Acreditar em Verdade Científicas, pra mim é tão perigoso quanto acreditar em verdade religiosas. Veja, Descartes prova a dualidade corpo-alma, ele prova como a ciência prova suas coisas, prova dentro de um sistema onde ali essas verdades fazem todo o sentido, mas que pra quem não compartilha das premissas do sistema não fazem tanto sentido assim. Como disse meu professor de Moderna, se você leu Descartes e não se convenceu da dualidade você não o entendeu, porque ele PROVA a dualidade, ao menos dentro do seu sistema. O mesmo pra ciência você precisa ter "comprado" suas premissas básicas para que todo o resto faça sentido. Com a religião é a mesma coisa.
Sempre há quem as questione, sempre pode ser as teorias que estejam erradas em algo. Veja a física tem um conceito de espaço-tempo que é refutado por Bergson que faz uma separação entre tempo, que ele chama de duração, e espaço que é algo independente do tempo, segundo ele. E ele prova isso. Você pode não acreditar na prova dele como ele não acredita na prova científica da junção espaço-tempo. E ai como ficamos? Eu tomo muito cuidado para assumir crenças para mim, e prefiro ser um cético de verdade ao achar que no fundo tudo pode ser e pode não ser.
Só pra tentar explicar mais ou menso o seu conceito de duração, vou colocar um trechinho de um trabalho que fiz na faculdade sobre isso. Obviamente deve estar cheio de erros conceituais e tal, mas vale pra tentar mostrar que o que parece certo para a ciência é questionado por alguns filósofos e quem se interessar pode ler este livro, por exemplo, onde ele prova essas coisas, ao menos dentro do seu sistema:
2) Ora, e o que é tempo? Ele pode ser considera um meio homogêneo, tal como o espaço? O que é Duração? Explore os argumentos apresentados por ele. E como chegamos a formar a ideia de um tempo homogêneo?
R:
Pela intuição, e somente por ela, podemos ter a noção de espaço que obedece a seguinte definição: um “meio vazio e homogêneo”. O tempo, como conhecido ordinariamente, também é homogêneo, só que este ao invés de vazio é indefinido. Há então duas formas de homogeneidade, uma preenchida de coexistência (espaço) e outra de sucessão (tempo). Mas se o principal objetivo da obra de Bergson é fazer uma separação entre a duração pura da mente e o espaço, então esta definição de tempo não é o que ele chama aqui de duração ou sucessão. Este tempo homogêneo nada mais é do que a duração manifesta no espaço.
No parágrafo 15 ele descreve como é a duração pura: “uma penetração mútua, uma solidariedade, uma organização intima dos elementos, em que cada um, representativo do todo, dele não se distingui nem se isola a não ser por um pensamento capaz de abstração”.
A duração é de ordem completamente distinta do tempo. Se o tempo é vazio e homogêneo, a duração é heterogênea, indefinida e opera pela sucessão contínua de estados que não desaparecem e muito menos coexistem, mas que se continuam numa interpenetração onde cada um deles reflete a totalidade da mente. Na duração nada permanece, ela é movimento, mas também nada desaparece, todo está contido nesta unidade que é constante vir-a-ser. Nota-se aqui novamente que ela é dotada por essência de uma natureza de síntese que a faz enxergar e contar a multiplicidade que de outra forma não existe na natureza, como percebemos pelo exemplo do relógio. Somos nós que guardamos manifestações instantâneas e não relacionadas e as sintetizamos numa ideia de tempo-hora, no mundo externo isso não existe, os ponteiros são não sequenciais e não obedecem qualquer ordem causal. Num momento o ponteiro está marcando uma determinada hora, noutro momento está marcando outra hora, quando está neste, nada nos garante que esteve de fato nos estados anteriores, apenas a nossa memória e nossa capacidade de síntese armazenam cada estado do relógio os sobrepondo-o de maneira a enxergarmos ai um contínuo.
Desta maneira, há como que duas espécies de duração. Uma pura, já descrita; e a outra espacializada. Esta segunda é o tempo homogêneo (o tempo-espaço científico), que ainda que necessário para nossa interação com o mundo, não condiz com a realidade essencial de nossa consciência.
Para tentar diferenciar melhor estas diferentes formas de se ver o tempo, utilizamos do exemplo dos pontos e da linha, do próprio Bergson. Ele nos fala de uma linha que se observada de perto nada mais é do que um conjunto de pontos ordenados, isso é espaço, esta linha pode ser medida, dividida, trabalhada como números; Já ao nos afastarmos destes pontos, eles vão se juntando, como que se colando uns aos outros até se tornarem uma linha contínua vista de longe, esta linha é o tempo-homogêneo, é fluxo e continuidade, mas também descontinuidade e conservação de um passado e um presente no espaço, já que vejo a linha toda em três dimensões; como ultimo exemplo, e de difícil representação, ele tenta nos mostrar como seria a duração pura ao tentarmos imaginar a visão de um desses pontos viajando dentro da linha numa bidimensionalidade onde se perdem de vista o passado, e tudo o que se enxerga é o presente em movimento constante.
Ao que parece, a saída da duração para a ideia de um tempo homogêneo se dá pela inflexão da mente-duração sobre si própria, num observar-se que lhe tira do fluxo da sucessão para já lhe dar uma ideia de conservação de si, tendo visão de seu passado e de seus próprio transcorrer, o que já pressupõe uma ligação e uma projeção desta duração no espaço externo a mente.