claro que sim. Eu posso não fazer o que eu quero e ainda tentar mudar o que quero ao longo do tempo.
Só que esse seu querer não veio do nada, não surgiu do zero, esse seu querer tem a ver com os estímulos ambientais que você recebeu anteriormente.
Se você tivesse recebido uma série de estímulos ambientais diferentes, por conseqüencia você teria um querer diferente. Quanto mais diferentes tivessem sido estes estímulos ambientais, mais diferente você seria e agiria.
Quer dizer que a liberdade só existe se vier do nada, mas como nada vem do nada, nem o nada existe, então a liberdade não existe... Há algo de absurdo nisto..., a liberdade ou as liberdades existem mesmo que venham de algo tal como tudo o que existe vem de algo e depende de algo.... Tem de ser no contexto do que existe, no mundo real, que a liberdade deve ser identificada na suas potencialidades e limitações....
Cara, vc entendeu errado. A liberdade não vme do nada. Ela surge a partir de uma negação de um impedimento. Tomando a classificação de Shopenhauer, é meio óbvio que esse impediemnto refere-se mais a liberdade intelectual e moral, pois a liberdade física é delimitada pela nossa própria constituição física.
Exemplo bem banal, vc está sem grana, falido, mas tem que pagar um tratamento de saúde caríssimo pra alguém que vc gosta ou pra vc mesmo. Vc tem uma formação moral que lhe diz que roubar é errado, o que impede sua ação de roubar pra conseguir pagar seu tratamento. Mas chega a um ponto que vc não suporta mais e nega esse princípio moral, logo vc está livre para roubar.
Entendi o seu exemplo. Mas ele se encaixa no que estou tentando comunicar. A chamada formação moral, é resultado de nada mais do que um processo de condicionamento ao qual o sujeito foi exposto em certos momentos da vida (normalmente quando bem novo/criança), ou seja é apenas mais um exemplo de estímulo ambiental externo (ou alguém defende que algum tipo de formação moral já esteja gravada nos genes ?). Pessoas expostas a diferentes processos de condicionamento de formação moral, acabarão por ter morais diferentes. A pessoa não cria isso na cabeça dela, e nem escolhe, ela é condicionada, ela é ensinada/educada (educação, num sentido amplo, nada mais é do que um processo/um tipo de condicionamento que visa obter determinados comportamentos). Esse condicionamento acaba por criar um censor interno no cérebro do sujeito ao qual ele nem se dá muito conta, e acaba posteriormente pensando que ele livremente escolheu (e escolhe) seguir aqueles princípios morais.
PS. Este censor interno é chamado de superego na psicanálise.
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Fiz uma busca rápida e encontrei um texto que explica um pouco sobre o superego:
O superego, por sua vez, é um depositário das normas e princípios morais do grupo social a que o indivíduo se vincula. Nele se concentram as regras e as ordenações da sociedade e da cultura, representadas, inicialmente, pela família e, posteriormente, internalizadas pela pessoa.
Podemos visualizar a dinâmica entre essas três instâncias da seguinte maneira: energias determinantes de desejos, originárias do id, devem chegar ao nível do ego para que este possa articular ações supressoras das necessidades então impostas. Se o ego irá dar conta de fazê-lo ou não, este é um problema que diz respeito às possibilidades reais de que dispõe o indivíduo. Não é esse o tema prioritário da teoria de Freud.
O foco de atenção da Psicanálise dirige-se à relação entre as energias oriundas do id e os impedimentos que o superego lhes impõe. A Psicanálise mostra que há uma vasta gama de desejos que são impedidos de chegar ao nível do ego, isto é, desejos cuja existência o “eu” sequer toma ciência devido à censura das barreiras morais internalizadas pela pessoa. O superego atua como protetor do ego, pois sem ele as pulsões tornariam insuportável a vida do indivíduo em sociedade.
Constitui-se, desse modo, uma região da personalidade habitada por pulsões reprimidas, que não são conscientes para o ego. Esta região é chamada inconsciente. Está no inconsciente tudo aquilo que o ego não sabe que existe, tudo aquilo que foi reprimido com base nas concepções morais internalizadas pelo indivíduo.
http://www.acervodigital.unesp.br/bitstream/123456789/140/3/01d08t01.pdf.