O que observo aonde trabalho é que a margem de lucro precisa ser alta porque a eficiência das operações costuma ser altamente instável.
A falta de qualificação do trabalhador brasileiro torna qualquer trabalho uma roleta-russa. Desperdício é algo que ocorre demais aqui, e muito, mas nem sempre, porque é na sorte e sem controle. Em certos casos um trabalhador faz o serviço do jeito certo, mas não tá nem aí para entender como conseguiu fazer e não existem manuais de procedimento detalhados a respeito, aí passam-se alguns dias e ele passa a errar de monte até conseguir dar sorte de acertar de novo. Nisso muita coisa se perde em alguns setores, depois em outros, intercalados por períodos aleatórios de eficiência alta, e os lucros precisam ser jogados lá no topo para garantir que a empresa sobreviva às marés de desperdício alto que surgirem. Aí, se surgirem, beleza, pelo menos a empresa sobreviveu, e se não surgirem, melhor ainda.
Exemplo concreto é quando o povo no meu serviço vai receber carga dos caminhões, e jogam as caixas todas de qualquer jeito. Se derem sorte da parte mais resistente da carga ser a primeira a ser descarregada beleza, mas quando a parte mais frágil vem logo no começo e o povo joga tudo de uma vez, lá se vai um monte de mercadorias quebrando.
Outro exemplo é alguma das pessoas que estiver fazendo o serviço ser arrogante, e, devido à falta de procedimentos detalhados para os outros poderem contra-argumentar, ela obrigar os outros a fazerem o serviço de um jeito pior do que os outros fazem quando ela não está junto.
Nada adianta empresas assim serem enormes, terem dezenas e dezenas de filiais e milhões ou bilhões em caixa para investir, e serem completamente incapazes de prever quanto retorno realmente terão.
Outra área crescente é a de empresas de internet que importam através dos Correios, agindo como pessoas físicas. Elas nunca sabem quando os produtos vão ser taxados ou não, e quando ocorre taxação o valor é exorbitante. No final das contas, ou elas deixam os possíveis impostos por conta e risco dos clientes, ou acabam incluindo isso sobre o valor cobrado por todas as unidades dos produtos, obtendo assim um lucro completamente aleatório a cada venda.