Autor Tópico: Ciência e método científico  (Lida 13464 vezes)

0 Membros e 1 Visitante estão vendo este tópico.

Offline Contini

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.610
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #25 Online: 18 de Abril de 2011, 21:30:26 »
Acho que a rigor, poderíamos chamar de ciência somente física, química e biologia

Tudo só aplicação da matemática com umas observaçõezinhas complementares.

Um pouco mais de respeito com a Geologia seria ótimo para a saúde dos foristas! :bandido:  :biglol:

Ué?! Geologia tem tudo a ver com física e química... É polivalente!!
"A idade não diminui a decepção que a gente sente quando o sorvete cai da casquinha"  - anonimo

"Eu não tenho medo de morrer, só não quero estar lá quando isso acontecer"  - Wood Allen

    “O escopo da ciência é limitado? Sim, sem dúvida: limitado a tratar daquilo que existe, não daquilo que gostaríamos que existisse.” - André Cancian

Offline Geotecton

  • Moderadores Globais
  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 28.345
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #26 Online: 18 de Abril de 2011, 21:33:30 »
Acho que a rigor, poderíamos chamar de ciência somente física, química e biologia

Tudo só aplicação da matemática com umas observaçõezinhas complementares.

Um pouco mais de respeito com a Geologia seria ótimo para a saúde dos foristas! :bandido:  :biglol:

Ué?! Geologia tem tudo a ver com física e química... É polivalente!!

Felizmente! :ok:
Foto USGS

Offline Feynman

  • Nível 32
  • *
  • Mensagens: 2.273
Re: Ciência e método científico
« Resposta #27 Online: 19 de Abril de 2011, 13:15:44 »
"Toda ciência é Física, ou mera coleção de selos".    :hihi:
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman


Offline Liddell Heart

  • Nível 26
  • *
  • Mensagens: 1.237
  • Sexo: Masculino
  • “É melhor reinar no inferno do que servir no céu”
Re: Ciência e método científico
« Resposta #29 Online: 19 de Abril de 2011, 14:00:23 »
Citar
Guia prático para a ciência moderna: – Se se mexe, pertence à biologia;
 – Se fede, pertence à química;
 – Se não funciona, pertence à física;
 – Se ninguém entende, é matemática;
 – Se não faz sentido, é economia ou psicologia.
"Onde mora a liberdade, ali está a minha pátria."
Benjamin Franklin

"Posso não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-la."
Voltaire

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #30 Online: 19 de Abril de 2011, 14:22:27 »
Eu mudaria: se ninguém entende, é física; se não tem aplicação nenhuma, é matemática*.






* Dada a ojeriza dos teóricos à matemática aplicada, que não consideram chique, mas "dessas coisinhas do mundo real... irrrrc!".

Offline Feynman

  • Nível 32
  • *
  • Mensagens: 2.273
Re: Ciência e método científico
« Resposta #31 Online: 19 de Abril de 2011, 14:24:47 »
Por que meramente aplicações da ciência, se em ambas se faz pesquisa científica original? E a medicina e a engenharia por acaso não usam o método científico?
Não. Medicina, engenharia e todas a áreas de conhecimento erudito aplicado (de boa qualidade e confiabilidade) utilizam-se de *produtos científicos* prontos e bem acabados. O método científico, a rigor, não é usado nem por cientistas. O método só é usado por quem não é cientista para fazer um pouco de alguma coisa que se possa chamar ciência.


Método científico não é usado por cientistas? Esqueceram de me avisar isso!
Para quem entende a improfi'ciência' de quem chame Leeuwenhoek e Pasteur, por exemplos, de micro(infecto)biologistas...

Não se preocupe, entre outros, os Bacons e, principalmente, Galileu, como exemplos, também não foram avisados. Eles (notadamente, Galileu) até tentaram avisar aos outros todos mas parece que, até hoje, o êxito não foi grande. Quase ninguém entendeu bem a coisa, talvez até por ser tão ridiculamente simples e, como disse o "sábio e poeta" Cazuza, há quem aprecie "fantasiar segredos no ponto aonde quer chegar". Cientistas não precisam fazer isso e, claro, por esta exata razão, não fazem mesmo.

Um pobre coitado chamado Popper, por exemplo, nem se fala! Este pobre diabo, totalmente imerso em seus pensamentos profundamente mágicos, nunca se cientificou da ciência, embora tivesse tido a chance. Fazer o que, né? C'est la vie.

Deixe-me esclarecer uma coisa para você, de modo bem direto e simples, como já fiz várias vezes aqui. Cientistas não podem depender de métodos e não dependem. Cientistas criam métodos que, na quase totalidade, é para uso de outros (não cientistas) e, os poucos métodos que criam para uso próprio, não são para finalidades direta ou objetivamente científicas. O "método científico" único e real, que todos aqui deve(ria)m saber qual é, não foi desenvolvido para ser usado por cientistas; o foi para tentar fazer com que outros compreendam o que um cientista faz, como faz. É óbvio que não funcionou. Por isso, retornou-se (continuou-se, na verdade) à filosofia. Todo método encerra uma regressão mesmo, visto ser privação de liberdade.


Falando seriamente para qualquer um que aqui chegue e que possa ter alguma chance de estar livre dos efeitos de nefastas influências, vou repetir o que já disse outrora: a principal característica de distinguibilidade que alguém "de fora" pode observar num cientista é a atemporalidade histórica. Essa característica evidencia o quanto o cientista prescinde de qualquer método. Cientistas criam métodos. Métodos não fazem cientistas. Quem não é cientista precisa de procedimentos pré-estabelecidos para "pensar", precisa do método. Se alguém pensa que cientistas só puderam existir depois dos Bacons, de Galileu ou, inacreditavelmente, Popper, precisa de socorro cognitivo urgente.

Cientistas, para tais serem, precisam estar livres do medo da coisa mais aterradora que ronda a mente -- a realidade, principalmente a referente ao que realmente somos. E basta esta liberdade para ser cientista.

Piadas à parte, parece-me que as psudociências se evidenciam como tal exatamente por este "medo", nestes moldes... em outras palavras, a pseudociência (algumas) pode ser até algo bem intencionado, mas que carece da liberdade e coragem para se renegar hipóteses profundamente associadas a um querer ser, ou seja, uma subjetividade sedenta de correlação com alguma coisa da natureza ponderável, aquela perscrutada de forma sincera apenas por cientistas. Acho interessante que a idéia de um "método científico" seja tão frequente entre cientistas-peixes (aqueles que nadam como ninguém, mas não sabem nada de hidrodinâmica)... quem dirá por não-cientistas.
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman

Offline Feynman

  • Nível 32
  • *
  • Mensagens: 2.273
Re: Ciência e método científico
« Resposta #32 Online: 19 de Abril de 2011, 14:35:47 »
A propósito dos assuntos dos últims posts, uma coisa que me incomoda é como a mídia epidérmica propala uma imagem de ciência essencialmente voltada à medicina e "pesquisas e criação de vacinas". Isto sem falar no vilipendiado início que sempre se repete nos telejornais: "cientistas decobriram uma substância que...". Não me admira, pois, a imagem pública de ciência que muitas vezes testemunhei, onde esta se resume a uma pessoa com jaleco branco segurando aquelas seringas engraçadas, colocando e tirando substâncias em um potinho, e "descobrindo" outras substâncias.
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman

Offline EuSouOqueSou

  • Nível 31
  • *
  • Mensagens: 1.991
  • Sexo: Masculino
  • Question not thy god, for thy god doth not respond
Re: Ciência e método científico
« Resposta #33 Online: 19 de Abril de 2011, 18:07:15 »
Citar
Guia prático para a ciência moderna: – Se se mexe, pertence à biologia;
 – Se fede, pertence à química;
 – Se não funciona, pertence à física;
 – Se ninguém entende, é matemática;
 – Se não faz sentido, é economia ou psicologia.

- Se não mexe, não fede, não funciona, ninguém entende e não faz sentido... é informática. :D
Qualquer sistema de pensamento pode ser racional, pois basta que as suas conclusões não contrariem as suas premissas.

Mas isto não significa que este sistema de pensamento tenha correspondência com a realidade objetiva, sendo este o motivo pelo qual o conhecimento científico ser reconhecido como a única forma do homem estudar, explicar e compreender a Natureza.

Offline Contini

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 8.610
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #34 Online: 19 de Abril de 2011, 18:08:19 »
Citar
Guia prático para a ciência moderna: – Se se mexe, pertence à biologia;
 – Se fede, pertence à química;
 – Se não funciona, pertence à física;
 – Se ninguém entende, é matemática;
 – Se não faz sentido, é economia ou psicologia.

- Se não mexe, não fede, não funciona, ninguém entende e não faz sentido... é informática. :D
Discordo, essa é a definição de religião...
"A idade não diminui a decepção que a gente sente quando o sorvete cai da casquinha"  - anonimo

"Eu não tenho medo de morrer, só não quero estar lá quando isso acontecer"  - Wood Allen

    “O escopo da ciência é limitado? Sim, sem dúvida: limitado a tratar daquilo que existe, não daquilo que gostaríamos que existisse.” - André Cancian

Offline Gigaview

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.604
Re: Ciência e método científico
« Resposta #35 Online: 19 de Abril de 2011, 18:36:39 »
Citar
Guia prático para a ciência moderna: – Se se mexe, pertence à biologia;
 – Se fede, pertence à química;
 – Se não funciona, pertence à física;
 – Se ninguém entende, é matemática;
 – Se não faz sentido, é economia ou psicologia.

- Se não mexe, não fede, não funciona, ninguém entende e não faz sentido... é informática. :D
Discordo, essa é a definição de religião...

 :histeria: :histeria:
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #36 Online: 20 de Abril de 2011, 01:10:53 »
Feynmann e Cientista,

Por favor, expliquem melhor como é que é isso dos cientistas serem livres do método científico. Não tem essa frecura toda de ter que se pensar numa hipótese refutável, é isso? O cara é bam-bam-bam e não precisa se ater a esses detalhezinhos, sendo agraciado com o conhecimento como que por revelação? Sendo este conhecimento algo superior, transcendental, além do alcance das pífias tentativas de confirmação ou refutação por reles humanos?

Offline Gigaview

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.604
Re: Ciência e método científico
« Resposta #37 Online: 20 de Abril de 2011, 08:12:27 »
Se você é um cientista que dedica a sua vida à medição da variabilidade de GeV e de multi-Tev de emissões de raios gama da nebulusa do caranguejo, aonde você aplica essa visão romântica do método científico?

« Última modificação: 20 de Abril de 2011, 15:47:52 por Gigaview »
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Mahul

  • Nível 17
  • *
  • Mensagens: 486
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #38 Online: 20 de Abril de 2011, 15:06:32 »
Citar
Guia prático para a ciência moderna: – Se se mexe, pertence à biologia;
 – Se fede, pertence à química;
 – Se não funciona, pertence à física;
 – Se ninguém entende, é matemática;
 – Se não faz sentido, é economia ou psicologia.
A-do-rei! :biglol: :ok:
Eu mudaria: se ninguém entende, é física; se não tem aplicação nenhuma, é matemática*.






* Dada a ojeriza dos teóricos à matemática aplicada, que não consideram chique, mas "dessas coisinhas do mundo real... irrrrc!".
Interessante observação. :ok:
Não gosto da direita porque ela é de direita e não gosto da esquerda porque ela também é de direita - Mestre Millôr

Deus seria reprovado em qualquer escola de engenharia - Paulo Francis

Só vou acreditar em socialismo no dia em que todo mundo puder morar em Ipanema - Grande Tom Jobim

Offline Feynman

  • Nível 32
  • *
  • Mensagens: 2.273
Re: Ciência e método científico
« Resposta #39 Online: 20 de Abril de 2011, 15:18:00 »
Feynmann e Cientista,

Por favor, expliquem melhor como é que é isso dos cientistas serem livres do método científico. Não tem essa frecura toda de ter que se pensar numa hipótese refutável, é isso? O cara é bam-bam-bam e não precisa se ater a esses detalhezinhos, sendo agraciado com o conhecimento como que por revelação? Sendo este conhecimento algo superior, transcendental, além do alcance das pífias tentativas de confirmação ou refutação por reles humanos?

Um pedaço de um artigo meu:

        É muito difundida, mesmo por professores de ciência (Fernández et al., 2002), uma visão empirista que tende a se tornar um apanágio da pesquisa científica, onde esta se resumiria, basicamente, à observação, experimentação e medição. Estes, após a aplicação do método científico, levariam então o cientista a formular suas leis. Ou seja, um papel praticamente nulo é dado à livre construção de hipóteses e teorias pelo cientista que, efetivamente, seria simplesmente um organizador de dados advindos da natureza.
        A concepção de que a ciência teria uma metodologia bem definida deve muito a Francis Bacon, para quem a perscrutação científica começaria com a pura observação, livre de pressupostos e preconceitos. Segundo Bacon, “o intelecto deve ser liberado e expurgado de todos eles, de tal modo que o acesso ao reino do homem, que repousa sobre as ciências, possa parecer-se ao acesso ao reino dos céus, ao qual não se permite entrar senão sob a figura de criança” (Bacon, citado em Silveira e Ostermann, 2002, p. 15). Apesar da eloqüência, estas palavras não encontram muito respaldo:

A observação não pode ser o ponto de partida para o novo conhecimento, pois observar implica dirigir a atenção para alguns aspectos da realidade. Desta forma, a observação pressupõe um sistema de expectativas, algo teórico que se antecipa e decide, a priori, em quais aspectos da realidade focar a atenção (Moreira e Ostermann, 1993, p. 114).

        Por exemplo, segundo o empirismo, Galileu teria concluído que todos os corpos caem com a mesma aceleração no vácuo, resultado obtido através de uma generalização de experimentos realizados em praça pública , como a célebre história da torre de Pisa. Mas um estudo mais aprofundado mostra que

a teoria dos movimentos de Galileu foi fortemente motivada por um problema teórico, qual seja o de dar suporte mecânico à teoria copernicana; os alegados experimentos, quando ocorreram, tiveram uma função diversa daquela propugnada pela história empirista (Silveira e Peduzzi, 2006, p. 36).

        Semelhantemente, os resultados negativos dos experimentos realizados por Michelson e Morley, sobre o vento de éter relativo ao movimento da Terra, costumam ser citados como decisivos para o descarte do éter e para os fundamentos da relatividade restrita (Silveira e Peduzzi 2006). Mas Einstein, que nem mesmo cita estes experimentos em seu artigo de 1905, onde são desenvolvidas as bases da relatividade restrita, adota a constância da velocidade da luz (supostamente obtida a partir dos experimentos de Michelson e Morley) como um postulado necessário à manutenção das leis do eletromagnetismo e da mecânica para diferentes referenciais. Ainda, para Einstein,

as bases axiomáticas da física não podem ser obtidas a partir da experiência, pois nenhum caminho lógico pode conduzir das percepções aos princípios de uma teoria. Os fundamentos de uma teoria científica são livres criações do espírito humano (Silveira e Peduzzi 2006, p. 40).

   É curioso que Michelson jamais tenha abandonado a hipótese do éter, apegando-se à idéia de que mesmo os resultados negativos de seus experimentos não tinham refutado sua existência. É digno de nota que, novamente,

a teoria da relatividade restrita foi motivada por um problema teórico: resolver uma inconsistência entre a mecânica e o eletromagnetismo. Os resultados negativos dos experimentos de Michelson-Morley, apesar de justificados teoricamente pela teoria de Einstein, não foram cruciais para a física clássica e, particularmente para Michelson (bem como para outros cientistas), não se constituíram em uma refutação da hipótese do éter (Silveira e Peduzzi 2006, p. 41).

        Segundo Lakatos, a relatividade restrita “predisse” e explicou os resultados dos experimentos de Michelson e Morley, não sendo obtida a partir destes. “Só então, vinte e cinco anos depois, veio a experiência de Michelson e Morley a ser encarada como “a maior experiência negativa da história da ciência”” (Lakatos 1979, p. 200). A visão empirista não é só difundida pelos professores: “esta visão de ciência vinculada ao aluno por autores e professores não é só deles: vem da própria ciência. Os cientistas, em geral, pensam que o conhecimento é tirado da natureza” (Moreira e Ostermann, 1993, p. 113). O que é resumido na provocativa sugestão de Lakatos de que “a maioria dos cientistas tende a entender um pouco mais de ciência do que os peixes de hidrodinâmica” (1979, pg. 182). Naturalmente, esta colocação precisa ser racionalizada com cuidado.
   Percebemos, então, como fica fácil perpetuar os mitos da história da ciência, não dando a devida atenção ao seu caráter epistemológico. É irônico que cada uma das principais características da atividade científica propaladas nos livros didáticos sejam altamente discutíveis. Segundo Moreira e Ostermann (1993, p. 113), são elas:

1. o método científico começa na observação;
2. o método científico é um procedimento lógico, algorítmico, rígido; seguindo-se rigorosamente as etapas do método científico chega-se, necessariamente, ao conhecimento científico;
3. o método científico é indutivo;
4. a produção do conhecimento científico é cumulativa; linear;
5. o conhecimento científico é definitivo.

   Como vimos, o método científico não começa pura e simplesmente com a observação livre de preconceitos. “Nem o mais puro, ou o mais ingênuo cientista, observa algo sem ter a cabeça cheia de conceitos, princípios, teorias, os quais direcionam a observação. O relato da observação também está impregnado de teoria” (Moreira e Ostermann, 1993, p. 113). O método científico também não apresenta uma série de estágios pontualmente definidos, nem um conjunto fixo de regras de procedimento.

“Fazer ciência é uma atividade humana, com todos os defeitos e virtudes que o ser humano tem, e com muita teoria que ele tem na cabeça. Conceber o método científico como uma seqüência rigorosa de passos que o cientista segue disciplinadamente é conceber de maneira errônea a atividade científica” (Moreira e Ostermann, 1993, p. 114).

   O método científico também não permite obter conhecimento simplesmente a partir de induções, uma vez que estas não validam enunciados universais. Todos os cisnes vistos podem ser brancos, mas isto não nos garante a brancura de todos os cisnes que existem (Popper, 1982). Ademais, observações de laboratório, que tão freqüentemente são usadas como símbolo da perscrutação científica, não permitem a obtenção de uma lei científica, uma vez que “um mesmo conjunto de pontos é compatível com um número infinito de funções” (Silveira e Ostermann, 2002, p. 23). As leis científicas são obtidas hipoteticamente com explicações muito mais abrangentes que a mera adequação com os dados de uma tabela. O método científico também não é cumulativo, no sentido de que o átomo atual não é uma simples evolução natural do átomo de Demócrito, e de que nosso universo atualmente conhecido é bastante diferente daquele pensado por Ptolomeu. Não houve um simples acúmulo de fatos, e sim uma constante alteração destes frente às novas explicações. “O conhecimento científico cresce e evolui não por mera acumulação, mas principalmente por reformulação do conhecimento prévio” (Moreira e Ostermann, 1993, p. 115). Finalmente, o conhecimento científico não é definitivo, como as considerações anteriores sugerem. “O conhecimento científico que temos hoje está baseado em modelos e teorias inventados e que podem estar equivocados ou apenas parcialmente corretos” (Moreira e Ostermann, 1993, p. 115).
   


FERNÁNDEZ, I.; GIL-PÉREZ ,D.; CARRASCOSA, J.; CACHAPUZ, A.; PRAIA, J. Visiones deformadas de la ciencia transmitidas por la enseñanza. Enseñanza de las Ciencias, 2002, 20 (3),  477-488.

LAKATOS, I. O Falseamento e a Metodologia dos Programas de Pesquisa Científica. In: I. Lakatos; A Musgrave (Org.). A Crítica e o Desenvolvimento do Conhecimento. São Paulo: Cultrix, EDUSP, p. 109-243. 1979.

MOREIRA, M. A.; OSTERMANN, F. Sobre o ensino do método científico. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v.10, n.2: p.108-117, ago.1993.

SILVEIRA, F. Lang. da; OSTERMANN, F. A insustentabilidade da proposta indutivista de “descobrir a lei a partir de resultados experimentais”. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 19, n. especial: p.7-27, jun. 2002.

SILVEIRA, F. Lang. da; PEDUZZI, L. O. Q.; Três episódios de descoberta científica: da caricatura empirista a uma outra história. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 23, n. 1: p. 26-52, abr. 2006.




   Popper, quando era professor de metodologia científica, costuma começar suas aulas assim: “Olá, serei seu professor de metodologia científica... só temos um problema: não existe uma metodologia científica” (Popper, “Autobiografia Intelectual”). O “Método Científico” acabou se tornando um apanágio onipresente da atividade científica, mas uma análise mais atenta mostra que um verdadeiro método científico está associado simplesmente à capacidade do cientista de discernir conhecimento justificado da hipótese injustificada. Neste sentido, concordo plenamente com o Cientista, quando coloca que o cientista não tem medo da realidade, no sentido de que suas conclusões devem, tanto quanto possível (e é aqui que podemos discutir muito mais pormenorizadamente sobre a atividade do cientista), perceber a improcedência de se sustentar uma hipótese que advém de sutilezas idiossincráticas sem um sincero compromisso de se correlacionar com a Natureza objetiva (aquela que, novamente, também pode ser discutida mais pormenorizadamente).
   Não existe um método científico. Existem, isto sim, procedimentos que o cientista realiza para a obtenção de conhecimento justificado. E estes procedimentos não são de modo algum enumeráveis, como se esperaria de um suposto “método científico”. Naturalmente, não podemos confundir ausência de método com ausência de princípios gerais norteadores.
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman

Offline Feynman

  • Nível 32
  • *
  • Mensagens: 2.273
Re: Ciência e método científico
« Resposta #40 Online: 20 de Abril de 2011, 15:38:51 »
Importante frisar que as "livres hipóteses" dos cientistas, citadas até mesmo por Einstein como a principal característica das gêneses teóricas, fundamentam-se e guiam-se por princípios gerais de correlação empírica e constantes avaliações de suas potencialidades heurísticas. Não é, pois, nada que se assemelhe às conjecturas subjetivas que chegam ao ponto de associar esta livre criação (que não é tão livre assim, importante dizer) a uma fé também, como descaradamente e desonestamente coloca John Lennox, quando do debate com Dawkins. Lennox definitivamente apresenta elementos argumentativos explicitamente esquizofrênicos ao fazer isto, por ser também (à época) professor de Oxford. Ao que Dawkins simplesmente rebateu "It's not!", visivelmente chocado por isto vir de um professor (Dawkins deve ter pensado: "Meu Deus!"  :D).
"Poetas dizem que a Ciência tira toda a beleza das estrelas - meros globos de átomos de gases. Eu também posso ver estrelas em uma noite limpa e sentí-las. Mas eu vejo mais ou menos que eles?" - Richard Feynman

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #41 Online: 20 de Abril de 2011, 22:39:51 »
Se você é um cientista que dedica a sua vida à medição da variabilidade de GeV e de multi-Tev de emissões de raios gama da nebulusa do caranguejo, aonde você aplica essa visão romântica do método científico?



Não conheço nada dessa área. Como é? Os cientistas dessa área podem proceder só tirando hipóteses de suas bundas e mantendo-as por bater o pé mais forte?

Offline uiliníli

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 18.107
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #42 Online: 20 de Abril de 2011, 22:47:28 »
Se você é um cientista que dedica a sua vida à medição da variabilidade de GeV e de multi-Tev de emissões de raios gama da nebulusa do caranguejo, aonde você aplica essa visão romântica do método científico?



Não conheço nada dessa área. Como é? Os cientistas dessa área podem proceder só puxando hipóteses de suas bundas e mantendo-as por bater o pé mais forte?

Não, eles só fazem medidas. Outro exemplo, um entomologista que se dedica a explorar uma certa região para descobrir novas espécies, onde ele aplica o método científico?

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #43 Online: 20 de Abril de 2011, 23:03:45 »
Eu li e reli o post do Feynmann e não consegui entendê-lo como algo além de que o método científico não é uma caricatura romântica hiper-ultra idealizada que se poderia ter do mesmo, mas uma série de "procedimentos que o cientista realiza para a obtenção de conhecimento justificado", algo que, acredito, para produzir esse resultado "conhecimento justificado", não deve poder fugir demasiadamente do que se costuma delinear nos "esqueminhas" populares de método científico: observações, hipóteses, refutação ou confirmação, eventuais ajustes, e etc. Sem romantismo sobre uma "observação pura" que não seria contestada nem pelos mais fervorosos niilistas e relativistas, e não livre de complicações no que concerne a "refutação ou confirmação". 

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #44 Online: 20 de Abril de 2011, 23:23:11 »
Se você é um cientista que dedica a sua vida à medição da variabilidade de GeV e de multi-Tev de emissões de raios gama da nebulusa do caranguejo, aonde você aplica essa visão romântica do método científico?



Não conheço nada dessa área. Como é? Os cientistas dessa área podem proceder só puxando hipóteses de suas bundas e mantendo-as por bater o pé mais forte?

Não, eles só fazem medidas. Outro exemplo, um entomologista que se dedica a explorar uma certa região para descobrir novas espécies, onde ele aplica o método científico?

Entendo. Um entomologista que se dedica a exploração de uma região para descobrir novas espécies não é nem um pouco mais "científico" do que o nobre e injustiçado criptozoologista que explora uma região atrás do pé-grande e faz o seu trabalho relatando as evidências encontradas e negligenciadas pela nomenklatura fanerozoológica. Realmente, o tal "método científico" é só um estorvo no avanço da verdadeira ciência e se tivesse sido sempre seguido a risca hoje ainda a Terra plana seria um fato, e os defensores de sua esfericidade, ridicularizados como aqueles que admitem a existência de espécies desconhecidas. Mas eles caíram, assim como caíram os fanerozoologistas fixistas, na primeira vitória da criptozoologia com Darwin e os paleontólogos. O avanço da ciência segue, mesmo apesar das barreiras de seus falsos defensores "metodológicos", que ainda confundem ciência com dogma. ::)

 :biglol:

...

Eu não sei se um entomologista que se dedicasse a explorar uma região para descobrir novas espécies, e o fizesse de forma que talvez se pudesse chamar meramente de "lógica" ou "não idiota", estaria "aplicando o método científico". Acho que estaria, ao menos no que concerne a parte de observação, sendo cuidadosa o suficiente, e um pouco mais até se partisse de uma hipótese menos trivial para uma área em particular.

Offline Gigaview

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 15.604
Re: Ciência e método científico
« Resposta #45 Online: 20 de Abril de 2011, 23:52:25 »
Se você é um cientista que dedica a sua vida à medição da variabilidade de GeV e de multi-Tev de emissões de raios gama da nebulusa do caranguejo, aonde você aplica essa visão romântica do método científico?



Não conheço nada dessa área. Como é? Os cientistas dessa área podem proceder só tirando hipóteses de suas bundas e mantendo-as por bater o pé mais forte?

Não...baseiam-se numa cadeia lógica de conhecimento que começou lá atrás, saído de uma sequência de milhares de bundas ao longo dos séculos que se dedicaram à aplicação do método científico  que se aprende nas aulas de ciências. Por isso. quando a hipótese não é inovadora e revolucionara ela tem fundamento nessa cadeia de conhecimento que pode dispensá-la da aplicação do método científico porque tem relação com o que já se considera conhecimento consolidado.
Brandolini's Bullshit Asymmetry Principle: "The amount of effort necessary to refute bullshit is an order of magnitude bigger than to produce it".

Pavlov probably thought about feeding his dogs every time someone rang a bell.

Offline Moro

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 20.984
Re: Ciência e método científico
« Resposta #46 Online: 20 de Abril de 2011, 23:58:31 »
Acho que para criar uma taxonomia valida do reino animal por exemplo, é necessário muito do método cientifico. Nao se espera que se encontre especializações mais antigas do que a hipótese corrente determina ou que animais sejam encontrados em camadas de calcário nao condizentes com sua idade. Nesse sentido, toda a taxonomia seria posta a prova do critério cientifico, acho eu.
« Última modificação: 21 de Abril de 2011, 00:03:57 por Agnóstico »
“If an ideology is peaceful, we will see its extremists and literalists as the most peaceful people on earth, that's called common sense.”

Faisal Saeed Al Mutar


"To claim that someone is not motivated by what they say is motivating them, means you know what motivates them better than they do."

Peter Boghossian

Sacred cows make the best hamburgers

I'm not convinced that faith can move mountains, but I've seen what it can do to skyscrapers."  --William Gascoyne

Offline Buckaroo Banzai

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 38.735
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #47 Online: 21 de Abril de 2011, 00:02:32 »
Se você é um cientista que dedica a sua vida à medição da variabilidade de GeV e de multi-Tev de emissões de raios gama da nebulusa do caranguejo, aonde você aplica essa visão romântica do método científico?



Não conheço nada dessa área. Como é? Os cientistas dessa área podem proceder só tirando hipóteses de suas bundas e mantendo-as por bater o pé mais forte?

Não...baseiam-se numa cadeia lógica de conhecimento que começou lá atrás, saído de uma sequência de milhares de bundas ao longo dos séculos que se dedicaram à aplicação do método científico  que se aprende nas aulas de ciências. Por isso. quando a hipótese não é inovadora e revolucionara ela tem fundamento nessa cadeia de conhecimento que pode dispensá-la da aplicação do método científico porque tem relação com o que já se considera conhecimento consolidado.

Como é que "ter fundamento nessa cadeia de conhecimento" dispensa da aplicação do método científico? Isso não é apenas o que se poderia chamar no esqueminha didático tradicional da ralé ignorante de baixo da torre de marfim de "partir de observações cuidadosas"? Elas dispensam ser refutáveis? Como se dá sua confirmação ou refutação? Há exemplos de trabalhos nesse campo que tenham sido considerados refutados? Isso ainda se dá sem ser pelo método científico?

Offline SnowRaptor

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 17.962
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #48 Online: 21 de Abril de 2011, 00:04:06 »
Esse "debate" só vai continuar se o número de bundas e cosias saindo delas diminuírem.
Elton Carvalho

Antes de me apresentar sua teoria científica revolucionária, clique AQUI

“Na fase inicial do processo [...] o cientista trabalha através da
imaginação, assim como o artista. Somente depois, quando testes
críticos e experimentação entram em jogo, é que a ciência diverge da
arte.”

-- François Jacob, 1997

Offline uiliníli

  • Nível Máximo
  • *
  • Mensagens: 18.107
  • Sexo: Masculino
Re: Ciência e método científico
« Resposta #49 Online: 21 de Abril de 2011, 00:05:57 »
De qualquer forma, tanto o entomologista quanto o astrônomo do Giga não estão seguindo à risca o que o Popper descreveu como método científico, eles não estão seguindo aquela sequência bem definida de etapas: "fazer observação, elaborar hipótese, fazer experimento, confirmar ou rejeitar hipótese."

 

Do NOT follow this link or you will be banned from the site!