Vossa senhoria,você está confundindo ateísmo com ceticismo . O ateísmo(junto de seu irmão irracional,que é o anti-teísmo ) é apenas uma das formas que um individuo pode usar para rejeitar todo tipo de fé no sobrenatural
o ateísmo é muito mais do que apenas isto. O ateísmo é um conjunto de profissões de fé, até poderia ser chamado de religião.
A Declaração de Fé poderia ser a seguinte:
Eu tenho completa FÉ não-negociável nos seguintes princípios:
Vamos lá, então...
· A fé que a inteligência suprema do universo somos nós, seres humanos, consubstanciado na mente humana.
E quem disse que a inteligência suprema do universo (se é que exista tal coisa) é a humana? Quando muito podemos dizer que o homem é (talvez) a espécie dominante hoje na Terra ou possui uma consciência e um poder cognitivo maior entre as espécies do planeta. Contudo, não sabemos nem se a vida se resume ao nosso planeta (estatisticamente imorovável) como podemos nos alardearmos como inteligência suprema do universo? O universo é muito grande...
· A fé que há design na natureza são falsas.
Se você disser design como um projeto básico, então realmente existe um projeto na natureza. As estrutura que determinam um primata, como a presença de um polegar opositor, é comum a todos os primatas, bem como todos mamíferos possuem estruturas básicas como glândulas mamárias e pelos que são comuns (você nunca verá um mamífero com penas, por exemplo). Retrocedendo na escala evolucionária, verá que todos os cordados possuem uma coluna vertebral e enervação central como uma medula espinhal, denotando uma origem comum. Verá que nenhum animal possui cloroplastos, apenas plantas. Ainda retrocedendo mais, verá que todos os eucariontes possuem carioteca e células possuem um citoplasma, membrana e material genético. Isso mostra um "projeto" que seguiu uma forma original com pequenas modificações sucessivas e acumulativas que podem ser traçadas no tempo, tudo guiado por seleção natural (o que significa que nada é ao acaso, como se poderia pensar), mas de forma alguma consciente ou de uma maneira inteligente, que é demonstrado pelas falhas no processo, órgãos vestiginais e as próprias extinções que ocorrem de tempos em tempos. Porém nada disso se trata de fé, apenas a observação da natureza.
· A fé que a primeira vida evoluiu a partir de produtos químicos quentes na terra primordial
Quem disse que foi a partir de produtos químicos
quentes na terra primordial? De qualquer forma, a menos que você pré-suponha que a vida sempre existiu (que é o mesmo que dizer que não há a necessidade de uma divindade para a existência da vida), ela surgia a partir de matéria inanimada. No mito da criação judaico-cristão, por exemplo, Deus faz o homem a partir do barro. De qualquer maneira, existem outras hipóteses para a formação da origem da vida, como a pan-espermia (o que apenas transfere o problema de lugar). A favor da pan-espermia, contudo, foi observado material orgânico em estrelas e nebulosas. Em um experimento famoso de bioquímica, conseguiu-se a formação de aminoácidos. Talvez a melhor resposta para a origem da vida seja uma mistura da pan-espermia com a bioquímica, em que uma fornece os elementos para a outra. Antes porém, é preciso definir o que seria vida. Como você definiria vida? Pode parecer algo fácil de se definir, mas não é, já que, pelas definições atuais, um vírus pode ou não ser vivo. O que se dirá de cristais, príons e estrelas? Então não, não é uma questão de fé, mas da'observação de fenômenos naturais que ainda necessitam de melhor refinamento no modelo de descrição.
· A fé que o universo é uma auto-indução de ocorrência, ao acaso.
Claro não! Isso decorre da confusão com o termo acaso. Não é uma questão de aleatoriedade, ainda que ao nível quântico isso possa ocorrer (e é a própria base da MC, o princípio da incerteza). De uma maneira geral, não foi ao acaso que o universo tomou a conformação que se tem hoje, mas sim devido a toda uma cadeia de eventos que é regida pelas leis das física. Porém isso independe de um ser sensciente para que ocorra. Na verdade seria o contrário: se algo (ou vários algos) no universo simplesmente acontecesse ao acaso, desviando das previsões que nos dão o modelo padrão, então poderia ser indicativo de uma força mística desconhecida. Sabemos toda a cadeia de eventos que levam a formação de um buraco-negro. Se um buraco-negro simplesmente surgisse do nada, então seria algo estranho.
· A fé que um "multiverso" que não podemos ver é uma justificativa para a vida aleatória no universo.
Na verdade, um multiverso é apenas um dentre vários modelos cosmológicos (e confesso que não é a mais popular), mas não serve (e nem é seu objetivo) justificar a vida. É algo que se apresenta quando se observar as equações de modelos como as branas, por exemplo. O multiverso poderia explicar o comportamento de certas partículas subatômicas, como a'colisão da partícula com o seu duplo em outro universo. Realmente pode ser que nunca vejamos outro universo, porém se eles existirem podem ser inferidos por observações no comportamento de algumas partículas no LhC ou mesmo na observação do gráviton e das ondas gravitacionais. Mas existem outros modelos cosmológicos interessantes e mais populares como o universo oscilante e o loop quântico. Existem também modelos em que o universo sempre existiu até que houvesse algo que ocasionou a expansão original. Uma experiência interessante que foi bem sucedida há pouco tempo foi a captura de um fóton virtual do vácuo, tornando real. Interessante é que isso'poderia ser uma explicação para a origem da material inicial do universo. Mas uma coisa realmente interessante é entender qual a bronca com um multiverso, já que poderia ser uma explicação do por quê Deus não é visto (se localizaria no hiperespaço) e de para onde vão as almas dos mortos (atravessariam para outro universo. Isso abriria uma gama de lacunas que poderiam ser preenchidas.
· A fé que minha mente é um conjunto de mutações aleatórias, sem nenhum propósito real além da sobrevivência do mais apto. (A máquina de carne). Mesmo assim, é a inteligência suprema do universo.
Essa questão de inteligência suprema já foi respondida. É algo muito antropocêntrico da sua parte (não sei nem se poderia ser considerada a inteligência suprema da Terra..). A mente (ou a inteligência, que é o que você parece estar falando) é o resultado de mutações E seleção natural e o propósito dela foi garantir uma ferramenta de sobrevivência. Foi uma mente assim que permitiu que o H. Sapiens superasse o neandertal, por exemplo, mas, por outro lado, certas características permitiram que a inteligência pudesse se desenvolver (como um círculo virtuoso) como uma dieta rica em carne e o desenvolvimento de ferramentas, que levou a uma melhora do processo cognitivo.
· A fé que o cérebro e a mente são uma coisa, inseparáveis.
Não é uma questão de fé, mas de neurociência. Em estudos de traumatizados, lesionados e cirurgiados cerebrais pode-se observar a relação íntima de cérebro e mente. Há vários casos na literatura em que indivíduos assumem uma personalidade totalmente diferente da sua original após trauma cerebral, o que não deveria ocorrer se a mente fosse algo descolado do cérebro.
· A fé que não há inteligência como origem da informação contida no DNA.
Até porque existem falhas nas transcrições de DNA. É um erro também concluir que o dna surgiu pronto como está e não passou por um processo evolutivo a partir de estruras mais simples como o RnA. E é justamente a síntese proteica que vai permitir que o Dna vá conseguir se multiplicar. Como origem da informação, lembre-se que o dna se combina em uma sequência de aminoácidos ditados pelas leis da química e se você estabelecer essas leis em um programa de computador, acrescentando as leis de seleção natural, pode fazer uma simulação do processo de formão e evolução de uma molécula de DNA. E esse tipo de informação complexa pode ser obervado em outros exemplos da natureza: a formação de cristais, por exemplo.
· A fé que se eu não posso sentir ou observar Deus, ele não existe. (Nenhum existência metafísica).
Prefiro dizer que não se pode afirmar que exista ou não (ainda que as evidências apontem mais para a segunda opção), dado justamene ao caráter metafísico da questão.
· A fé que o empirismo é o único verdadeiro caminho para a abrangente Verdade e a Iluminação.
Isso não existe. Simplismente porque não há uma verdade abrangente ou absoluta. Todos os modelos de descrição da natureza são passíveis de críticas e se sustentam apenas enquanto as evidências apontem para isso.
· Fé em Evolução, que é a inquestionável, é inegociável verdade.
Vide acima. Nenhum conhecimento, a TE inclusive, é uma verdade absoluta, mas um modelo de melhor explica o fenômeno a que se propõe. Se a TE ainda persiste (com as atualizações e correções do modelo) é porque as evidências ainda a sustentam. Se amanhã você encontrar um mamífero com penas seria um belo golpe na evolução.
· Fé que, porque a evolução não é verdade negociável, a vida não tem sentido.
Vide acima. Quanto ao sentido da vida, no foco da espécie ele tem todo sentido e um propósito que é justamente a perpetuação da espécie. Em um foco mais individual, a vida tem um sentido subjetivo, variando de pessoa a pessoa de acordo com a visão de mundo de cada um e adquire contornos complexos de acordo'com as suas relações sociais.
· A fé que após a morte física, não há uma vida eterna.
O que não é uma proposta do ateísmo e nem possui uma relação direta. Existem ateus que não acreditam em divindades mas em uma além vida,'por exemplo. No budismo, que é uma religião ateia, na sua concepção tibetana, imagina um ciclo de vidas e renascimentos até que se atinja o nirvana. Por outro lado, existem religiões em que existe o conceito de divindade, mas sem o conceito de além vida. No judaísmo primitivo não existia o conceito de vida após a morte até o desenvolvimento da ideia do sheol, que, salvo engano, foi a partir do contato com outras culturas, como a babilônica. No cristianismo primitivo (e ainda em algumas denominações), também o conceito de morte e vida após a morte estava ligada diretamente ao advento. Sendo assim, a pessoa somente teria uma vida eterna (com a ressurreição da carne) após'a'segunda vinda de cristo e o apocalipse. Até então permaneceria morta.
o código de ética do Ateísmo é " faço o que eu desejo ". Na verdade, qualquer código que me beneficia , agora, neste exato momento é adotável. O código é o narcisismo total.
Na verdade deriva do contrato social como já foi abordado. De qualquer maneira, as discussões sobre a moral são anteriores'ao cristianismo e iniciam (de forma estruturada) na grécia antiga, então devemos supor que os deuses gregos derão a moral para eles? Toda sociedade na história possuiu um conjunto de valores éticos e'morais. Presumir que uma imteligência suprema é necessário para que se houvesse esses valores é o mesmo que presumir a existência de múltiplos deuses.
Os cientistas e filósofos famosos são, claramente, os sumos sacerdotes do ateísmo: Richard Dawkins, Hitchens, Stephen Hawking, Stephen J. Gould, Bertrand Russell, Theodore Dobzhansky, Carl Sagan, todos celebridades.
Que você está confundindo militantes com divulgadores de ciência. Se Dawkinsé um militante, o mesmo não pode ser dito do hawkins.
A ferramenta da evolução, além da dualidade do secularismo moderno tornou mais professores das escolas em evangelistas para o ateísmo. Os meios de comunicação de todos os tipos também são secularmente dualistas, e promovem a evolução não só, mas todas as formas de pensamento corrompido que contribui para a secularização.
Não se deve comfundir Te com ateísmo. Muitos biólogos evolucionistas são crentes e mesmo o Vaticano admite a tE. Quanto à secularização, é ela justamente que permite que haja a liberdade de culto. Em um Brasil menos secular, como no início do império ou na colônia, simplesmente não se poderia ter outra religião que não fosse a católica romana e era essa visão que era ensinada nas escolas.
A teoria da Evolução, sendo a única esperança para o ateu, é a mais santa de verdades absolutas e inquestionáveis. De fato, por meio da contradição e do paradoxo, o universo completamente relativista do ateu é interrompido por uma Santa, absoluta Verdade, inquestionável Inexpugnável: a Evolução.
Vide respostas acima. Porém, algo que talvez o surpreenda, alguns ateus simplesmente não aceitam a TE.
Então o ateísmo satisfaz os critérios para ser denominado de religião . Na verdade, é um ajuste até melhor do que algumas outras religiões, como o budismo. O ateísmo é a religião do " eu ", do narcisismo.
De certa forma, no tocante à religião, concordo parcialmente com você. Existem ateus que são religiosos, mas não significa que todos o sejam (imagino que a maioria não). Agora um pouco de evidência anedótica: dos ateus que conheci, a maioria tende a ser mais generosa com o próximo que as pessoas crentes mais religiosas. Imagino que a certeza da salvação tornem as pessoas mais egoístas. Já se você não crê que essas ações representem um crédito para a vida no além, essas ações passam a ser mais altruístas, já que não possuem a ideia de troca.