Eu não ignoro explicações científicas, apenas abro espaço para a possibilidade da existência da alma. Mas não poderia considerar uma explicação tipicamente atéia, porque daí não estaria dando espaço a tal possibilidade. Eu entendo a ciência, só não sigo o pensamento cético, ateu. O livro que eu li testa várias teorias, refuta algumas, outras fica em dúvida. O autor não afirma em momento algum que a alma existe, apenas dá espaço para esta possibilidade. E o estudo ainda não está concluído, mas nem por isso ele descarta esta possibilidade. É uma questão de ter mente aberta. E acreditar na alma não é o mesmo que estar preso a uma religião em particular. É apenas se abrir a esta possibilidade, sem partidarismo. Sei que para você qualquer coisa que vá além de um resultado obtido é mágica, talvez até seja, mas acho que nem sempre o "mágico" é fantasioso.
Sei que a dedução não prova a espiritualidade, pois é só uma dedução, mas tem lógica. Você não se abre a possibilidade de que a consciência sobrevive após a morte do cérebro, pois acha que a alma ou mente nada mais é do que o funcionamento de neurônios ou porque acha as religiões ridículas (eu acho ridículas em geral). Mas eu me abro a esta possibilidade, ainda que isto nos pareça fantasioso ou improvável. Eu acho que tem mais bom senso é aquele que consegue aceitar os dois lados, ao invés de refutar um deles por achar fantasioso. Quer dizer, que penso que quem consegue aceitar a ciência como ela é, mas sem abrir mão da espiritualidade e dar uma explicação lógica para isso, tem bom senso, é flexível. Mas que aquele que refuta apenas porque a comunidade científica não admitiu a existência de certas evidências, ou para aquele religioso que refuta argumentos científicos por serem contra sua religião, é inflexível. No meu caso, eu acho improvável que Deus seja uma consciência que pensa, sente e manipula.
Para mim, é mais provável que seja mais ou menos como a própria natureza, inconsciente, organizado e automático. Quer dizer, mesmo que eu não concorde com o deus das religiões, ainda me mantive flexível para a existência de um deus, apenas como uma causa primária natural, e não uma entidade a ser louvada ou temida. O mal é que as pessoas vêem isso de forma antropocêntrica. E eu me sinto bem em ter esta flexibilidade, e acho isso mais inteligente do que aquele que recusa algo porque está conceituado por uma academia que é inexistente ou improvável, ou por mera filosofia. Mais uma coisa, eu não preciso de um deus que fique me protegendo ou observando ou amparando. Na verdade eu até temo um deus assim, como o das religiões. E como a forma como as religiões descrevem seus deuses, então isso não me satisfaz, e passei a ter a minha própria forma de ver, mas de forma que ainda possa estar ligada às forças da natureza, a causa destas forças. Eu rejeito a idéia de um deus consciente porque penso que ele não precisa ser uma entidade consciente que nos ampara ou condena, não vejo esta necessidade, mas nem por isso descarto totalmente a idéia de ser uma consciência, desde que tenha um mecanismo inconsciente que a cause.
Matéria e energia não pode ser criada ou destruída, apenas transformada. E eu pus este conceito em cima da forma como descrevo a espiritualidade. Deus ou a causa primária da natureza teria sempre existido com a matéria, antes mesmo do nosso universo surgir, quando outros já existiam. Ou seja, me mantenho aberto à existência de uma causa primária, mas sem rejeitar, por exemplo, as leis físicas ou teorias como o multiverso. Portanto já não rejeito a ciência para explicar o "sobrenatural" como vocês dizem. Para mim, a espiritualidade, que nos parece imaterial, ainda seria matéria e energia, só que numa forma mais sutil, numa outra dimensão. Mas nada de sobrenatural ou divino como vocês pensam. É apenas uma questão de falar sobre dimensões, sobre como seria a relação entre matéria e energia entre dimensões diferentes (no multiverso haveria uma ligação entre os universos muito sutil).
Para mim o materialismo que só se limita a esta existência e a este universo é-me incompleto, por isso que me abro ao "sobrenatural". E não por sentimentalismo. Na verdade o fato de usar a espiritualidade como bengala é uma idéia que me é incômoda e tento combater isso. Pois quando a necessidade de amparo supera a necessidade de entendimento, isto prejudica o entendimento. Eu não uso a espiritualidade como bengala, mas sim como uma forma extra de entendimento sobre a natureza, além das ciências, mas sem isso chegar ao ponto de ser uma verdadeira religião. Talvez a minha teoria seja pseudo-científica e pseudo-religiosa também. Mas isso não significa que o que penso é necessariamente falso por essência. Eu apenas prefiro me manter flexível por achar isto mais inteligente.
Entender ciência não significa refutar algo que está fora de seu campo. Não se é obrigado a ter um ponto de vista ateu para se entender ciência. Eu tenho a minha teoria que é como um materialismo que é levado mais ao além, à "espiritualidade", mas ainda assim eu tenho entendimento sobre isso. Pois a minha teoria não se limita somente aos conceitos científicos. Apenas resolvi unir conceitos científicos com certos conceitos espiritualistas para ter um entendimento lógico, sem só estar atrelado a um ou a outro. E isso é ser flexível. Na verdade eu quero é criar um novo paradigma.
No caso da EQM, apenas menciono a espiritualidade por conta de certos relatos de situações que vão contra o materialismo tradicional.
Esqueci de dizer. Eu temo voltar a reencarnar aqui na Terra, mas não é por isso que deixo de aceitar isso apenas por temer, pois a idéia da evolução do espírito me é mais lógica do que a de uma só existência corporal. Pois a ressurreição na carne, após a decomposição do organismo, é fisicamente impossível. E a reencarnação (na visão espírita, me é mais lógica do que, talvez, a dos indianos), pois isto explica melhor as mazelas do homem, entre outras coisas. O meu conforto não está em buscar um deus amparador, mas sim em saber ser o mais flexível possível. É nisso que me baseio, nesta flexibilidade intelectual, e não no sentimento.
Só para deixar claro, não tenho a intenção de vencer um debate, mas de mostrar que é possível se conciliar uma coisa com a outra. É este o meu principal objetivo, de mostrar um novo paradigma, além do materialismo ou espiritualismo... uma junção entre os dois. Ainda que eu não tenha uma prova concreta da alma em mãos, é tudo por dedução mesmo. Pura dedução. Eu não questiono se o espírito é ou não real, mas sim se é possível haver uma ligação com as leis naturais, é este o meu foco. E se tiver como ligar, daí posso dizer que haveria possibilidade para a existência de tal, ainda que seja só especulação. É este o meu ponto.