É que esse desenrolar não é intrínseco. É mais complicado, na verdade, do que apenas necessidade de se adaptar ao ambiente. Assim funciona a adaptação por seleção natural, que é um processo cego. Mas a dinâmica de transformação do meio, e até da sua própria espécie, do ser humano é diferente e provavelmente qualquer outra espécie inteligente apresentaria um padrão semelhante.
Tanto não é intrínseco que em ambientes semelhantes, ou até no mesmo ambiente, nós encontramos povos em diferentes estágios de desenvolvimento. Na África subsaariana havia desde povos vivendo ainda no período neolítico até civilizações com tecnologia agrícola, escrita, que construíam cidades e monumentos, forjavam metais.
Esse processo de desenvolvimento tecnológico é bastante complexo, atrelado a tantos fatores que contribuem dentro de um padrão caótico, que não pode ser previsível. A civilização chinesa, por exemplo, já esteve muitos séculos adiante de qualquer outra mas não passou pelo estágio do Mercantilismo que levou ao moderno capitalismo, sendo que este, por sua vez, se constituiu por natureza em uma força propulsora de inventividade. Historicamente, se você analisar direitinho, vai constatar que estas discrepâncias ocorrem também devido a causas fortuitas. Muito mais que por necessidades adaptativas diretas.
Basicamente você está insistindo em uma teoria antiga, já desacreditada, de que, por exemplo,
culturas em lugares frios vão se desenvolver mais do que culturas de povos tropicais. Justamente
porque em ambientes frios as necessidades adaptativas requereriam soluções mais complexas. Bom, isso não se verifica na realidade: durante a maior parte da existência do Homo Sapiens os povos da Europa não foram os mais avançados tecnologicamente. Onde surgiu a agricultura, as primeiras cidades, a escrita, para ficar em alguns exemplos? Já existiam na África muito antes de serem conhecidas dos europeus. Note-se ainda que os esquimós viviam com mais simplicidade até que os índios que você usa como exemplo.
Basicamente porque a inventividade de uma mente com poderosas capacidades cognitivas não é determinada, predominantemente, por simples necessidade adaptativa. Isso tem mais a ver com adaptações evolutivas como as que produzem colmeias ou teias de aranha. Porque a "mente" da abelha é tão responsável pela invenção de uma colmeia quanto é pela invenção do ferrão. Não tem nada a ver com o cérebro da abelha, que ela nem possui.
O que eu disse é que para que CÉREBROS desenvolvam tecnologias complexas, precisam também ser complexos. Nem daqui a 300 milhões de anos o cérebro de um chimpanzé vai inventar um arco e flecha, embora, no ambiente dele, esta pudesse ser uma ferramenta tão útil como foi para nossos antepassados humanos vivendo naquele mesmo ambiente.