Tivesses uma imagem (justificadamente) inadequada do que se quer passar, Fabi. Não há a intenção de propor que a teoria do Big Bang está "totalmente" errada. Até mesmo porque boa parte dos cosmólogos que aparecem são, eles próprios, grandes engendradores daquela. O que se propõe é que existem mais elementos a se debater e se efetivamente estudar, e de um modo totalmente justificado dentro do atual paradigma do modelo padrão da cosmologia. Entendo seu descontentamento com algumas imagens, e eu também tenho ficado muito assim nos últimos documentários que vi. Particularmente tosco e incompetentemente ilustrado é "O Big Bang de João Magueijo", apesar do conteúdo relevante. Mas tente discernir a edição daquilo que efetivamente é dito pelos pesquisadores participantes. E, em relação a estes, o documentário está muito bem provido. Valia só pelo depoimento de Roger Penrose. Este documentário não invalida, e nem tenta, em absolutamente nada a teoria do Big Bang. É um olhar além, e não contra.
Outra coisa, sobre a matéria escura. Deve-se ter um maior cuidado com "comprovações". É claro, existem muitas evidências de que nosso universo precisa conter este tipo de matéria, em função, por exemplo, da dinâmica rotacional galática, constatada como impossível diante da matéria efetivamente observada (as galáxias despedaçar-se-iam se não houvesse "algo mais" atuando gravitacionalmente). Contudo, não devemos, por isso, congelar nossa capacidade imaginativa (muito bem orientada e vigiada sob nossas metodologias científicas).
“não devemos excluir a possibilidade de que observações cosmológicas possam nos dizer algo profundamente original e inesperado sobre a física fundamental” (Longair, 1984, p. 330).
LONGAIR, M. S. Theoretical concepts in physics. New York: Cambridge University Press,
1984.
Fabi, naturalmente o modelo padrão da cosmologia está muito bem fundamentado e também corroborado (pelo menos quatro Nobeis concedidos a trabalhos exclusivamente direcionados a esta teoria). Contudo, isto não é um fim, nunca é, e nossa ciência sempre estará perscrutando novas possibilidades. Que englobem, ratifiquem, retifiquem ou substituam o que sabemos hoje. Parafraseando Dawkins, este é o maior espetáculo da Terra.