Pois bem. A ciência pode mostrar que a mente é fruto da matéria? Como ela explica, por exemplo, que uma mente possa ter imaginação? O que é a imaginação? Se eu sou meu cérebro, tudo o que penso deveria já estar em meus neurônios ou provir de combinações de ideias já existentes em mim e captadas do mundo. Por exemplo, eu já vi um cavalo, eu já vi coisas da cor laranja, e já vi aves.
Esse é um exemplo bastante ruim para o "problema da mente". Você pode inventar um programa criativo. Criatividade é (ou pode ser) desmontar, modificar e combinar coisas de forma diferente, não tem nada de nisso que realmente exija algo além do material, ao menos não mais para nós do que para um computador. A nossa criatividade é "superior" à do computador mas não de maneira suficiente para invalidar a analogia.
A vasta maior parte do que a nossa mente faz é algo "não extraordinário", que se poderia imaginar que um robô fizesse. É o que se chamam em filosifia da mente de "problemas simples" da consciência (embora "simples" seja um tremendo de um exagero). O único problema que suscita problemas de explicação materialista é o chamado "problema duro/difícil" ("hard problem") da consciência, a experiência subjetiva. Não se entende ainda como isso surgiria de processos neurofisiológicos. Se estuda os correlatos, mas ainda não se entende bem o que está havendo.
Uns pensam que a experiência subjetiva é ou poderia ser até algo "desnecessário" para a realização daquilo tudo que o cérebro faz, e surpreendente por isso mesmo. Outros supõem que não, que é algo inerente/"sinônimo", e há até aqueles que acreditam que nem bem existe um problema/algo desconhecido a ser entendido/explicado, o que eu particularmente penso ser simplesmente uma completa confusão sobre o assunto. Mas eles pensam que esse é o caso comigo e com os outros, então estamos quites.
Então posso imaginar, por uma colagem a ideia de um cavalo alado laranja... Enfim... Mas como a mente, isso é exemplo de Descartes, pode ter ideias de coisas que não estão na matéria e ele não contem em si, no seu cérebro. Por exemplo, a eternidade existe para um observador humano? Como um ser finito, de num mundo material todo finito, pode conceber por abstração a ideia de infinito? Como pode conceber a ideia de atemporalidade, ou sei lá, vacuidade budista se tudo no universo é espaço-tempo? Como a mente, a partir de si própria, sendo matéria cria essas coisas?
Isso são conceitos. Acho que conceitos são códigos, ou códigos dentro de códigos, algo assim. Novamente não acho que é o tipo de coisa mais adequada para ilustrar o problema, acho que nem há bem problema algum aqui. Jerry Fodor talvez discorde, ele tem a noção meio excêntrica de que todos os conceitos são inatos, não criados. Daí isso talvez tenha algo a ver com a natureza da realidade, não sei. Ele é anti-darwinista, então nada é inesperado.
Existem infinitos exemplos para nos mostra que essa hipótese de uma universo materialista não consegue explicar a mente.
O problema é que nenhuma outra também explica nada. Você pode dizer que o universo é "mental" ou dualista, e continuamos sem entender nada. Não vem nenhum conhecimento/entendimento embutido nisso, é só uma taxonomia que talvez nem faça sentido.
Vamos lá então, se a hipótese do mundo materialista afirma que mente é matéria, ela deveria seguir também a lei da inercia o que não se observa. Um objeto na matéria, permaneceria imóvel e inalterável indefinidamente, já se a mente se apega a um objeto mental como uma sensação de dor, esta crescerá sobre si própria até se tornar insuportável.
Mas isso não tem nada a ver com nada. Não faz sentido você falar em "inércia" para sensações/percepções, não tem porque esperar que essas coisas fossem "objetos" físicos, mesmo sendo totalmente materialistas. É meio como dizer, "se na verdade todos os átomos tem em sua camada a eletrosfera, e a eletricidade é feita de elétrons, então tudo deveria dar choque elétrico na gente, até nós mesmos". Não sei se é bem a mesma "categoria" de erro, mas você está tentando usar conceitos/explicações de um "nível baixo" de fenômenos para coisas de "níveis altos", o que na maior parte do tempo só pode se dar metaforicamente. Quando você diz que o "povo é inerte, não faz nada a não ser que seja empurrado", isso é uma metáfora, não física, e assim quando alguém é mais "entusiasmado", isso não é uma "violação da inércia".
O fenômeno físico da inércia vai se manter verdade no nível de partículas nos neurônios, sem qualquer violação, nada se movendo "do nada" ou qualquer coisa do tipo. Eu não sei qual é o correlato neuronal da dor, mas ele vai estar agindo de acordo com a inércia e tudo mais da física, muito embora esse "nível de explicações", já esteja um ou outro degrau abaixo das explicações neurofisiológicas, não seja comumente usado, acho.
Outro exemplo dele é a reversibilidade do movimento da matéria, todo corpo afetado por uma força pode se mover de A para B e se afetado de novo, pode retroceder no tempo, voltando de B para A, estando exatamente igual. Na mente não existe voltar no tempo, um determinado objeto mental, ao sair da mente nunca mais voltará, porque quando voltar já não está igual. A mente é memória, ou tempo, como ele diz, ela cresce sobre si mesma, cada pensamento que temos mudou o todo da consciência, ela é conservação, ela não retroceder jamais no tempo como a matéria pode.
Um "objeto mental", do ponto de vista de que a mente é produto do cérebro, não é algo que existe literalmente. É uma representação, como um texto, ou como um vídeo, ou um jogo 3D. Ao mesmo tempo, os estados mentais não podem (absurdamente improvável) se repetir exatamente, não precisa ser algo "imaterial" ocorrendo para explicar isso... contestando apenas minimamente o que poderia ser disputado praticamente em todas as afirmações...
Já todos esses problemas desaparecem se entendermos que a realidade é mental. Temos provas de que a mente pode fantasiar, pode sonhar, pode criar "espaço" como ocorre no sonho, então esta materialidade e este espaço que observamos no mundo real podem não ser mais que os pensamentos de uma mente.
Mas aí o seu último argumento seria inválido, se contradiz. Seria esperado que os objetos materiais pudessem se comportar tal como seus "objetos mentais", e se os primeiros podem "voltar no tempo", e os mentais não, então o mundo teria que ser material...
Mas não acho que esses raciocínios tenham qualquer sentido ou relevância... não custa nada apontar essas contradições mais flagrantes também...
Essas primeiras questões são respondidas pela hipótese mental, logo ela é a hipótese mais simples. Sabemos que algo existe, porque sabemos que somos algo, agora se esse algo é matéria ou mente não sabemos ao certo, apenas mostrei com esse primeiros exemplos que a hipótese da mente é mais simples e mais provável por não criar o grande abismo que é a explicação da coexistência aparente entre mente e matéria.
Quais "primeiras questões"? Simplesmente não vi nada que seja minimamente "respondido". Se você acha que ao supor que a realidade é "mental" está "respondendo" qualquer coisa, isso se dá apenas por definir como algo que não requer explicação.
Tem a mesma validade eu dizer que tudo é material, inclusive a mente. A mente são "propriedades fundamentais" do universo, e logo, não requerem ser explicadas, está tudo resolvido.
Eu prefiro essa linha de "explicação" por não criar toda a confusão semântica resultante da realidade ser "mental", e termos dentro dela outras "ficções mentais". É meio como fossemos chamar vigília de sonho, e então teríamos os sonhos acordados que não são o que normalmente se quer dizer por sonho acordado, e os sonhos quando dormimos no sonho acordado, e etc. Todo esse problema terminológico inútil.
Outro problema que poderíamos pensar, é aquele que já fiz aqui sobre a pergunta de como o universo sabe como agir? Como a gravidade "sabe" como deve agir?
E como aquilo que sabe algo, sabe saber?
E isso, como sabe saber saber? Não saber o que sabe, mas saber saber...
...
Se o universos é só material, a ciência deveria demonstrar onde é na própria matéria que estão armazenadas esses dados. Pensem comigo, se você afirma que o próprio universo é as suas leis, que elas não precisam estar armazenadas num suporte físico como informação, então você já aceitou uma ideia de imaterialidade no universo, você já aceitou que uma partícula SABE o que deve fazer e como agir. Que a luz SABE em si, quando deve se comportar como onde e quando se comportar como partícula. Ou seja, já aceitou que o mundo é mental.
O que você está falando aí é praticamente apenas dando um comportamento como propriedade intrínseca de uma partícula ou sistema, mas chamando isso de mental. O que pode ter uma "carga" epistemológica um pouco maior do que só falar em termos de "propriedade fundamental" do sistema não incluindo "mente" e "saber", por que tais termos meio que sugerem uma noção meio como de um átomo com uma carinha feliz para um livro da primeira série, e átomos que querem sair correndo da bexiga cheia porque lá está muito apertado (com carinhas de incômodo, feito pessoas espremidas num ônibus lotado).
Na melhor das hipóteses é um sinônimo com uma terminologia inapropriada e confusa, na pior das hipóteses, "falácia patética"/animista, algo menos parcimonioso.
As leis do universo seriam a pura manifestação dessa mente. Mas se você achar que essa explicação é meio mágica e que as partículas não podem SABER o que fazer, então você tem que demonstrar onde estão armazenados os banco de dados do universo, ou seja em que meio estão armazenadas estas informações físicas nos próprios corpos para eles saberem como agir. Onde está o "DNA" de um átomo para ele saber como agir, se ele em si sendo pura matéria não pode saber isso...
Você está partindo dessa noção arbitrária da necessidade de um "banco de dados", e que no fim das contas te levaria a uma numa recursão infinita. Porque então você perguntaria, "como o "DNA" do universo diz para o átomo como ele agir? Como o átomo "entende" como ele deve agir?"
Agora se o universo é mental, então podemos dizer de certa forma que o átomo SABE como agir, que isto não está nele em forma de informação porque ele não é pura matéria, ele é algo que está além, ele é mente, ele é vontade...
Mas onde está a vontade do átomo? Nos elétrons? Ou os elétrons tem vontades independentes? No próton? No neutron? Nas combinações de acordo com a tabela periódica? Como essas combinações determinam essas vontades/saberes?
E se ele não tem vontade mas é um ESCRAVO dos átomos vizinhos numa molécula? Mas como isso se daria, como é que o átomo ou subpartícula vizinha SABE o que a outra quer? E por que ela obedece?
E se nenhuma "partícula" tem vontade, mas todas e seus movimentos são imaginação de acordo com a vontade do UNIVERSO, que tem uma só vontade? Mas onde está a vontade do universo? Como o universo consegue funcionar de acordo com a própria vontade? E se o universo tem movimentos involuntários espasmódicos? E se ele tem múltiplas personalidades? Ou, o extremo oposto. E se o movimento de cada partícula subatômica é na verdade o resultado das vontades de seus habitantes, numa eleição democrática? E se cada partícula subatômica é na verdade todo um outro universo com infinitas vontades de infinitos seres, e esse por sua vez também constituído de infinitos universos? Poderia a vontade do universo ser uma e dividida em infinitas? Ou haveriam apenas infinitas vontades não unificadas em uma só, mas apenas coexistentes num plano de realidade mental?
Etc. E põe etc nisso...
Você não "explica" nada com isso, só cria um cenário de desenho animado.