Não li o texto postado pelo Gigaview, mas acho que a idéia não é tão literal. Para começar, "consciência" não seria aquilo que nós temos pelo estado de não-inconsciência, mas algo mais básico e generalizado, que constituiria a consciência animal organizada para lidar com estímulos do ambiente. E isto por sua vez se daria por "de alguma forma, sistemas nervosos gerem a capacidade de experiência subjetiva."
A diferença é estar se postulando uma coisa mais fundamental na natureza a partir da qual sistemas nervosos suficientemente complexos fazem isso, em vez deles conseguirem fazê-lo completamente "do nada". [...]
Sim, isso é praticamente o mesmo tipo de conjectura que fiz no meu último "post" no tópico de inteligência artificial. É o que faz mais sentido pra mim: que deva existir algum aspecto físico intrínseco da estrutura do universo associado ao fenômeno de ocorrência de consciência ( creio que essa suposta propriedade seja ainda desconhecida ). De maneira semelhante é postulado que o misterioso fenômeno da gravidade seja consequência de um aspecto intrínseco do universo. A saber, a maneira peculiar como porções de matéria-energia deformariam a estrutura do espaço-tempo.
Se a gente parar pra pensar, a gravidade também é um fenômeno bastante difícil de ser apreendido pela mente humana. Tanto que, antes do séc. 17, ninguém nem mesmo havia se apercebido deste fenômeno.
A faculdade da auto-consciência de alguns seres vivos foi sempre fato óbvio, e da mesma forma também ninguém jamais ignorou que tudo aquilo que era lançado para o alto retornava ao chão. Porém não se postulava - e muito menos se identificava - uma propriedade física causal para este fenômeno.
Quando Newton sugeriu que partículas de matéria geravam forças de ação a distância sobre outras partículas ( na forma de pares ação-reação ), e que estas forças teriam efeito instantâneo a despeito de quão afastadas estivessem estas mesmas partículas, ele próprio reconheceu que esta ideia tinha um quê de absurdo. A gravidade de Newton era um fenômeno da mesma natureza que o produzido pelo choque entre duas partículas, contudo ocorria sem nenhum tipo de interação e ele mesmo achou isso incompreensível.
Todavia propor que o espaço pudesse ser algo em si mesmo com a propriedade de ser plasticamente afetado pela matéria/energia, era o tipo de especulação além do alcance para qualquer sábio em meados do séc. 17. Essa impossibilidade derivava da mente humana não ter sido "projetada" para criar uma representação desse aspecto da realidade objetiva que é o espaço, como tendo características de algo que existe em si mesmo. Diferentemente de como a mente conceitua naturalmente os objetos contidos no espaço como sendo "coisas", a sua realidade intuitiva conceitua o espaço como sendo nada. Mas hoje sabemos que a "realidade" construída pela mente é uma ilusão, uma representação imperfeita e com muitas limitações daquilo que deva ser a realidade objetiva. E alcança-se esta constatação pela razão; quando ao raciocínio lógico se apresentam fenômenos que não se ajustam aos nossos modelos de realidade intuitivamente construídos.
Portanto, apenas quando estas contradições se tornam conhecidas pela observação dos fenômenos, é que a razão consegue conceber ( é obrigada a conceber ) modelos da realidade contra-intuitivos capazes de previsões mais acuradas dos fatos da realidade objetiva. Ainda assim a sua mente não pode transcender a si mesma, e continua presa ao seu (dela) modelo inerente de realidade. A razão apenas lhe concede a capacidade de compreender que este modelo é imperfeito ou ilusório.
Assim conceitos da chamada Física Moderna não poderiam ter sido propostos antes do desenvolvimento da Física Clássica, porque foi esta última que tornou possível o conhecimento exatamente daqueles fenômenos que iriam expor as inconsistências da antiga ciência.
Pode ser que a Física capaz de criar modelos que, se não explicarem, pelo menos poderão prever
acuradamente os comportamentos dos fenômenos envolvidos na produção da consciência, ainda esteja por nascer, a espera da observação de fatos que contrariem previsões dos modelos obtidos com base no conhecimento corrente. A Ciência não é um empreendimento terminado, podemos ainda estar apenas no começo da caminhada.
Como exemplo, não faz muito tempo, todas as previsões sobre a evolução do universo só consideravam a possibilidade da sua expansão estar sendo "freada" pela gravidade. A observação surpreendeu revelando que a expansão é acelerada, e só a partir dessa descoberta é que puderam surgir "insights" sobre como possa ter se originado o Big Bang.
Nós só vamos poder dizer que há uma abordagem realmente científica do problema difícil da consciência quando esta Ciência for capaz de elaborar modelos cujas previsões permitam construir sistemas artificialmente conscientes. Até lá quase tudo nessa discussão é inescapável do "bullshit filosófico" com muitas pitadas de metafísica.
Então, claro, este artigo aí também é filosofia bullshit, e como filosofias são um pouco questão de gosto, eu não gostei muito desta. Os trechos que não compreendi muito bem são os seguintes:
These particles then come together to form more complex forms of consciousness, such as humans’ subjective experiences.
But, then again, panpsychism could very well imply that conscious tables exist: One interpretation of the theory holds that “any system is conscious,” says Chalmers. “Rocks will be conscious, spoons will be conscious, the Earth will be conscious. Any kind of aggregation gives you consciousness.”
A filosofia aí em questão parece estar chutando, baseada em absolutamente nada observável, que o simples agregar de partículas produz sistemas conscientes mais complexos e/ou superiores, o que me leva a questionar se partir um tijolo consciente terá como resultado duas partes inferiormente conscientes.
Retomando a comparação com outro mistério que é a gravidade, os efeitos gravitacionais de sistemas de matéria formados por agregações de partículas são observáveis e previstos com precisão pela teoria. O que reveste esta teoria de algo mais do que mera filosofia.
Mas assim como qualquer agregar de moléculas não gera nenhum grau de vida, mesmo os sistemas biológicos sendo uma das possibilidades inerentes da estrutura do universo, mas somente sistemas baseados em estruturas carbônicas muito específicas puderam dar origem ao desenvolvimento da vida neste planeta, somente algo de muito específico da natureza peculiar
de sistemas nervosos deve estar envolvido como causa no fenômeno da experiência subjetiva. Mas é claro que estas também não passam de considerações filosóficas minhas, porque até agora não há nenhuma teoria sobre consciência que atenda ao requisito fundamental da falseabilidade. O que equivale, de fato, a reconhecer que não há ainda nenhuma Teoria da Consciência.