Geotecton, estava lendo uma revista da minha esposa e tive algumas dúvidas sobre os períodos geológicos:
1) No Devoniano encontrei as divisões em Lochkovian, Pragian, Emsian, Eifelian, Givetian, Frasnian e Famenian. Ao mesmo tempo havia outra divisão da seguinte forma: D1 (Lochkovian, Pragian, Emsian), D2 (Eifelian, Givetian) e D3 (Frasnian e Famenian). Qual a diferença entre uma classificação e outra? Uma é apenas uma subdivisão da outra?
2) No Carbonífero é dito que na Europa ele é considerado como apenas uma época, mas na América ele é dividido em dois: o Pensilvaniano e o Mississipiano. Qual o motivo da discordância?
3) Qual o tempo que compreende um éon?
A Comissão Internacional sobre Estratigrafia da União Internacional de Ciências Geológicas é a responsável pela padronização da nomenclatura na subdivisão do
tempo geológico, que hoje está representado, em ordem decrescente, por Eons, Eras, Períodos, Épocas (Séries) e Andares (Idades). Até a subdivisão em grau de Período os nomes são de aceitação mundial. Mas, ao descer na escala é que começam as complicações, tanto por questões técnicas como políticas.
Na parte técnica, a principal complicação provém do fato de que duas regiões, em um mesmo intervalo de tempo geológico, podem apresentar eventos deposicionais com características que refletem na cronologia.
Por exemplo. Uma região A, ao longo de um intervalo X, apresentou um evento deposicional marinho seguido de um processo diastemático e depois novo evento deposicional marinho. Neste mesmo intervalo, uma região B apresentou um evento deposicional marinho seguido de um processo diastemático (interrupção da sedimentação) e depois um processo erosivo.
Na região A, os estratígrafos reconhecerão e subdividirão dois eventos cronodeposicionais no intervalo X, ao passo que na região B somente será reconhecido um evento para o mesmo intervalo.
Na parte política, o que complica a padronização é a importância relativa da escola geológica de um país. Parece tolice, mas se um dado país denominou de X uma sequência cronodeposicional e outro denominou a mesma sequência de Y, provavelmente os dois nomes serão mantidos, cada um em seu território e ou área de influência.
Assim sendo, temos as seguintes respostas:
1)
O Lochkoviano, o Pragiano e o Emsiano são
andares do Devoniano Inferior.
O Eifeliano e o Givetiano são
andares do Devoniano Médio.
O Frasniano e o Fameniano são
andares do Devoniano Superior.
O conjunto das subdivisões pode ser visualizado neste
link.
Aqui fica claro que as denominações D1 (Lochkoviano, Pragiano e Emsiano), D2 (Eifeliano e Givetiano) e D3 (Frasniano e Fameniano) equivalem ao Devoniano Inferior, Médio e Superior, respectivamente. Portanto são apenas formas diferentes de nominar a subdivisão de um Período, ou seja, as Épocas.
2)
Entre 1996 e 2004 houve uma reavaliação do Carbonífero europeu pela Comissão Internacional sobre Estratigrafia, de tal modo que hoje há um consenso de que lá também existem duas épocas. Ainda assim o Velho Continente não adotou a mesma subdivisão dos estadunidenses, talvez por questões políticas como pode ser constatado nestes dois
links:
01 e
02.
3)
Os intervalos de duração dos Eons foram definidos basicamente por dois critérios: grau de presença de vida e reconhecimento de ciclos geotectônicos.
O eon Fanerozóico (do grego 'vida animal visível ou abundante') foi definido como o eon no qual houve uma expansão enorme no número de espécies biológicas pluricelulares animais. Seu limite inferior (Cambriano) foi determinado por datação radiométrica e apresenta um intervalo total de 545 milhões de anos AP a 575 milhões de anos AP.
O eon
Proterozóico (do grego 'anterior à vida animal') indica um eon com pouca ou nenhuma vida animal pluricelular. Seu limite superior ocorre com o eon Fanerozóico enquanto que o inferior é com o eon Arqueano. Este limite é dado, com uma certa arbitrariedade, pelo critério de ciclo geotectônico e com idade mensurada por datação radiométrica. Neste caso ele coincide com a formação do Super Continente mais antigo, o Kenorano (c. 2,5 bilhões de anos AP).
O eon
Arqueano (ex Arqueozóico) (do grego 'vida mais antiga') tem o seu limite superior com o eon Proterozóico (2,5 bilhões de anos AP) e o inferior com o eon Hadeano (3,85 bilhões de anos AP). Apresenta o mais antigo indício de vida (c. 3,8 bilhões de anos AP) e a maioria dos escudos (porções mais estáveis e antigas de crosta continental) se estabilizaram neste eon ). Seus limites temporais foram determinados pelo critério de ciclos geotectônicos e com idade mensurada por datação radiométrica.
Finalmente o eon mais antigo, o
Hadeano (do grego 'tempo do submundo ou subterrâneo'). Seu limite inferior remonta à formação da Terra (4,57 bilhões de anos AP) e seu limite superior se dá com o eon Arqueano (3,85 bilhões de anos AP). Como as rochas mais antigas da Terra foram datadas em 4,2 bilhões de anos AP, não é possível determinar o limite inferior por meio dos marcadores tradicionais da Geologia (minerais e rochas), pois que as porções iniciais de crosta foram absorvidas e reabsorvidas no dinâmico e intenso processo de formação crustal do, então, jovem planeta Terra.
O limite inferior do Hadeano foi determinado por intermédio da prima astronômica da Geologia, a Planetologia Comparada. Aplicando o método Pb-Pb em rochas basálticas da Lua, trazidas pelas missões Apolo (1969 a 1972), foram obtidas datações com idades estimadas em 4,57 bilhões de anos AP.
É isto, Derfel.
Será que foi o suficiente para lhe esclarecer?