Olha, sinceramente, eu não sou da área e portanto não me sinto preparada para aprofundar muito, mas sou uma entusiasta da ciência e me interesso pelo assunto, e por isso acompanho alguns blogs e páginas.
Estudos em genética do comportamento evidenciam que quase todo comportamento tem influência genética, então porque o comportamento de gênero também não teria essa influência?
O Eli Vieira é um biólogo que volta e meia aborda o tema, gosto de ler seus textos e consultar os papers que ele disponibiliza na página pessoal dele:
"Em quantas gerações a seleção pode levar a comportamentos diferentes? 30, se estivermos falando de comportamento de movimentação em campo aberto de camundongos, como foi feito no estudo de John DeFries e colaboradores em 1978, um dos maiores estudos de seleção de comportamento até hoje.
Uma das grandes descobertas da genética do comportamento é que praticamente todos os comportamentos têm alguma dose de participação genética. Essa participação é medida, em estudos iniciais, geralmente pela proporção da variação atribuível à herança genética em relação à variação total, conhecida como "herdabilidade". Até hoje, inclusive em estudos com humanos, não foi descoberto comportamento com herdabilidade 0%, mas também não há descrito qualquer comportamento com herdabilidade 100% - comportamentos são fenótipos que envolvem sempre inflência ambiental, variando de comportamento para comportamento. Uma das maiores medidas de herdabilidade de comportamento em humanos é a do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade: acima de 70%.
Como há base genética nos comportamentos, eles podem ser alvo da seleção natural e outros processos evolutivos, como todas as outras características dos animais. No experimento de DeFries, houve seleção artificial em duas linhagens de camundongos em direção a cada vez mais atividade em campo aberto (ou seja, sempre que nascia uma ninhada de roedores, escolhiam os mais ativos para procriarem); em outras duas linhagens houve seleção em direção a cada vez menos atividade; e os pesquisadores deixaram os camundongos cruzarem aleatoriamente entre si em duas outras linhagens, como controle do experimento.
30 gerações depois, os pesquisadores chegaram a três grupos bastante distintos quanto ao comportamento sob seleção."
http://link.springer.com/article/10.1007%2FBF01067700
Sobre o estudo com os bebês, acabei colando o link errado (deve ter sido o sono, sorry! rs). Na verdade, o texto traduzido pelo blog do Eli que eu queria colar era esse (
http://xibolete.uk/neurossexismo/ ), o que menciona a tal pesquisa feita com bebês recém nascidos, da qual o psicólogo Simon Baron-Cohen participou e publicou a respeito e seu livro "The Essencial Difference". Esse texto é uma Resenha crítica, escrita pelo próprio Cohen, sobre “Homens não são de Marte, Mulheres não são de Vênus: Como a nossa mente, a sociedade e o neurossexismo criam a diferença entre os sexos”, de Cordelia Fine.
Ah, sim, mas acrescento também que não li o livro do Cohen, e tenho minhas dúvidas sobre a metodologia usada nessa pesquisa, mas parece que ele também traça algumas hipóteses a partir disso sobre o porquê é maior a incidência de autismo em meninos, bem como outras diferenças cerebrais que encontramos entre os sexos e que não poderiam ser meros constructos sociais. Além do Simon-Baron Cohen, Eli também indica a leitura de Melissa Hines e de Larry Cahill, os quais eu também não li e por isso pouco posso opinar. rs
Além disso, também percebo que existem outros estudos que mostram diferenças cerebrais em transsexuais, de maneira que "as mulheres transexuais se assemelham mais às mulheres cissexuais quanto a certos núcleos do hipotálamo do que a homens cissexuais."
https://www.scientificamerican.com/article/is-there-something-unique-about-the-transgender-brain/Se rolar a barra até o fim, vai encontrar vários links de papers interessantes:
http://blog.elivieira.com/tag/genero/Em suma, pelo o que tenho lido por aí, estudos existem para todos os gostos, como sói acontecer. rs Algo já esperado em se tratando de um assunto tão polêmico cuja área ainda é pouco conhecida pela neurociência. Ademais, gênero é um assunto bem complexo, pois somos seres biopsicossociais, isto é, biologicamente moldados para a cultura e culturalmente moldados em nossa biologia. Por isso, ao meu ver, não é correto reduzir a um determinismo biológico (conforme pretendem alguns conservadores que negam a plasticidade comportamental) e nem a um determinismo social (conforme pretendem os defensores da teoria queer, "genderfluid"/"não binários"), visto que a composição do gênero é multifatorial. E por isso eu acabo desconfiando de estudos como esse (
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1053811915007697 via
https://netnature.wordpress.com/2016/10/30/masculinofeminino-com-diferencas-cerebrais-registros-amplos-nao-dizem-isto/ ), que se apressam demais em dar um veredicto final apenas porque analisaram o tamanho e a comunicação dos hipocampos, quando em contrapartida temos tantas outras evidências sobre a existência de diferenças cerebrais, ainda que não sejam determinantes. Enfim, acho que não precisamos negar a biologia para reconhecer que existem construções sociais de gênero.