Isso lembra aquela cena do Tropa de Elite: corpo encontrado com tiro na praia, o aspira coloca homicídio e o coronel manda colocar afogamento. Aí o aspira fala que tem tiro no corpo e o coronel pergunta se ele é legista pra saber a causa da morte.
É desse jeito mesmo. Por exemplo, em um dia acontecem 5 roubos. Como administrar isso? Se fossem 5 roubos cometidos pelo mesmo sujeito dentro de um lapso temporal que dê a entender que foram atos contínuos um atrás do outro, se registra como crime continuado e voilá. Os 5 roubos viram 1 ou 2. E o milagre estatístico acontece. O detalhe é que o que define "mesmo agente autor" é o fato de todas terem ocorrido de moto, logo, deve ser o mesmo cara. Quem é o policial para decidir isso? Afinal, o supervisor sentado numa sala com ar condicionado a 50km dali disse que é, então, deve ser.
E isso é fato em todos os Estados e, creio eu, todas as áreas da administração pública. Geralmente ocorre quando o Executivo diz que quer uma redução em índices (saúde, educação e segurança geralmente são os alvos) e não oferece meios pra esta redução acontecer. Por exemplo, no ano passado, cerca de 4000 policiais se aposentaram no Estado. Neste ano, o número vai ser semelhante. Então, são 8.000 policiais a menos nas ruas e o pessoal do próximo concurso só deve tomar posse depois da Copa de 2014.
Então, se numa empresa você não tem efetivo nem logística, vai fazer o que? No Estado, a maquiagem começa aí, obrigando os servidores através de resoluções e memorandos completamente ilegais, a cumprirem determinações ridículas como abandonar viaturas com o giroflex (as luzinhas) ligadas em um centro comercial e colocar o policial a 2km dali, no policiamento à pé, porque a viatura tem poderes mágicos de prevenção ao crime. A parte irritante foi quando ocorreu um assalto a um comércio em frente ao local onde esta viatura estava e o comandante da unidade disse que era absurdo que o policial não estivesse ali e decidiu puni-lo por abandono de posto. Quando o punido então apresentou a ordem por escrito que havia recebido, foi arquivada a punição, mas ele foi transferido pro nariz de MG.
O resumo é: O discurso que vocês recebem do Estado (seja município, estado ou união) é completamente diferente daquele que é feito ao público interno. Para nós, sobra o "custe o que custar", até que o custo aparece e viramos bodes expiatórios. Os índices não demonstram nada. É patético ver gente trazendo estatísticas fornecidas por agências reguladoras que são vinculadas ao poder público e dirigidas por pessoas nomeadas em cargos de confiança, que podem ser retiradas a bel prazer do Executivo. TODAS, sem exceção, TODAS as informações foram maquiadas em algum ponto, por pressão aos servidores na ponta da linha ou por manobras das "mentes pensantes" no final. Não adianta informatizar se o humano responsável por inserir e gerar as informações ainda tiver interesse na melhora dos índices.
Nos últimos meses, quanto mais eu estudo sobre direito administrativo, mais eu me revolto com essa bagaceira.