutenção. Outrossim, a mais vulgar eqüidade diz que não se pode impor esse gasto a pessoas que não dispõem de possibilidades financeiras ou de tempo para a freqüência contínua como associados. A especulação consiste em se fazer uma indústria de situação, em convocar o primeiro que surge, curioso ou indiferente, para exigir seu dinheiro. Uma sociedade que assim agisse seria tão repreensível, ou mais repreensível ainda, do que o indivíduo, e não mereceria nenhuma confiança. Uma entidade espírita deve prover às suas necessidades; ela deve dividir entre todos suas despesas e nunca lançá-las aos ombros de um só; isso é justo e não existe nesse critério nem exploração, nem especulação. Todavia o caso não seria idêntico se o primeiro que se apresentasse pudesse adquirir, através de pagamento, o direito de entrada, pois isso seria desnaturar a finalidade essencialmente moral e instrutiva das reuniões desse gênero, para delas fazer um espetáculo de curiosidade.
Quanto aos médiuns, eles se multiplicam de tal forma que os profissionais seriam, hoje, completamente supérfluos.Tais são, senhores, as idéias que me esforcei por fazer prevalecer e confesso-me feliz por ter obtido êxito muito mais facilmente do que teria esperado. Mas compreendei, aqueles que frustrei em suas esperanças não são meus amigos. Eis-nos, pois, em presença de um grupo que não me pode ver com bons olhos, o que, convenhamos, pouco me inquieta. Se nunca a exploração do Espiritismo tentou se introduzir em vossa cidade, eu vos convido a renegar essa nova indústria, a fim de não comprometerdes a vós mesmos com essa solidariedade e para que as censuras que se levantarem não venham a cair sobre a doutrina pura.
Ao lado da especulação material, há aquela à qual poderíamos chamar especulação moral, isto é, a satisfação do orgulho, do amor próprio. É o caso dos que acreditam, sem interesse pecuniário, ser possível fazer do Espiritismo um pedestal honorífico para se colocarem em evidência. Tão pouco os favoreci em meus escritos e, por outro lado, meus conselhos contrapuseram-se a mais de uma premeditação, provando que as qualidades do verdadeiro espírita são a abnegação e a humildade, conforme a máxima do Cristo:
“Quem exalta será humilhado”. Este é o segundo grupo que, igualmente, não me pode apreciar. Nele se encontram os portadores das ambições frustradas e dos amores-próprios melindrados.
Em seguida é a vez das pessoas que não me perdoam o fato de ter sido bem sucedido, para as quais o sucesso de minhas obras é uma causa de desgosto, que perdem o sono quando assistem aos testemunhos de simpatia que, espontaneamente, me são dispensados. É a faixa do ciúme, reforçada por todos aqueles que, por temperamento, não toleram ver um homem erguer um pouco a cabeça sem tentar um movimento de fazê-lo submergir.
Um grupo não menos irascível, acreditai, é constituído por médiuns, não por médiuns interesseiros, mas, pelo contrário, desinteressados, materialmente falando-se. Refiro-me aos médiuns obsediados, ou melhor, fascinados. Algumas observações a esse respeito não deixam de ter sua utilidade.Por orgulho estão de tal forma persuadidos de que tudo quanto recebem é sublime e só pode vir dos Espíritos superiores, que se irritam com a menor observação crítica, a ponto de se malquistarem com seus amigos quando estes têm a inabilidade de não admirar o que lhes parece absurdo.
Nisto reside a prova da má influência que os domina, pois, supondo-se que, por falta de capacidade de julgamento ou de conhecimento não fossem capazes de enxergar claro, este não constituiria um motivo para se porem de prevenção contra os que não se acham em idêntica posição. Todavia essa é a tarefa dos Espíritos obsessores que, para melhor manter o médium sob sua dependência, induzem-no ao afastamento, mesmo à aversão por quem quer que possa lhes abrir os olhos.Há ainda os que são dotados de uma susceptibilidade levada ao excesso. Agastam-se com as mínimas coisas, mesmo com o lugar que lhes é destinado em uma reunião, se este não é de bastante evidência, com a ordem estabelecida para a leitura das comunicações, ou com o fato de se recusar a leitura daquelas cujo tema não parece oportuno ao momento. Alguns aborrecem-se quando não são convidados, com bastante insistência, a dar o seu concurso, outros se agastam porque a ordem dos trabalhos não é invertida, de modo a favorecer suas conveniências. Há os que gostariam de se considerar médiuns titulares de um grupo ou de uma sociedade, ser aí senhores de baraço e cutelo, pretendendo que seus Espíritos guias sejam tomados por árbitros infalíveis de todas as questões, etc.. Esses motivos são tão pueris e tão mesquinhos, que nenhum deles ousa confessá-los. Mas nem por isso deixam de constituir uma fonte de surda animosidade que, cedo ou tarde, se trai, ou pelas mal-querenças ou pelo afastamento. Sem ter razões ponderáveis a oferecer, muitos põem de lado os escrúpulos e apresentam pretextos ou alegações imaginárias. O fato de, absolutamente, não me conformar a essas pretensões surge como um erro, ou melhor ainda, um crime aos olhos de algumas pessoas que, naturalmente, me deram as costas, gesto esse ao qual, mais uma vez reagi – a seu ver – erroneamente, não lhes dando maior importância.
Tudo isso é imperdoável! Concebei esta palavra nos lábios de pessoas que se dizem espíritas? Eis aqui uma palavra que deveria ser riscada do vocabulário espírita!Viagem Espírita em 1962
Allan Kardec