O sistema de saúde pública adotado no Brasil, dividido em níveis de atenção (com a ressalva que no Brasil o sistema inclui também o PSF - programa saúde da família - um misto dos sistemas vigentes em Cuba e no Canadá), já provou ser de longe o mais eficiente e barato, tanto que é adotado por vários dos países mais desenvolvidos e ricos do mundo. Enquanto isso, o sistema adotado pelos EUA se mostra caro, ineficiente e insustentável a longo tempo.
A idéia central desse sistema é que uma cidade seja dividida em regiões, e que haja uma unidade básica de saúde, com médicos, dentistas, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde responsáveis por aquela UBS e a região.
A UBS é responsável pela atenção primária a saúde e deve ser capaz de resolver cerca de 80% dos problemas mais prevalentes naquela comunidade. Apenas os casos que não podem ser resolvidos são encaminhados para serviços mais especializados e mais caros. Só isso já diminui em muito os custos com consultas, exames desnecessários (o que ocorre freqüentemente em sistemas como o dos EUA) e evita consumir recursos da atenção secundária e terciária.
Além disso, existem dois outros aspectos que são simplesmente impossíveis de fazer em uma saúde totalmente privada ou com sistemas de vouchers ou qualquer coisa semelhante.
O primeiro é a ênfase em medicina preventiva. Sai muito mais barato realizar exames de rastreamento, como o papanicolaou, colonoscopia, mamografia, por exemplo, do que ter que tratar um câncer com quimioterápicos caríssimos, fora os gastos com internação, cirurgias e outros. Sai muito mais barato diagnosticar precocemente e tratar uma diabetes melitus ou hipertensão arterial do que ter que tratar suas complicações, como cegueira, amputação de membros, infarto, acidente vascular cerebral, entre outras.
Quando se deixa a saúde somente a cargo do indivíduo (por exemplo, com vouchers), ele só vai ao médico quando estiver sentindo algo (as pessoas vão ao médico pelo sofrimento, não pela doença), o que em muitos casos significa pegar a doença em um estágio mais avançado, com tratamento muito mais caro e por vezes meramente paliativo. Assim, há o prejuízo duplo, pelo tratamento mais caro e pela diminuição da capacidade de trabalho, de produtividade, do indivíduo. Essa situação só pode ser combatida com um planejamento e execução de uma política de saúde pública voltada para a prevenção, o que só é possível em um sistema controlado pelo Estado.
O segundo ponto é a aderência ao tratamento. Não basta simplesmente diagnosticar uma diabetes ou hipertensão, por exemplo. Essas são doenças que exigem uma série de restrições, mudanças de hábitos e por vezes o uso contínuo de medicamentos. E o pior é que são doenças silenciosas. Ou seja, o indivíduo não sente absolutamente nada, mas é dito que ele tem que deixar de comer e beber uma série de coisas que ele gosta e ainda tem que deixar de ser sedentário e tomar remédio todo santo dia. Qual a chance dele seguir o tratamento se for na base do "se vira que o mercado é livre"? O sistema adotado aqui permite um maior acompanhamento e uma maior ênfase na necessidade de seguir o tratamento.
Por fim, deve ser ressaltado também que, principalmente nas comunidades mais carentes, raramente o problema é só a doença. Você dá um vale, o sujeito vai no médico que escolher e esse médico vai examinar e passar uma receita, mas como é um desconhecido não sabe o que está por trás daquela doença e que também interfere no tratamento. Ele pode estar desempregado, ou passando por dificuldades financeiras, com conflitos familiares, a filha adolescente está grávida, a mãe com Alzheimer, entre tantas outras situações que afetam a saúde da família como um todo. Nesse ponto, só um sistema como adotado aqui, pela maior proximidade e conhecimento da história familiar do indivíduo, permite uma intervenção mais eficiente no que for possível.
Claro, eu estou falando supondo um cenário ideal. A saúde pública no Brasil, mesmo onde a atenção primária com o PSF é adotado, é em geral muito ruim. Mas isso se deve a problemas crônicos da política brasileira, não do sistema adotado, que funciona muito bem em países como Alemanha, Inglaterra, Holanda, Japão, etc...