"O calor inciviliza.
Calor é coisa de pobre. Pobre gosta de calor. Pobre é burro.
O calor é brasileiro. Brasileiro é pobre, gosta de calor. Odeio brasileiro. Odeio carnaval, odeio muvuca em estádio de futebol, odeio pagode na praia, odeio suvaqueira alheia no ônibus lotado.
Odeio calor.
Adoro frio. O frio é europeu. Europeu é rico. Europa é fria. Europeu é inteligente. O frio produziu o pensamento ocidental, a alta literatura, as grandes artes plásticas, compositores eruditos geniais.
Ou, será que alguém acha que Joyce escreveu Ulysses de sunga, numa praia lotada, suor pingando nos manuscritos? Ou que Michelangelo pintou o monumental afresco do Teto da Capela Sistina com suor salgado saindo da testa e escorrendo pelos olhos?
Tô puto pra caralho com a alegria estampada na cara das pessoas no meio da rua, debaixo de um calor desgraçado. Odeio brasileiro. Brasileiro é alegre no calor.
“Moro num país tropical...” Tropical é o caralho.
Tropical é calor. Tropical deu em Tropicália. Tropicália é uma merda. Caetano é um filho da puta que finge gostar de calor, mas vai pra Europa curtir um friozinho maneiro. Desgraçado do Caetano. Vou dar uma porrada na cara desse tal de Caetano que ri igual brasileiro pobre.
Eu nasci pobre. Eu nasci brasileiro. Eu nasci no calor . Eu nasci burro.
Burro o suficiente pra não juntar dinheiro pra mudar de vez pra Europa.
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E, parafraseando o filósofo cristão São Tomás de Aquino ( nasceu em Paris):
"É impossível se exercer as virtudes do espírito sem um ar-condicionado de, no mínimo, 7.500 BTU’s!"
O calor inciviliza.
Não tô conseguindo raciocinar. Tô ranzinza. Tô com calor, MERDA!"