Não me lembro se ele propõe que além de um bônus social/de escola pública ele propõe também um racial adicional ou independente a esse. Chuto que pode ser que sim, especialmente se for adicional e não independente.
Conforme já coloquei anteriormente em outras mensagens no assunto, segundo estudos americanos (mas provavelmente algo similar ocorre no Brasil), comumente, negros e mulatos pobres são na verdade significativamente mais pobres do que brancos com uma mesma renda familiar, por menor acúmulo de riquezas, não só no núcleo familiar, mas tanto na família mais amplamente, como em toda sua "rede social". Tanto riqueza propriamente dita, como índices de educação inferiores dos pais, que contribuem para melhor desempenho dos filhos na escola. Se o critério econômico é considerado justo, esse critério pseudo-racial seria apenas uma extensão dele, uma aproximação conveniente a talvez ser muito difícil se fazer esse levantamento de (des)vantagens em nível individual.
Eu considero ainda que, apesar da imperfeição dessa aproximação, é capaz do ganho total para a sociedade ser muito maior que as perdas (considerando que o sistema só aprovasse alunos realmente qualificados). Mas acharia preferível se não houvesse rotulação racial nesses critérios, mesmo que fossem. Talvez algo como "morar em favela" fosse até mais preciso para esse tipo de consideração, como livre do discurso racial.
Utopicamente, todas escolas seriam iguais, tão boas quanto as melhores (ou melhores ainda, se é para sonhar mesmo) e então esse tipo de coisa não seria necessária, já que todas desvantagens de background familiar desapareceriam, com as notas sendo praticamente um "fenótipo" do aluno.
Mas "melhoras no ensino" nunca chegarão a isso, ao mesmo tempo em que "melhorar o ensino" não é política mutuamente excludente a ter políticas dessas. Pode-se Deve-se muito bem melhorar o ensino, mas isso ainda ajudaria a aperfeiçoar a "meritocracia" nesse sentido maior que "obtido de forma legal", mesmo se imaginássemos que magicamente as escolas públicas (ou público-privadas via vouchers) se tornassem magicamente (mas realisticamente) razoáveis/"boas"/"muito boas" de um dia para o outro.
Mesmo que elas se tornassem hoje escolas "boas", continuaria a haver escolas melhores que essas, e as outras vantagens adicionais dos alunos dessas escolas (como escolaridade dos pais), e junto essa diferença objetiva de capacitação/dedicação entre os alunos, não capturada apenas na nota. Acabam sendo algo um pouco como aquelas roupas de "pele de tubarão" para natação...
Uma contra-argumentação que já vi é de que se consideramos o esforço, então temos que deixar retardados ineptos entrarem nas faculdades, porque mesmo para conseguirem tirar apenas "nota 0.5" pode ser um esforço incomparável ao de alunos não-retardados. Bem, esse é um contra-argumento retardado e similarmente acho que não é um investimento razoável dedicar atenção a ele aqui, precisaria também de atenção especial em um ambiente mais preparado para lidar com quem tenha essa limitação.
Mais razoável, e para o qual não tenho "solução" perfeitamente imaginada (como para qualquer outra coisa, na verdade), é se ter em algum momento um sistema de incentivos "negativos" para alguma coisa, "punições" para o progresso profissional ou acadêmico. Ainda assim eu acho que é provavelmente algo exagerado na maior parte do tempo, devem ser mais ou menos raras as situações em que as pessoas preferem empobrecer ou não-enriquecer um pouco só pelos "descontos" a uma faixa de renda inferior serem muito atrativos. Acho que provavelmente passada a dependência de coisas como bolsa-família, isso deve desaparecer.
Nunca tinha ouvido falar sobre esse sistema de classificação/avaliação. Não tenho opinião ainda. Não sei se se encaixa muito no tema de "cotas" como alternativa a isso ou a "bônus", já que, não me parece ideal para um processo seletivo/eliminativo ante a vagas reduzidas, que deve precisar de alguma forma de desempatar mais "milimetricamente" os candidatos, enquanto não houver vagas para todos "aptos" (que possivelmente seria o ideal, sem maiores considerações sobre como seria feito e etc). Se fosse algo assim como critério para bolsas, ou mesmo cotas, acho que talvez até se tivesse um incentivo a notas baixas, análogo àquela história fictícia das "notas comunistas".